A Criança Obsidiada
“Aliás, não é racional considerar-se a
infância como um estado normal de inocência. Não se vê em crianças dotadas dos
piores instintos, numa Idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a
educação?
Donde a precoce perversidade, senão da
inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para
isso?” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questão 199-a.)
Crianças obsidiadas suscitam em nós os mais
profundos sentimentos de solidariedade e comiseração.
Tal como acontece ante as demais enfermidades
que atormentam as crianças, também sentimos ímpetos de protegê-las e
aliviá-las, desejando mesmo que nada as fizesse sofrer.
Pequeninos seres que se nos apresentam
torturados, inquietos, padecentes de enfermidades impossíveis de serem diagnosticadas,
cujo choro aflito ou nervoso nos condói e impele à prece imediata em seu
benefício, são muita vez obsidiados de berço. Outros se apresentam sumamente
irrequietos, irritados desde que abrem os olhos para o mundo carnal. Ao
crescer, apresentar-se-ão como crianças-problemas, que a Psicologia em vão
procura entender e explicar.
São crianças que já nascem aprisionadas —
aves implumes em gaiolas sombrias —, trazendo nos olhos as visões dos panoramas
apavorantes que tanto as inquietam. São reminiscências de vidas anteriores ou
recordações de tormentos que sofreram ou fizeram sofrer no plano extrafísico,
antes de serem encaminhadas para um novo corpo. Conquanto a nova existência
terrestre se apresente difícil e dolorosa, ela é, sem qualquer dúvida, bem mais
suportável que os sofrimentos que padeciam antes de reencarnar.
O novo corpo atenua bastante as torturas
que sofriam, torturas estas que tinham as suas nascentes em sua própria
consciência que o remorso calcinava. Ou no ódio e revolta em que se consumiam.
E as bênçãos de oportunidades com que a
reencarnação lhes favorece poderão ser a tão almejada redenção para essas almas
conturbadas.
A Misericórdia Divina oferecerá a tais
seres instantes de refazimento, que lhes chegarão por vias indiretas e,
sobretudo, reiterados chamamentos para que se redimam do passado, através da
resignação, da paciência e da humildade.
Na obra “Dramas da Obsessão”, Bezerra de
Menezes narra a vida de Leonel, que desde a infância apresentou crises
violentas, evidenciando a quase possessão por desafetos do pretérito. Este
mesmo Leonel, já adulto e casado, acompanhou a espinhosa existência de sua
filha Alcina, que como ele era obsidiada desde o berço.
Crianças que padecem obsessões devem ser
tratadas em nossas instituições espíritas através do passe e da água
fluidificada, e é imprescindível que lhes dispensemos muita atenção e amor, a
fim de que se sintam confiantes e seguras em nosso meio. Tentemos cativá-las
com muito carinho, porque somente o amor conseguirá refrigerar essas almas cansadas
de sofrimentos, ansiando por serem amadas.
Fundamental, nesses casos, a orientação
espírita aos pais, para que entendam melhor a dificuldade que experimentam,
tendo assim mais condições de ajudar o filho e a si próprios, visto que são,
provavelmente, os cúmplices ou desafetos do pretérito, agora reunidos em
provações redentoras. Devem ser instruídos no sentido de que façam o Culto do
Evangelho no Lar, favorecendo o ambiente em que vivem com os eflúvios do Alto,
que nunca falta àquele que recorre à Misericórdia do Pai.
A criança deve ser levada às aulas de
Evangelização Espírita, onde os ensinamentos ministrados dar-lhe-ão os
esclarecimentos e o conforto de que tanto carece.
O número de crianças obsidiadas tem
aumentado consideravelmente. Há bem pouco tempo chegaram às nossas mãos, quase
simultaneamente, cinco pedidos de orientação a crianças que se apresentavam
todas com a mesma problemática de ordem obsessiva.
Um desses casos era gravíssimo.
Certa criança de três anos e alguns meses
vinha tentando o suicídio das mais diferentes maneiras, o que lhe resultara,
inclusive, ferimentos: um dia, jogou-se na piscina; em outro, atirou-se do alto
do telhado, na varanda de sua casa; depois, quis atirar-se do carro em
movimento, o que levou os familiares a vigiá-la dia e noite. Seu comportamento,
de súbito, tornou-se estranho, maltratando especialmente a mãe, a quem dirigia
palavras de baixo calão que os pais nunca imaginaram ser do seu conhecimento.
Foram feitas reuniões de obsessão' desobsessão
em seu benefício, quando se verificaram as origens do seu estado atual.
Atormentada por muitos obsessores, seu comprometimento espiritual é muito
sério.
As outras crianças mencionadas tinham
sintomas semelhantes: acordavam no meio da noite, inconscientes, gritando,
falando e rindo alto, não atendiam e nem respondiam aos familiares, nem mesmo
dando acordo da presença destes.
Todas são menores de cinco anos.
Com a terapêutica espírita completa, essas
crianças melhoraram sensivelmente, sendo que três retornaram ao estado normal.
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