Tempos da Ignorância
“... Muito se pedirá
àquele a quem se tiver muito dado, e se fará prestar maiores contas àqueles a
quem se tiver confiado mais coisas.
“...
Somos nós, pois, também cegos? Jesus lhes respondeu: Se fôsseis cegos, não
teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado
permanece em vós.”
(Capítulo18, itens 10 e 11.)
Lucas relata em Atos dos Apóstolos a
seguinte orientação de Paulo de Tarso: “Deus não leva em conta os tempos da
ignorância”. (1) Em outras oportunidades, confirmou também que “muito se pedirá
àquele que muito recebeu”. (2) quer dizer, o agravamento das faltas é
proporcional ao conhecimento que se possui.
Compreendemos, dessa forma, que somos
todos nós protegidos pela nossa “ignorância”, pois somente seremos avaliados
pela Divina Providência, de conformidade com as possibilidades do “saber” e “sentir”,
isto é, segundo a nossa maneira de ver a nós próprios e o mundo que nos rodeia.
As leis espirituais que dirigem a vida
são sábias e justas e adaptam-se particularmente a cada criatura, levando em
conta suas individualidades.
O eminente psicólogo e pedagogo suíço
Jean Piaget, responsável pela teoria de que o desenvolvimento das crianças
propicia seu aprendizado, dizia que elas são diferentes entre si, que cada uma
tem seu jeito de crescer e de se realizar como indivíduo, e que todos poderíamos
ajudá-las nesse crescimento, porém nunca impondo formas generalizadas e
semelhantes.
Piaget
ensinava que cada criança pensa e interpreta o mundo com seu peculiar
pensamento e com suas possibilidades orgânicas e mentais, quase sempre heterogêneas.
Encontramos
no mundo atual modernos métodos pedagógicos que seguem esse raciocínio,
levando em conta que cada indivíduo, para assimilar sua realidade de vida, é
portador de um processo psicológico de aprendizagem próprio. Cada um percebe de
forma dissemelhante os estímulos da Vida, decodifica-os e em seguida os
reelabora, formando assim sua própria individualidade.
Por outro
lado, encontramos também na reencarnação a guarida desses métodos de ensino,
pois ela se baseia na multiplicidade de experiências ocorridas nos diversos
avatares por onde a alma percorre seus caminhos vivenciais, como um ser
individual. As diversidades do nosso tempo de criação, nossas heranças
reencarnatórias, experiências emocionais e mentais, ambientes sociais onde
ocorrem essas mesmas experiências, estruturas sexuais, masculinas ou
femininas, e motivações várias desenvolvidas na atualidade particularizam os
seres humanos com vocações, tendências, interesses, grau de raciocínio e
discernimento “sui generis”.
Relativos
e não generalizados devem ser os modos de ver as coisas e as pessoas. O próprio
direito penal classifica e pune os crimes dentro dos padrões do “intencional”
ou “doloso”, “passional” ou “ocasional”. Por que o Poder Inteligente que nos
rege iria julgar-nos sem levar em conta nosso “tempo da ignorância” e nossa
relatividade?
Como
educar ou avaliar genericamente, usando o mesmo critério, crianças que
receberam uma educação cheia de energia e vida, ensinadas a questionar e criar;
a ter curiosidade e admiração pela natureza; e outras que só vivenciaram
discussões, agressões e comportamentos medíocres por entre odores de bebidas
alcoólicas e nicotina, sem uma visão saudável de Deus; ao contrário, temerosa,
distorcida, adquirida através da crença de um ser ameaçador e temperamental?
O Amor de
Deus programou-nos simples inicialmente para permitir que nos desenvolvêssemos,
de forma gradativa, até atingir maiores plenitudes e totalidades.
Temos,
pois, que seguir essa programação da Natureza, ou seja, caminhar dentro desse
projeto estabelecido pelas leis universais para atingirmos a nossa integração
como seres espirituais.
Esse
processo evolucional nos mostra que podemos estar um pouco atrás, ou adiante,
das criaturas, embora cada uma delas tenha suas características próprias e
certas de acordo com sua idade astral. Nesse decurso evolutivo, todos nós
passamos por fases de egoísmo e orgulho até atingirmos mais tarde as grandes
virtudes da alma. Consideremos, portanto, que não seremos censurados por estar
nessas fases “primitivas”, porque o que chamamos de “defeito” ou
“inferioridade” seja, talvez, a passagem por esses ciclos iniciantes onde
estagiamos. Lembremos que essas “fases” ou “ciclos” não foram criados por nós,
mas pelos desígnios de Deus, que regem a Natureza como um todo.
Coisas
inadequadas que vemos em outras pessoas podem ser naturais nelas, ou mesmo do
“tempo da sua ignorância”, e representam características próprias de sua etapa
evolucional na estrada por onde todos transitamos, alguns mais avançados e
outros na retaguarda.
A vida
moderna nos deu raciocínio e reflexão, maturação intelectual e um desenrolar de
novas descobertas, ensinando-nos formulações racionais surpreendentes para que
melhor pudéssemos compreender os métodos de evolução e progresso em nós mesmos
e no Universo.
Não somos
responsáveis por aquilo que não sabemos, não sofreremos um castigo por atos ou
atitudes que ignoramos. Talvez essas idéias de punição, alienatórias, sejam os
frutos da incapacidade de nossa reflexão sobre a Bondade Divina, O que chamamos
de “sofrimento” é simplesmente “resultado” de nossa falta de habilidade para
desenvolver as coisas corretamente, pois na vida não existem “prêmios” nem
“castigos”, somente as conseqüências dos nossos atos.
Vale,
porém, considerar que, à medida que nossa consciência se expande e maior
lucidez se faz em nossa mente, maiores serão nossos compromissos perante a
existência. “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e
é por isso que vosso pecado permanece em vós”. (3)
Podemos
pretextar ignorância, mas se tivermos consciência de nossos feitos isso sempre
será levado em conta.
Avaliemos
atentamente: os tesouros da alma que já integramos nos obrigarão a prestar
maiores ou menores contas perante a Vida Maior.
(1) Atos 17:30.
(2) Lucas 12:48.
(3) João 9:41.
Renovando Atitudes
Médium Francisco do Espírito S.Neto
Espírito Hammed
Capítulo 18, itens 10 e 11
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