Pesquisar Assuntos Neste Blog

14 de jun. de 2013

Família e escola – Uma parceria possível



Onde situar as funções da família e da escola na sociedade? Teriam elas papéis estanques?

Deve a escola cuidar apenas do conteúdo, da instrução formal, da cidadania?

E a família,apenas dos valores da educação, dos valores morais, dos sentimentos?

É público e notório que os índices de qualidade educacional nos países emergentes, como o nosso, apesar das melhoras experimentadas nos últimos tempos, continuam muito abaixo do desejado, sobretudo nas escolas públicas. Mesmo nos países ditos desenvolvidos, a educação formal não tem sido eficiente o bastante para suprir falhas de ensino e evitar desvios de comportamento dos educandos.

Além da baixa qualidade do ensino, a questão das drogas e da violência em seus múltiplos aspectos, inclusive o bullying, tem sido uma preocupação constante dos pais e professores. As causas dessas distorções são complexas, pois, sem embargo das questões espirituais, envolvem fatores sociais, culturais, políticos, entre outros.

O pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que teve grande influência na educação do menino Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), o qual se tornaria mais tarde o codificador da Doutrina Espírita, sob o pseudônimo Allan Kardec, lançou as bases, no Ocidente, do ensino primário (nos dias atuais chamado ensino fundamental).

Para Pestalozzi, adepto do método heurístico de ensino,1“o papel do pedagogo é o de desenvolver a individualidade da criança em lugar de simplesmente lhe transmitir conhecimentos”2 e “as relações entre mestre e aluno, sobretudo no que concerne à disciplina, devem ser fundadas no amor e por ele governadas”, o que está em sintonia com o pensamento do então Prof. Rivail de que “a educação é a arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício”.4

Diante desses valores básicos inerentes à educação estariam a família e a escola desempenhando corretamente suas missões?

Pesquisa realizada em 2007,pela revista Nova escola e pelo Ibope, perante professores das redes públicas das capitais brasileiras, detectou que o docente gosta da profissão, sabe “que é parte de sua função preparar os alunos para um futuro melhor”, mas “se ressente por ter de providenciar a Educação global
(valores, hábitos de higiene etc.) que a família não dá. [...] Os alunos são vistos como desinteressados e indisciplinados e são percebidos, junto com a família, como os principais problemas da sala de aula”.De acordo com a referida pesquisa, quase 50 % dos professores reclamam da sobreposição de papéis (em relação à família dos alunos).

Um grupo de professores experientes analisou os dados da referida pesquisa, concluindo que a participação da família é fundamental para que a criança se desenvolva como estudante, cabendo, porém, à escola, em seu papel contemporâneo,não se limitar apenas a ensinar conteúdos, mas também a trabalhar com valores humanos que reclamam a integração da família na rotina escolar, por exemplo, o seu envolvimento na elaboração da proposta pedagógica, como forma de encaminhar a solução de desafios comuns a todos, sobretudo aqueles ligados à afetividade: “A parceria da escola com a família pode ocorrer em vários níveis e momentos”.Pesquisa sobre “Educação moral nas escolas”, coordenada por profissional de Psicologia da Educação,disponível na Internet, cuja linha de trabalho é um tanto distinta da antiga Educação Moral e Cívica, detectou:

O foco atual é a formação de um sujeito autônomo, que defende valores como bons para si e para os outros [...]. Muitas vezes, a equipe docente acha que não deve trabalhar com Educação moral porque isso é uma tarefa que cabe à família.Mas hoje estudiosos afirmam que vivemos uma situação em que a força da competição,da imagem e do poder duela com o respeito e a cooperação.A Educação está percebendo a crise e entendendo que tem de enfrentá-la [...]. Já os familiares trabalham com valores individuais,como a cooperação, a solidariedade, a generosidade e a bondade, e protegem os seus.Na família, como na escola, moral vivida é moral ensinada.De nada adianta fazer discursos se as práticas os contradizem.

Como se percebe, os valores éticos são interdisciplinares, não têm fronteiras e devem ser tratados em todas as dimensões da sociedade, de acordo com as características de cada segmento. É preciso acabar com o “jogo de empurra” entre a família e a escola sobre a incumbência pela formação das crianças e adolescentes.

Ambas têm suas responsabilidades e devem exercer seus papéis em complementaridade.Egressa das fontes espirituais, a família, berço da civilização, é instituição que remonta às origens da Humanidade e que varou os milênios, preservando seus valores essenciais.

Ela não está acabando, como muitos apregoam, mas, se transformando. Frequentemente, são realizados estudos sociais e pesquisas sobre a família e o casamento. Eles sempre indicam que os valores familiares continuam em alta na sociedade moderna, acima até mesmo do trabalho ou da carreira profissional.
A missão da família transcende os valores puramente materiais, restritos ao desenvolvimento econômico e cultural. Sua missão é a de estreitar os laços sociais, o que é feito por meio da experiência no corpo físico, que vem a ser o filtro pelo qual os Espíritos se aprimoram, progridem, proporcionando a depuração gradual da sociedade.

A vocação moral da família está em sintonia com a descoberta de Frans de Waal, primatologista holandês,para quem É um erro [...] julgar que a moralidade do homem surgiu do nada ou que é somente um produto da religião e da cultura.10 A família apresenta-se como uma sociedade em miniatura, que lhe garante o status de berço da civilização.

Ela é para a sociedade o que a célula é para o organismo: mantém sua individualidade e autonomia,mas interage com a outra
em constante interdependência.

É, pois, nos lares que se moldam as famílias. Não se confunda,porém,casa com lar. A casa é a edificação material: o alicerce, as paredes, o telhado... Já o lar é a edificação espiritual:a reunião de pessoas, com finalidades evolutivas, onde se exercita o perdão, a renúncia, a abnegação, a cooperação mútua, elementos imprescindíveis à construção do amor.Por isso, é válido dizer que o lar é a primeira escola, os pais são os primeiros professores e os filhos,os primeiros alunos. Reportando-se ao dever de cada um, perante o núcleo familiar, Jesus ensinou que “todo aquele que faz a vontade de Deus [isto é,que observa a lei de amor, consagrada nas leis morais], esse é meu irmão,minha irmã e minha mãe”,11 independentemente dos laços consanguíneos.Enfim, sem prejuízo do papel da família, é muito importante o comprometimento dos demais atores educacionais, os quais, sem abdicar de sua missão institucional de instruir,devem criar um ambiente de escola acolhedora, que ampara o desenvolvimento da afetividade e dos sentimentos, ajudando a formar pessoas mais felizes e cidadãos responsáveis e conscientes:

Não basta ensinar à criança os elementos da Ciência.Aprender a governar-se, a conduzir-se como ser consciente e racional, é tão necessário como saber ler, escrever e contar: é entrar na vida armado não só para a luta material, mas, principalmente, para a luta moral.

É nisso em que menos se tem cuidado. Presta-se mais atenção em desenvolver as faculdades e os lados brilhantes da criança, do que as suas virtudes. Na escola, como na família, há muita negligência em esclarecê-la sobre os seus deveres e sobre o seu destino.

Portanto, desprovida de princípios elevados, ignorando o alvo da existência, ela, no dia em que entra na vida pública, entrega-se a todas as ciladas, a todos os arrebatamentos da paixão, num meio sensual e corrompido.Mesmo no ensino secundário, aplicam-se a atulhar o cérebro dos estudantes com um acervo indigesto de noções e fatos, de datas e nomes, tudo em detrimento da educação moral.A moral da escola, desprovida de sanção efetiva, sem ideal verdadeiro, é estéril e incapaz de reformar a sociedade.

A educação formal ou instrução,tão necessária ao desenvolvimento do intelecto, é de grande valia na formação dos valores da cidadania, entretanto, jamais prescindirá da educação moral. Tudo o que acontece na sociedade é reflexo do que se passa na família e na escola, mais um motivo para que lhes dispensemos toda nossa atenção e zelo, pois é nelas que se assenta a base da edificação de uma sociedade integral, que zela pelo equilíbrio entre os valores do espírito e do intelecto.

Christiano Torchi


1Pelo método heurístico, o aluno é conduzido a descobrir por si mesmo, tanto quanto possível por seu esforço pessoal, as coisas que estão ao alcance de sua inteligência.
2AUDI, Edson. Vida e obra de Allan Kardec.Niterói (RJ): Lachâtre, 1999. p. 15.
3WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.Allan Kardec – Meticulosa pesquisa biobibliográfica.5. ed. Rio de Janeiro: FEB,1999. v. 1, cap. 15, Esboço do sistema pestalozziano, p. 97.
4RIVAIL, Hippolyte Léon Denizard (Allan Kardec). Plano proposto para a melhoria da Educação Pública (1828). Trad. Dora Incontri. Apud INCONTRI,Dora. In: Textos pedagógicos.São Paulo: Comenius, 1998. p. 15.5Revista Nova Escola. Fundação Victor Civita.Pesquisa exclusiva Ibope e Nova Escola. A educação vista pelos olhos do professor.São Paulo: Editora Abril, ano 22, n. 207,p. 33, nov. 2007.
6Idem. Escola e família. Todos aprendem com essa parceria. ano 21, n. 193, p. 34, jun.e jul. 2006.
7Idem. Fala Mestre. Educação Moral (pesquisa coordenada pela Profª. Maria Suzana Menin, da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp,Campus de Presidente Prudente- SP). ano 27, n. 257, p. 32 e 34, nov. 2012.
8Idem. Formação. Escola e família. Sem culpar o outro. ano 24, n. 225, p. 102 a 106, set. 2009.
9Disponível em: (Valores familiares estão em alta na Europa, aponta pesquisa). Acesso em: 31/3/2013; Revista Veja.São Paulo: Ed.Abril, 11/8/1999,p. 98 e ss. (Viva o Casamento); 8/3/2006, p. 104 e ss. (Vale a pena consertar?) e 25/8/2010,p. 98 e ss. (Casamento:por que ele continua a valer a pena); e GOTTMAN, John. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. 26. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 36 e seguintes. 10Revista Veja. São Paulo: Ed. Abril. A moral é animal. Entrevista: páginas amarelas,n. 2.022, p. 12, ed. de 22 de agosto de 2007. 11MATEUS, 12:46 a 50.12DENIS, Léon. Depois da morte. 28. ed.
1. imp. Brasília: FEB, 2013. pt. quinta, cap.54, A educação.

0 comentários:

Postar um comentário

VOTE AQUI

Postagens Populares

Isto não é Espiritismo - Frases, Fotos e Luzes

Minha lista de blogs

POST POR ASSUNTOS

a (1) ABORTO (9) ADULTÉRIO (1) ALCOOLISMO (1) Allan Kardec (11) ALMA (2) ANENCEFALIA (5) ANIMAIS (4) ANIMISMO (5) ANJOS (2) ANOREXIA (1) ANSIEDADE (1) APARIÇÕES (4) Artigo (524) AS DORES DA ALMA (12) AS DORES DA ALMA;ORGULHO (1) ÁUDIO E VIDEO (2) BIOGRAFIA (12) BULLYING (2) CALUNIA (4) CÂNCER (1) CARÊNCIA (1) CARIDADE (14) CARNAVAL (4) CASAMENTO (6) CASOS (5) CATARINA DE SIENA (1) CENTRO ESPIRITA (3) CHACRA (1) CHICO XAVIER (243) CIRURGIAS ESPIRITUAIS (6) CIUMES (2) CLONAGEM (1) CONVIVER E MELHORAR (7) CREMAÇÃO (1) CRIANÇA INDIGOS (8) CRIANÇAS (8) CULPA (1) DEPRESSÃO (16) DIALOGO COM AS SOMBRAS (28) DIVALDO FRANCO (145) DIVORCIO (2) DOAÇÃO DE ORGÃOS (1) DOENÇAS (8) DORA INCONTRI (12) DOWNLOAD (5) DUENDES (1) EMMANUEL (67) ENTREVISTA (25) EQM (4) ESPIRITISMO (5) ESPIRITO (26) EUTANÁSIA (4) EVENTO (121) EXILADOS DE CAPELA (2) FAMILIA (26) FANATISMO (3) (2) FEIRA DO LIVRO ESPIRITA (11) FELICIDADE (5) FILHO ADOTIVO (6) FILHOS (22) FILME (36) FINADOS (4) FLUIDO (2) FOTOS (17) GUERRA (2) HOMOSSEXUALIDADE (20) HUMOR (4) INVEJA (2) Joana de Ângelis (100) JORGE HESSEN (24) JORGE HESSEN art (3) LIVRE ARBITRIO (4) LIVRO (56) LIVRO DOS ESPIRITOS (2) LUTO (2) MÃE (3) MÁGOA (5) MALEDICÊNCIA (2) MARILYN MONROE (1) MEDIUM (67) MEDIUNIDADE (83) MELANCOLIA (1) MELINDRE (4) MENSAGEM (375) MESA GIRANTE (2) MÔNICA DE CASTRO (8) MORTE (60) MOURA FÉ (62) MUSICA (6) NILZA AZEVEDO (10) NOTICIAS (236) OBSESSÂO (20) ORGULHO (3) PASCOA (2) PÁSCOA (3) PASSE (9) PEDOFILIA (2) PERDÃO (15) PERISPIRITO (6) PERSONAGEM DA BOA NOVA (6) PINTURA MEDIUNICA (4) POESIA (10) PRECONCEITO (22) PROVAS (13) PSICOGRAFIA (4) QUALIDADE NA PRATICA MEDIUNICA (10) RECOMEÇAR (2) REENCARNAÇÃO (37) REFLEXÃO (104) RELACIONAMENTO (35) RELIGIÃO (1) RENOVANDO ATITUDES (31) S (1) SEMESPI (17) SEXO (14) Síndrome de Down (1) Síndrome do Pânico (1) SOLIDÃO (2) SONAMBULISMO (4) SUICIDIO (11) TATUAGEM (1) TOLERANCIA (3) TÓXICOS (5) TRAGÉDIA (5) TRANSTORNO BIPOLAR (1) TRISTEZA (1) VAIDADE (2) VAMPIRISMO (5) VIAGEM ASTRAL / DESDOBRAMENTO (1) VIDEO (28) VINHA DE LUZ (3) VIOLENCIA (2) ZIBIA GASPARETTO (6)