FUNÇÃO DO DOUTRINADOR
Na
prática mediúnica devem ser consideradas três funções específicas; o
dirigente-doutrinador, o médium ostensivo e o assistente participante.
Para efeito informativo, daremos a
seguir algumas conotações observadas durante uma frequência prolongada nas
reuniões mediúnicas espíritas, onde
assimilamos uma série de orientações dadas pelos mentores espirituais e outras
das nossas observações para manter-se uma conduta salutar na convivência com os
desencarnados no desempenho da função de doutrinador, considerado atualmente
como um psicoterapeuta de Espíritos sofredores.
Deve adquirir o hábito de primeiro
ouvir o que diz o comunicante para iniciar o diálogo, num tom de voz natural,
de forma coloquial, não tendo a preocupação de se fazer ouvir por todos os
componentes do grupo.
Nunca esquecer que está conversando
com um indivíduo que somente não possui mais um corpo carnal, no entanto as
suas reações psicológicas são semelhantes às daqueles que ainda esão
encarnados, precisando naquele instante de atenção especial, quando não se deve
prescindir de transmitir tolerância, compreensão e otimismo, para a superação
das suas dificuldades na transição para além da sepultura.
Deve-se, portanto, pronunciar as
palavras com delicadeza para o envolvimento vibracional, não se esquecendo da
austeridade, sem o autoritarismo radical, nas ocasiões do atendimento aos
Espíritos malévolos e impenitentes da erraticidade inferior.
Evitar explanações doutrinárias
discursivas e sobretudo não emitir críticas ostensivas ou veladas pelo estado
de sofrimento apresentado pela entidade comunicante que está sendo atendida.
Atuar mais com o sentimento de bondade
do que com palavras excessivas. Deixar o Espírito externar-se para identificar
a causa do problema, antes de tomar o pulso da comunicação para ajudar o
suplicante corretamente.
Não se preocupar em identificar
quem é a personalidade sofredora, pois o trabalho de intercâmbio espiritual tem
por base a caridade anônima.
Desnecessário explicar a razão do
sofrimento atual trazendo à baila o comportamento incorreto durante a
existência carnal, porque isto tem o efeito de um ácido a queimar as fibras
íntimas da criatura sofredora.
Quanto menos informações forem
dadas melhor, inclusive não se utilizar da terminologia espírita, a não ser com
muita cautela, nem tampouco insistir impositivamente na sugestão para que o
comunicante adote uma postura oracional, pois quem está sentindo sensações
dolorosas ou desesperadoras não tem a mínima condição de entender ou assimilar
ideias ou conselhos de que nunca ouviu falar.
O doutrinador deve ter sempre em
mente que a finalidade do fenômeno que ocorre na ligação que se dá perispírito
a perispírito para a psicofonia, tem um sentido prioritário, de por em contato
o comunicante com o fluido animalizado do médium para a ocorrência do chamado
choque anímico.
Allan Kardec utilizou o termo
fluido animal, porque na ligação perispiritual ente o comunicante e o médium,
para que se processe a psicofonia, acontece uma transferência de elevada carga
de energias animalizadas, absorvidas pelo desencarnado, produzindo-lhe um choque
energético que promove o seu despertamento para uma realidade nova de que ainda
não se deu conta.
Isto se torna necessário, porque na
desencarnação o ser inteligente leva consigo inúmeras impressões físicas e
mentais que persistem no seu campo perispiritual depois da morte biológica. Daí
o conceito doutrinário de que morrer definitivamente é adquirir
consciência e familiaridade do mundo que
passa a habitar.
Por isso, o doutrinador deve ser
muito cauteloso no momento de fazer a revelação do estado presente do Espírito
que está sendo atendido. Precipitar o conhecimento da sua morte biológica pode
causar-lhe um trauma desestruturador da emoção, com consequências desagradáveis
para o comunicante e para o médium também, que recebe as descargas psíquicas do
sofredor.
Consideremos alguém que teve morte
repentina decorrente de uma crise cardíaca, sem nenhum conhecimento da vida
espiritual, acordando num ambulatório médico e sendo atendido por uma pessoa
que lhe diz de chofre: “Você já morreu.” Naturalmente a reação imediata é a da
descrença, com uma resposta de pronto: “Como pode isto ter acontecido; eu estou
vivo e dizem-me que já morri!”.
Se o doutrinador persiste na ideia
de convencer o Espírito, poderá ocorrer o medo e em seguida o pânico
patológico, não resultando da revelação nada de positivo para o bem-estar da
entidade sofredora. Neste particular a função do doutrinador é de efeito
preparatório, deixando a cargo dos Benfeitores Espirituais a escolha do momento
aprazado para fazer com que o desencarnado tome conhecimento da sua nova
realidade.
No diálogo com os Espíritos
empedernidos no mal, a técnica de doutrinação também exige cuidados especiais
na forma em que deve ser praticada. Essas entidades sabem do estado em que se
encontram e agem intencionalmente para perturbar o desenrolar da programação
previamente estabelecida pelos instrutores espirituais.
Uma pergunta se impõe de imediato:
“Por que razão permitem os mentores espirituais esta intromissão inoportuna?”
Simplesmente, para aprendermos as lições decorrentes dessa convivência e, ao
mesmo tempo, neutralizar a influência malfazeja dessas entidades sobre os
encarnados.
O doutrinador deve precaver-se, a
fim de não se deixar envolver pela tática usual desses Espíritos, qual seja a
de provocar discussão com o intuito de roubar o tempo disponível das reuniões
de atendimento aos sofredores, e ao mesmo tempo perturbar o ambiente mediúnico
por meio de irradiações desagradáveis que a todos irritam, provocando um
mal-estar generalizado.
O tratamento ideal no
relacionamento com o visitante perturbador é o da amabilidade, mantendo-se a
ascendência moral através de vocabulário próprio, demonstrando não estar
atemorizado com as ameaças ostensivas, não se deixando contaminar com a
violência do linguajar vulgar e desafiador, e, sobretudo manter uma confiança
irrestrita na ação dos Benfeitores Espirituais.
Evitar a todo custo não utilizar
argumentos a fim de fazê-lo desistir dos seus propósitos. Durante o tempo em
que se encontra ligado ao médium o Espírito vingativo está perdendo força. Cada
vez que isto ocorre, essas entidades perdem uma alta cota de energia que antes
descarregavam nas suas vítimas.
No trabalho de doutrinação, o
encarregado dessa tarefa conscientizado da grave responsabilidade que assume
não somente naquilo que diz respeito aos desencarnados, mas, também, na questão
dos danos físicos, emocionais e espirituais que pode causar ao médium quando o
atendimento não é feito de forma correta.
Outro detalhe importante é o
doutrinador não tocar no médium, no transcorrer da comunicação. Este é um
hábito extremamente inconveniente, não somente no sentido ético como estético.
Além disso, promove no sensitivo uma irritação muito desagradável, podendo em
alguns casos danificar a sua aparelhagem mediúnica e nervosa. Em situações
específicas pode causar-lhe uma dor de cabeça insuportável.
Em decorrência do que foi dito
anteriormente, a nenhum pretexto o médium deve ser seguro pelo doutrinador, no
caso de agitação excessiva, pois não é a força física, e sim a psíquica que
atua efetivamente para controlar os impulsos descontrolados da entidade
comunicante, refletidos no comportamento do medianeiro.
Finalmente o doutrinador, depois do
atendimento ao sofredor, deve transferir de imediato a sua atenção para o
médium. Não raro o sensitivo para se reajustar depois do estado de transe, na
roupagem carnal, necessita de uma transfusão de energias que deve ser feita
através dos passes magnéticos.
JOSÉ
FERRAZ
Sobre o Autor:
José Couto Ferraz
Brasileiro, Espírita atuante desde 1965
no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador. Dedica-se às atividades de
medium, de atendente fraterno e membro da equipe de passes.
Como membro da equipe do Projeto Manoel
Philomento de Miranda, é coautor dos seguintes livros: Reuniões Mediúnicas
(1993), Vivência Mediúnica (1994), Terapia pelos Passes (1996), Atendimento
Fraterno (1998), Qualidade na Prática Mediúnica (2000), Consciência e Mediunidade
(2003), Passes – Aprendendo com os Espíritos (2006), Estudando o Livro dos
Médiuns (2008) ; e, por fim, Reuniões Doutrinárias e Mediúnicas no Centro
Espírita (2001), em parceria com Adilton Santos.
Artigos do Autor:
0 comentários:
Postar um comentário