PRECONCEITOS DE RAÇA... RAÇA?... QUE RAÇA?
O
atleta Paulão, que defendeu a equipe do Gama aqui de Brasília, sofreu o insulto
de racismo por alguns torcedores do Betis, na Espanha. O ex-lateral-esquerdo da
seleção brasileira Roberto Carlos saiu agastado de campo, durante uma partida,
logo após torcedores russos jogarem uma banana em campo. Em 2005, durante
partida da primeira fase da Libertadores, o atacante são-paulino Grafite acusou
o zagueiro Leandro Desábato de chamá-lo de “macaco”. (1) Na Semana passada, o
jogador Tinga, do Cruzeiro, foi humilhado pela torcida do Real Garcilaso, que
fazia coro (imitando voz de macaco) toda vez que o atleta tocava na bola,
durante o jogo realizado no estádio de Huancayo, no Peru.
Em
que pesem as atuais e severas leis anti-racistas, o racismo continua a ser um
grave problema em muitos países, mesmo onde teoricamente não existe, como no
caso dos EUA (sobretudo nas zonas do Sul). A crise econômica e a pressão
demográfica costumam ser motivo de problemas raciais mais ou menos graves, como
sucede na Grã-Bretanha com os imigrantes, na França com os norte-africanos, na
Alemanha com os turcos ou na Espanha com a população cigana e os trabalhadores
negros ilegais.
Porém,
sem dúvida alguma, o racismo brasileiro, ainda escamoteado e acobertado pelo
mito da “democracia racial”, é um estigma, uma nódoa presente na mente dos
brasileiros, e que faz parte do cotidiano de todos nós. Diante d’Ele, todos são
iguais. Valendo-se, ao mesmo tempo, da possibilidade de anonimato e do alcance
a milhões de internautas, o racismo tem se espalhado de maneira intensa pelo
mundo digital. No Brasil, a divulgação do racismo, mesmo pela internet,
significa crime, conforme é caracterizado pela legislação brasileira. A
Constituição de 1988 tornou a prática do racismo crime sujeito a pena de
prisão, inafiançável e imprescritível.
Os
brasileiros atualmente mostram-se, aparentemente, menos preconceituosos do que
há duas décadas. Contudo, reconhecemos o preconceito no outro, mas não em nós
mesmos. Ou, como já definiu a historiadora da USP, Lilia Moritz Schwarcz, “todo
brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por
todos os lados”. (2) É preocupante constatar que a ambivalência se mantém.
Parece que os brasileiros jogam, cada vez mais, o preconceito para o outro.
Para
a ciência contemporânea, o conceito de raça é abstrato e agressivo, pois raças
humanas não existem como entes biológicos. É agressivo porque a concepção de
raça tem sido usada para abonar discriminação, opressão e barbaridades. “As
raças não existem, mas a mentalidade relativa às raças foi reproduzida
socialmente”. (3)
A
afirmação das raças biológicas multicoloridas tem sido cada vez mais rejeitada
pela genética. Os pesquisadores descobriram que a natureza genética de todos
nós é idêntica o bastante para que a mínima porcentagem de genes que se
caracterizam na aparência física, cor da pele etc., invalide a composição da
sociedade em raças. Isso porque o acanhado número de genes desiguais está
comumente conectado à adequação do indivíduo ao tipo de meio ambiente em que
vive. Todas as raças provêm de um só tronco – o Homo sapiens – portanto o
patrimônio hereditário dos humanos é comum.
Atualmente,
ramos do conhecimento científico como a Antropologia, História ou Etnologia
preferem o uso do conceito de etnia para descrever a composição de povos e
grupos identitários ou culturais. Nacionalistas do final do século XIX foram os
primeiros a abraçar os discursos contemporâneos sobre "raça",
etnicidade e "sobrevivência do mais forte" para moldar novas
doutrinas nacionalistas.
No
texto intitulado “Frenologia espiritualista e espírita – Perfectibilidade da
raça negra” (4), Kardec faz uma espécie de releitura dessa “ciência”, com um
enfoque espiritualista, demonstrando que o “atraso” dos negros [habitantes da
África à época] não se deveria a causas biológicas, mas por seus espíritos
encarnados ainda serem, relativamente, jovens.
No
bojo da literatura basilar da Terceira Revelação, o Codificador ressalta que
"na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o
mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário,
chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a
reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal,
também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por
conseguinte, o da liberdade". (5) Ante os ditames da pluralidade das
existências, ainda segundo Kardec "enfraquecem-se os preconceitos de raça,
os povos entram a considerar-se membros de uma grande família". (6)
A
verdade é que nos grandes debates de cunho sociológico, antropológico,
filosófico, psicológico etc., o Espiritismo provocará a maior revolução
histórica no pensamento humano, conforme está inscrito nas questões 798 e 799
de O Livro dos Espíritos, sobretudo quando ocupar o lugar que lhe é devido na
cultura e conhecimento humanos, pois seus preceitos morais advertirão os homens
da urgente solidariedade que os há de unir como irmãos, apontando, por sua vez,
que o progresso intelecto-moral na vida de todos os Espíritos é lei universal e
tendo por modelo Jesus, que, ante os olhos do homem, é o maior arquétipo da
perfeição que um Espírito pode alcançar. (7)
Com
a Mensagem de Jesus compreendemos que na Terra há uma só raça: a raça humana.
Caucasianos, africanos, indianos, árabes, judeus, asiáticos, não são de
diferentes raças, são apenas de diferentes etnias, no esplêndido reino dos
seres racionais.
Referências
bibliográficas:
(1)
Disponível em
http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/brasileiro-sofre-racismo-d... acesso
15/02/2014
(2)
Disponível em
http://zelmar.blogspot.com.br/2010/09/todo-brasileiro-se-sente-uma-... aceso em
22/07/13
(3)
Disponível em
http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/02... acesso
em 20/07/13
(4)
Publicado na Revista Espírita, artigo “Frenologia espiritualista e espírita –
Perfectibilidade da raça negra”, de abril de 1862
(5)
Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2002, pág. 31.
(6)
Idem págs. 415-416.
(7)
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003, parte
3ª, q. 798 e 799, cap. VIII item VI - Influência do Espiritismo no Progresso
Jorge Hessen
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