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10 de abr. de 2013

O BEM E O MAL



Questão de alta complexidade para a criatura hu­mana, o dualismo do bem e do mal encontra-se ínsito na sua psicologia interior, confundindo-a e perturban­do-lhe, não raro, o discernimento.

Com características metafísicas, na sua formulação abstrata, essa dualidade concretiza-se nos atos do ser, gerando fenômenos relevantes de consciência, que con­tribuem para o equilíbrio ou a desordem psíquica, de acordo com as suas respectivas manifestações.

Em todos os períodos da cultura ancestral encon­tramos o esforço da religião e do pensamento tentan­do estabelecer os paradigmas em que se apóiam um e outro, para melhor explicá-los.

Das concepções pretéritas à realidade presente, filosoficamente o bem é tudo quanto fomenta a bele­za, o ético, a vida, consoante a moral, e o mal vem a ser aquilo que se opõe ao edificante, ao harmônico, ao bem.

Sociologicamente o bem contribui para o progres­so, e todas as realizações que promovem o ser, o gru­po social e o ambiente expressam-lhe a grandeza, a ação concreta que resulta da capacidade seletiva de valores éticos para a harmonia e a felicidade.

Como efeito, o mal decorre de todo e qualquer fe­nômeno que se opõe ou conspira contra esse contri­buto superior.

A Psicologia não poderia ficar indiferente a essa dualidade que existe no ser humano, remanescendo como as suas aspirações de crescimento e elevação, do nobre e equilibrado, do saudável e propiciador de paz.

Ao mesmo tempo, o atavismo dos instintos agres­sivos propele-o para a violência — quando deseja pos­suir —, para o vilipêndio — quando se sente diminuído —, para o grotesco e vulgar — quando derrapa no me­nosprezo de si mesmo...

Desenvolvendo, no entanto, a consciência que sai do torpor de nível de sono sem sonhos, imediatamente começa a perceber os valores que compensam e os que conflitam o comportamento psicológico, impul­sionando-o, embora lentamente, para a adoção de conduta mental e física, idealista e comportamental do bem, tornando-se instrumento útil no grupo soci­al, que se promove e eleva-o a estágio superior, per­mitindo-lhe aspirar sempre a mais e melhor.

Esse discernimento, que resulta da consciência em libertação dos condicionamentos escravizadores, am­plia a capacidade para identificar o bem e o mal, pre­dispondo-o à eleição do primeiro em detrimento do ou­tro.

Se, por acaso, incorre em equívocos de seleção e tomba nas malhas do mal, mesmo que sob as circuns­tâncias perturbadoras do ódio, do medo, da angústia, da volúpia, da desordem interior, ao descobrir-se em falta, faz o quadro de consciência de culpa e sofre as patologias afugentes, que se lhe tornam mecanismos reparadores.

Afirma-se, porém, que a linha divisória entre o bem e o mal é tão fluida e oscilante que, não raro, o bem de hoje torna-se o mal de amanhã e vice-versa, numa di­alética sofista, que se poderia considerar anárquica...

Certamente, muitos códigos e leis, de acordo com as conveniências de grupos e castas, de partidos e raças, de religiões e credos, por questões imediatis­tas, tentam tornar legais comportamentos que não são morais e, reciprocamente, justificando-se atitu­des vulgares e tentando liberar-se comportamentos alienados, condutas extravagantes e arbitrárias.

O Decálogo moisaico, no entanto, sintetiza os có­digos moral e legal, portanto, o que é bem e o que é mal, havendo facultado a Jesus afirmar, em grandio­sa proposta, toda a complexidade desse fenômeno dual: — Não fazer a outrem o que não deseja que ele lhe faça.

Porque ainda injustos os homens, as leis que ela­boram possuem os seus parcialismos, defecções, de­vendo ser respeitadas, sem que a algumas delas se atribuam reais valores morais, significativos e defini­dores do bem e do mal.

O bem e o mal estão inscritos na consciência hu­mana, em a natureza, na sua harmoniosa organiza­ção que deu origem à vida e a fomenta.

Tudo quanto contribui para a paz íntima da cria­tura humana, seu desenvolvimento intelecto-moral, é-lhe o bem que deve cultivar e desenvolver, irradian­do-o como bênção que provém de Deus.

E esse mal, aliás transitório, temporal, que o propele às ações ignóbeis, aos sofrimentos, é rema­nescente atávico do seu processo de evolução, que será ultrapassado à medida que amadureça psicolo­gicamente, e se lhe desenvolvam os padrões de sen­sibilidade e consciência para adquirir a integração no Cosmo, liberado das injunções dolorosas, inferiores.



O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis
 
 

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