Religiosidade juvenil – Fator de importância para o Espiritismo
“Disse então aos discípulos: A seara é verdadeiramente grande, mas poucos os trabalhadores. Rogai, pois, ao dono da seara que mande trabalhadores para ela.”(Mateus, 9:37 e 38.)
Jesus conclamava seus discípulos a reunirem em torno de sitodos os seguidores do Cristianismo,adeptos de boa vontade,que se esforçassem sinceramente na pregação moral pura que Ele ensinava. A mensagem do Cristo devia ser anunciada pelos trabalhadores corajosos e perseverantes, que seriam preparados para divulgá-la por diversas regiões, pois “acompanhava-o grande multidão de povo da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém e de além do Jordão” (Mateus, 4:25). A Doutrina de Jesus é simples e clara em seus princípios e dirige-se, principalmente, aos deserdados e humildes.
Nos tempos atuais, em que se abre uma nova era, outros obreiros surgem para fazer parte das fileiras convocadas por Jesus. São as gerações recentes, que possuem as legítimas aspirações do coração e do espírito, e que retornam ao corpo de carne com o propósito de fundar a era do progresso moral. Esses Espíritos se distinguem por inteligência e razão, geralmente possuidores de sentimentos inatos do bem e simpatizantes de crenças espiritualistas. Não são exatamente seres superiores, mas possuem certo progresso moral e se acham predispostos a assimilar concepções transformadoras, de cunho religioso, científico e filosófico, que lhes permitam agir em prol da consolidação do movimento de regeneração do orbe. Ao analisar a chegada dos tempos, quando grandes acontecimentos ocorrerão para a melhoria da Humanidade,Allan Kardec observa:
A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que houver chegado.Avançando para o mesmo alvo e realizando seus objetivos, o Espiritismo se encontrará com ela no mesmo terreno.Aos homens progressistas se deparará nas ideias espíritas poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nos novos homens,espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo. [...]1
Ao refletirmos sobre o jovem,no que tange à sua religiosidade, é comum verificar que a religião, conforme orientação da educadora espiritual Joanna de Ângelis, é primordial e importante na sua formação moral e cultural, ampliando-lhe a compreensão em torno das realidades que o cercam, influindo, fortemente, nas escolhas essenciais e prioritárias. A mentora, ao avaliar essas conquistas, esclarece:
A religião é portadora de significativa contribuição ética e espiritual no desenvolvimento do caráter e na afirmação da personalidade do jovem em desenvolvimento. Através dos seus postulados básicos, o educando nela haure a consciência de si e o começo do amadurecimento dos valores significativos, que lhe incorporarão em definitivo, estabelecendo-lhe paradigmas de comportamento para toda existência.[...] O adolescente traz em si o arquétipo religioso, que remanesce das experiências de outras reencarnações, o que o leva à busca de Deus e da imortalidade do Espírito, de forma que,reencontrando a proposta da fé,assimila-a com facilidade. [...]2
O jovem precisa conhecer de forma verdadeira a mensagem do Cristo, guardando-a no coração para o êxito de suas encarnações futuras! “[...] os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem [...]”.3 Durante as reencarnações, o moço os esquece momentaneamente; a intuição, contudo, permite conservá-los, auxiliando-o em seu progresso espiritual no mundo material.
Não será sem esforço que o adolescente irá adquirir condições necessárias para o seu legítimo desabrochamento no campo dos postulados religiosos. Se não for estimulado apropriadamente, ele poderá tornar-se ateu ou experimentar uma variedade de posições religiosas e mudanças muito frequentes, motivado por períodos místicos exagerados. Os limites são imprecisos em consequência de sua inteligência, que se diversifica, e de suas aptidões particulares que se definem, gradualmente, permitindo-lhe escolher caminhos e engajar-se em experiências de vida adulta, estabelecendo vínculos entre ele e os outros.Nem sempre, porém, encontrará uma estrutura educativa que lhe permita consolidar certos interesses familiares, sociais e religiosos, faltando-lhe, às vezes, condições de amadurecimento emocional no uso de sua autonomia para o desempenho dos vários papéis que irá exercer ao longo de sua existência.
Quando o adolescente não é preparado para adquirir e aceitar certos valores espirituais, torna-se inseguro para enfrentar os desafios e descamba para a rebeldia, o sarcasmo e a indiferença, portas de entrada à delinquência e ao desespero. Nos malogros naturais que ocorrem durante o seu desenvolvimento, a religião se torna fator indispensável para que compreenda as situações existenciais perturbadoras, esclarecendo-se para entender o porquê de nem sempre ser bem-sucedido nos resultados obtidos das lutas que trava a cada dia, pois as provas que contraímos se tornam recursos de aprendizagem valiosos e ninguém evolui sem as enfrentar corajosamente.
Infelizmente, a maioria carece de orientação adequada dos pais, que deveriam incumbir-se da preparação de seu porvir espiritual. O bondoso Espírito Emmanuel, preocupado com o destino dosjovens, “[...] que somam às tendências do passado as experiências recém-adquiridas”,4 tece anotações sobre o problema, considerando principalmente:
[...] todos vieram da estação infantil para o desempenho de nobre destino.Entretanto, quantas ansiedades e quantas flagelações quase todos padecem, antes de se firmarem no porto seguro do dever a cumprir!... Ao mapa de orientação respeitável que trazem das esferas superiores, a transparecer-lhes do sentimento, na forma de entusiasmos e sonhos juvenis, misturam-se as deformações da realidade terrestre que neles espera a redenção do futuro. Muitos saem da meninice moralmente
mutilados [...] e [...] acordam no labirinto dos exemplos lamentáveis, partidos daqueles mesmos de quem contavam colher as diretrizes do aprimoramento interior.
A par dos vários enigmas que se destacam na educação e no encaminhamento da juventude atual,encontramos sérios entraves, que dificultam o seu autoaperfeiçoamento, interferindo nas ações evangelizadoras que auxiliam o jovem na obtenção do conhecimento doutrinário e da prática espírita-cristã.
Na entrevista com o médium Divaldo Pereira Franco, sob a inspiração do Espírito Bezerra de Menezes, em homenagem aos 35 anos da Campanha Permanente de Evangelização Espírita Infantojuvenil (2012), o preclaro mentor aponta uma dessas graves questões: O jovem moderno vive uma rotina tecnológica muito especial e perigosa. A comunicação virtual que se lhe encontra ao alcance no lar, sem a orientação nem a vigilância dos pais, facilmente indu-lo à convivência com portadores de transtornos de comportamento, pessoas viciosas, grupos atormentados que o cativam e o arrastam para as suas malhas perigosas. Esse trabalho de assistência é essencialmente da família, que tem o dever de selecionar os sites que os filhos visitam, de tomar contato com os seus relacionamentos dentro de uma convivência equilibrada e sem imposições absurdas, facilitando o trabalho do evangelizador.
As pessoas, principalmente os jovens, mergulham na sociedade que cultua a informação. São as demandas por soluções e decisões imediatas entre os seus pares. Alertados para o problema, precisamos adquirir conhecimentos que nos permitam assimilar essa rapidez na busca alucinante por respostas a todas as suas indagações, exigindo dos pais, dos evangelizadores e dos educadores uma capacidade de adaptação e flexibilidade muito grandes.Como vigiar os impulsos dos jovens com suas energias sobrecarregadas de vitalidade e supondo tudo saber sobre a vida? A experiência vai lhes mostrar a excelência dos valores legítimos, levando-os a discernir. Ter paciência com eles significa, sobretudo, cuidar para que a religião seja a força que amplie os potenciais dos seus sentimentos e que, no Espiritismo, encontrem a sua renovação mental.
Portanto, é nosso dever encaminhar os moços aos centros espíritas, na execução das tarefas de amor que os aguardam, atendendo ao apelo do Mestre para que outros obreiros atuem no serviço misericordioso a ser cumprido em sua vasta seara.
Clara Lila Gonzales de Araújo
Referências:
1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. cap. 18, it. 24.
2FRANCO, Divaldo P. Adolescência e vida.Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador (BA): Leal, 1997. cap. 19, O adolescente e a religião.
3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 92. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. q. 218a.
4XAVIER, Francisco C. Religião dos espíritos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. 3. reimp.p. 205.
5______. ______. p. 205 e 206.
6DUSI, Miriam M. (Coord.). Sublime sementeira: Evangelização espírita infantojuvenil.2. reimp. Brasília: FEB, 2012. Entrevista com Divaldo Franco, sob inspiração de Bezerra de Menezes. p. 53 e 54, resposta à q. 5.
http://www.sistemas.febnet.org.br/reformadoronline/
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