Barrada em Nosso Lar!
Inúmeras vezes e em diversos centros espiritas em diferentes
Estados do Brasil, vez por outra vi e ouvi alguém dizer que uma senhora fora
barrada a entrada de Nosso Lar por ter cometido abortos e que estes manchavam
seu perispírito de forma que apresentavam manchas pretas, que eram crianças que
tinha abortado, ou assassinadas, já que era uma profissional de saúde...
Nosso Lar desde o inicio de minha caminhada espirita foi o livro
que mais chamou-me a atenção pois André Luiz é muito profundo e com uma alta
capacidade de síntese, e uma leitura apressada de André Luiz pode levar o
Divulgador Espirita cometer alguns erros que podem gerar, até mesmo no estudioso um pré-conceito.
Tenho um amigo que muito estimo e amo como irmão, que degusta a
leitura de forma que ele sente linha a linha, proporcionando extrair o melhor
de cada livro (conheço poucas pessoas assim)...
E ele ligou para mim um tanto chateado com a falta de caridade
em virar as costas de quem pede ajuda...
Brinquei com ele e disse:
Você não! Pois sabia do cuidado ao ler e das perguntas geradas
pelo degustar da leitura...
E convidei a ler para mim o trecho...
Uma senhora encontrava-se a porta de Nosso Lar e pedira ajuda,
um dos vigilantes pede a intervenção da enfermeira , e a enfermeira pede
auxilio do responsável da vigilância para analisar a pessoa que pedia ajuda.
E o responsável pela vigilância destaca ...
"- Está mulher, por enquanto, não pode receber nosso
socorro. Trata-se de um dos mais fortes vampiros que tenho visto até hoje. É
preciso entregá-la à própria sorte .
Senti-me escandalizado.
Não seria faltar aos deveres cristãos abandonar aquela sofredora
ao azar do caminho? Narcisa, que me pareceu compartilhar da mesma impressão,
adiantou-se suplicante:
- Mas, Irmão Paulo, não há um meio de acolhermos essa miserável
criatura nas Câmaras?
- Permitir essa providência - esclareceu ele -, seria trair
minha função de vigilante.
E indicando a mendiga que esperava a decisão, a gritar
impaciente, exclamou para a enfermeira:
- Já notou, Narcisa, alguma coisa além dos pontos negros?
Agora, era minha instrutora de serviço que respondia
negativamente.
- Pois vejo mais - respondeu o Vigilante-Chefe.
Baixando o tom de voz, recomendou:
- Conte as manchas pretas.
Narcisa fixou o olhar na infeliz e respondeu, após alguns
instantes: - Cinqüenta e oito.
O Irmão Paulo, com a paciência dos que sabem esclarecer com
amor, explicou:
- Esses pontos escuros representam cinqüenta e oito crianças
assassinadas ao nascerem. Em cada mancha vejo a imagem mental de uma criancinha
aniquilada, umas por golpes esmagadores, outras por asfixia.
Essa desventurada criatura foi profissional de ginecologia. A
pretexto de aliviar consciências alheias, entregava-se a crimes nefandos,
explorando a infelicidade de jovens inexperientes. A situação dela é pior que a
dos suicidas e homicidas, que, por vezes, apresentam atenuantes de vulto.
- Não falo aqui de providências legítimas, que constituem
aspectos das provações redentoras, refiro-me ao crime de assassinar os que
começam a trajetória na experiência terrestre, com o direito sublime da vida.
Demonstrando a sensibilidade das almas nobres, Narcisa rogou:
- Irmão Paulo, também eu já errei muito no passado. Atendamos a
esta desventurada. Se me permite, eu lhe dispensarei cuidados especiais.
- Reconheço, minha amiga ( respondeu o diretor da vigilância,
impressionando pela sinceridade ), que todos somos espíritos endividados;
entretanto, temos a nosso favor o reconhecimento das próprias fraquezas e a boa-vontade
de resgatar nossos débitos; mas esta criatura, por agora, nada deseja senão
perturbar quem trabalha.
Os que trazem os sentimentos calejados na hipocrisia emitem
forças destrutivas. Para que nos serve aqui um serviço de vigilância?
E, sorrindo expressivamente, exclamou:
- Busquemos a prova.
O Vigilante-Chefe aproximou-se, então, da pedinte e perguntou:
- Que deseja a irmã, do nosso concurso fraterno?
- Socorro! socorro! socorro!... - respondeu lacrimosa.
- Mas, minha amiga - ponderou acertadamente -, é preciso sabermos
aceitar o sofrimento retifica dor. Por que razão tantas vezes cortou a vida a
entezinhos frágeis, que iam à luta com a permissão de Deus?
Ouvindo-o, inquieta, ela exibiu terrível carantonha de ódio e
bradou:
- Quem me atribui essa infâmia? Minha consciência está
tranquila, canalha!... Empreguei a existência auxiliando a maternidade na
Terra. Fui caridosa e crente, boa e pura...
- Não é isso que se observa na fotografia viva dos seus
pensamentos
e atos. Creio que a irmã ainda não recebeu, nem mesmo o
benefício do remorso. Quando abrir sua alma às bênçãos de Deus, reconhecendo as
necessidades próprias, então, volte até aqui.
Irada, respondeu a interlocutora:
- Demônio! Feiticeiro! Sequaz de Satã!... Não voltarei
jamais!... Estou esperando o céu que me prometeram e que espero encontrar.
O primeiro passo para a cura é se reconhecer doente...
E o segundo é querer ajuda para tratar sua doença...
E terceiro é a vontade de
curar-se...
E a senhora em pauta não reconhecia seus erros...
Cobrava por direitos que não possuía e além de tudo demonstrava
a hipocrisia ...
Em nosso planeta a materialidade e a obstrução de nossos
sentidos e percepções espirituais permite que nos mascaremos, e sejamos o
fulano no trabalho, o fulano da família e o fulano do centro espirita, e o
fulano da corrente religiosa ao qual pertenço, já no mundo espiritual somos o
que somos...
Por isso estamos sempre onde nossa sintonia espiritual
impulsionada pelo nossos pensamentos nos situa onde devemos estar.
Convido a refletir sobre tudo que ler e sobretudo pondere sobre
toda a informação, busque a fonte reflita sobre ela desapaixonadamente e até
duvidando.
Temos visto ao longo dos dias espiritas e simpatizantes mudar
somente os nomes de Céu e Inferno para Nosso Lar e Umbral, mas o conceito é o
mesmo...
O nosso tempo de sofrimento e expiação esta atrelado ao
reconhecimento de nossos erros , o desejo de acertar e a vontade de fazer
diferente, e esse conjunto de pensamentos e atitudes determinam nossa vida, se
adicionarmos o amor ainda, vamos ao encontro da afirmativa de Pedro:
"O amor cobre a multidão de pecados."
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