O homem de bem
Segundo Allan Kardec, na questão 918 de O Livro dos Espíritos (LE) e no capítulo XVII, item 3, de O Evangelho segundo o Espiritismo (ESE) “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.
Se desejarmos sintetizar essa bela mensagem de Allan Kardec sobre o homem de bem, basta-nos refletir acerca do conteúdo desse primeiro parágrafo. Tudo o mais que vem a seguir decorre do que ele contém. Podemos mesmo afirmar que já a primeira frase traz a norma máxima da vida do homem de bem: o cumprimento da lei de justiça, de amor e de caridade.
Já lemos e ouvimos muitas vezes a recomendação de que o segredo da felicidade é contribuir para a felicidade alheia, mas infelizmente ainda trazemos enraizado em nosso íntimo o desejo de que nos façam felizes. Exemplos: 1) o casal de namorados espera, um do outro, que o faça feliz e ambos esquecem que a felicidade consiste em dar cada qual o melhor de si em prol da felicidade alheia;
2) a família, a começar pelo marido e a mulher: quantas vezes, os segredos mais íntimos do casal acabam tornando-se conhecidos de muita gente?
Quantos lares são desfeitos em virtude da falta de fidelidade, jurada antes e no momento festivo das núpcias? E os maus exemplos que são presenciados pelos filhos, desde bem pequeninos? Vícios, conversas desrespeitosas sobre a vida alheia, discussões e até mesmo agressões são entraves à boa educação, que deve começar no lar.
Como se pode constatar, o cumprimento dessa lei em “sua maior pureza” não é fácil.Mas quando um único Espírito se ilumina, arrasta consigo uma multidão desejosa de seguir-lhe os passos. A outra parte do parágrafo inicial sobre o “homem de bem” refere-se a “interrogar a consciência”, ato dos mais louváveis, pois é nela que está impressa a Lei de Deus. (LE, questão 621.) Na questão 919, desse livro, que trata sobre “o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal”, somos recomendados a seguir o conselho socrático do conhecimento de nós mesmos.
Em resposta à nova indagação de Kardec (LE, questão 919a) sobre como conseguir esse conhecimento, Santo Agostinho propõe-lhe fazer, ao final de cada dia, um exame de consciência. Se não faltara a algum dever, se ninguém lhe guardara mágoa. “[...] Perguntai ainda mais: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”
Em seguida, recomenda: “Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado”. Continuando, afirma Kardec que o homem de bem “deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se lhe submete à vontade em todas as coisas”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Um filósofo chegou à seguinte conclusão: “Se Deus não existe, tudo nos é permitido”. Esse é o grande engano de muita gente. Sem a certeza da existência de Deus, muitas pessoas se autodestroem.
O Espiritismo, afirma Santo Agostinho, em sua mensagem sobre o autoconhecimento (LE, q. 919a), foi-nos enviado justamente para, não só por meio dos fenômenos, como das instruções dos Espíritos elevados, nos dar a certeza da vida futura e nos assegurar a existência de Deus como nosso Pai, e de Jesus como nosso guia. O homem de bem “tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Esse homem “sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar”. (Op. cit.) Sem o conhecimento da reencarnação, que o Espiritismo nos trouxe, seria difícil aceitar “sem murmurar” todas as aparentes injustiças da matéria. Ele nos proporciona a “fé inabalável”.
O homem de bem,“possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça”. (Op. cit.) Essa é que é a verdadeira caridade, a que nos impulsiona para o bem,movidos pelo amor ao próximo, e que nos dá a certeza de que “viver bem é viver para o bem”.
Vive para o bem quem Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros, antes do seu próprio interesse.
O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa. (Op. cit.) Os Espíritos nos afirmam que o desinteresse é a maior demonstração de nossa elevação moral bem como “a sublimidade da virtude.
[...] A mais meritória [virtude] é a que assenta na mais desinteressada caridade”. (LE, questão893.) “O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus”. (ESE, cap.XVII, item 3.) Esse é o que, independentemente da religiosidade ou não do próximo, atenta para o convite de Jesus: “Um novo mandamento vos dou. Que vos ameis uns aos outros tanto quanto eu vos amei”. (João, 13: 34.) “Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Esse respeito decorre da certeza mesma de que todos somos irmãos em Deus, avultando a vontade de ser bom e o respeito pelo próximo como mais importantes do que a crença.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor. (Op. cit.)
Aqui recordamos a máxima escrita por Kardec (Op. cit., cap. XV, item 10) e confirmada pelo apóstolo Paulo, na mensagem final desse capítulo: “Fora da caridade não há salvação”.
“Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitadosos seus”. (Op. cit., cap. XVII, item 3.) O limite dos nossos direitos, dizem-nos os Espíritos superiores, termina exatamente onde ameaçamos os do nosso próximo. “Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz”. (Op. cit.)
Por essas palavras finais, percebemos que ser homem de bem é um caminho longo a percorrer. Mas não devemos desanimar jamais, pois o mesmo caminho que percorre o bem também o faz a felicidade. Repetindo Allan Kardec, concluímos:
[...] Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. (Op. cit., cap. XVII, item 4.)
Referências:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Se desejarmos sintetizar essa bela mensagem de Allan Kardec sobre o homem de bem, basta-nos refletir acerca do conteúdo desse primeiro parágrafo. Tudo o mais que vem a seguir decorre do que ele contém. Podemos mesmo afirmar que já a primeira frase traz a norma máxima da vida do homem de bem: o cumprimento da lei de justiça, de amor e de caridade.
Já lemos e ouvimos muitas vezes a recomendação de que o segredo da felicidade é contribuir para a felicidade alheia, mas infelizmente ainda trazemos enraizado em nosso íntimo o desejo de que nos façam felizes. Exemplos: 1) o casal de namorados espera, um do outro, que o faça feliz e ambos esquecem que a felicidade consiste em dar cada qual o melhor de si em prol da felicidade alheia;
2) a família, a começar pelo marido e a mulher: quantas vezes, os segredos mais íntimos do casal acabam tornando-se conhecidos de muita gente?
Quantos lares são desfeitos em virtude da falta de fidelidade, jurada antes e no momento festivo das núpcias? E os maus exemplos que são presenciados pelos filhos, desde bem pequeninos? Vícios, conversas desrespeitosas sobre a vida alheia, discussões e até mesmo agressões são entraves à boa educação, que deve começar no lar.
Como se pode constatar, o cumprimento dessa lei em “sua maior pureza” não é fácil.Mas quando um único Espírito se ilumina, arrasta consigo uma multidão desejosa de seguir-lhe os passos. A outra parte do parágrafo inicial sobre o “homem de bem” refere-se a “interrogar a consciência”, ato dos mais louváveis, pois é nela que está impressa a Lei de Deus. (LE, questão 621.) Na questão 919, desse livro, que trata sobre “o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal”, somos recomendados a seguir o conselho socrático do conhecimento de nós mesmos.
Em resposta à nova indagação de Kardec (LE, questão 919a) sobre como conseguir esse conhecimento, Santo Agostinho propõe-lhe fazer, ao final de cada dia, um exame de consciência. Se não faltara a algum dever, se ninguém lhe guardara mágoa. “[...] Perguntai ainda mais: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?”
Em seguida, recomenda: “Examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado”. Continuando, afirma Kardec que o homem de bem “deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se lhe submete à vontade em todas as coisas”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Um filósofo chegou à seguinte conclusão: “Se Deus não existe, tudo nos é permitido”. Esse é o grande engano de muita gente. Sem a certeza da existência de Deus, muitas pessoas se autodestroem.
O Espiritismo, afirma Santo Agostinho, em sua mensagem sobre o autoconhecimento (LE, q. 919a), foi-nos enviado justamente para, não só por meio dos fenômenos, como das instruções dos Espíritos elevados, nos dar a certeza da vida futura e nos assegurar a existência de Deus como nosso Pai, e de Jesus como nosso guia. O homem de bem “tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Esse homem “sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar”. (Op. cit.) Sem o conhecimento da reencarnação, que o Espiritismo nos trouxe, seria difícil aceitar “sem murmurar” todas as aparentes injustiças da matéria. Ele nos proporciona a “fé inabalável”.
O homem de bem,“possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus interesses à justiça”. (Op. cit.) Essa é que é a verdadeira caridade, a que nos impulsiona para o bem,movidos pelo amor ao próximo, e que nos dá a certeza de que “viver bem é viver para o bem”.
Vive para o bem quem Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros, antes do seu próprio interesse.
O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa. (Op. cit.) Os Espíritos nos afirmam que o desinteresse é a maior demonstração de nossa elevação moral bem como “a sublimidade da virtude.
[...] A mais meritória [virtude] é a que assenta na mais desinteressada caridade”. (LE, questão893.) “O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus”. (ESE, cap.XVII, item 3.) Esse é o que, independentemente da religiosidade ou não do próximo, atenta para o convite de Jesus: “Um novo mandamento vos dou. Que vos ameis uns aos outros tanto quanto eu vos amei”. (João, 13: 34.) “Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam”. (ESE, cap. XVII, item 3.) Esse respeito decorre da certeza mesma de que todos somos irmãos em Deus, avultando a vontade de ser bom e o respeito pelo próximo como mais importantes do que a crença.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor. (Op. cit.)
Aqui recordamos a máxima escrita por Kardec (Op. cit., cap. XV, item 10) e confirmada pelo apóstolo Paulo, na mensagem final desse capítulo: “Fora da caridade não há salvação”.
“Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitadosos seus”. (Op. cit., cap. XVII, item 3.) O limite dos nossos direitos, dizem-nos os Espíritos superiores, termina exatamente onde ameaçamos os do nosso próximo. “Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz”. (Op. cit.)
Por essas palavras finais, percebemos que ser homem de bem é um caminho longo a percorrer. Mas não devemos desanimar jamais, pois o mesmo caminho que percorre o bem também o faz a felicidade. Repetindo Allan Kardec, concluímos:
[...] Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. (Op. cit., cap. XVII, item 4.)
Referências:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
______. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
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