Livros pioneiros obtidos de gravações de psicofonias
Reformador: Como foram os episódios prévios ao Grupo Meimei?
Arnaldo: Após a desencarnação de Meimei, em 1946, conheci Chico Xavier e o Grupo Dalva de Assis (em Belo Horizonte), dirigido pelo meu irmão Geraldo Rocha, onde até 1948 atuei como médium psicofônico. Certo dia, ofre Lelis (colega militar e colaborador de Juscelino Kubitschek) dirigia a reunião e manifestou-se um Espírito muito prepotente. Tentaram “doutriná-lo” – o que não é aceitável –, porque se deve dialogar com os Espíritos sem qualquer ideia de doutrinação. Passei a dialogar com o Espírito e relatei a modificação de minha vida e a aprendizagem com Meimei, a quem o comunicante passa a ver. Em seguida, a médium Eni Fasanelodesigna-me como responsável pelos diálogos. Ao visitar Chico Xavier, este confirmou minha nova incumbência e transmitiu-me as orientações iniciais de Emmanuel: nunca discutir com a entidade comunicante e nem falar que ela já “morreu”. Chico começou a comparecer a essas reuniões das quartas-feiras, em Belo Horizonte, entre 1949 e 1951, quando não ocorria a reunião no lar de Dr. Rômulo Joviano, em função de viagens deste. Passei a verificar que Chico era assediado por Espíritos necessitados e que era imprescindível uma reunião mediúnica para atendê-los. Chico Xavier sempre comentava sobre a dificuldade, desde a desencarnação de seu irmão José, de participar de reu reunião mediúnica. Chico ainda prosseguiu com um grupo de confiança, organizado por José, mas certo dia ocorreu a conhecida “surra do Evangelho” e então o médium suspendeu a reunião.
Reformador: E como surgiu o Grupo Meimei?
Arnaldo: Semanalmente participava das reuniões citadas e também do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo. Em 1952, passamos então a funcionar nesta cidade, dando início ao Grupo Meimei, com médiuns experientes da localidade, como Lucília, irmã de Chico, e amigos de Belo Horizonte, completando até oito médiuns. O Grupo Meimei foi fundado em 31 de julho de 1952, mas somente veio a ter sede própria no ano de 1954. Na sede do “Luiz Gonzaga” não ocorriam transes psicofônicos de Chico Xavier, apenas as psicografias.
Aprendi muito com o Chico, durante seus transes mediúnicos. Após o término das reuniões, sempre conversávamos sobre as mesmas, estendendo o encontro para a casa de seus irmãos André ou Cidália, casadacom Chiquinho Carvalho. Chico sempre recomendava para não se estimular a vaidade e o orgulho dos médiuns.
Reformador: Quando e como surgiram as gravações das reuniões?
Arnaldo: No início de 1954, Carlos Torres Pastorino visitou Pedro Leopoldo e se interessou em conhecer o Grupo Meimei. Ao constatar a riqueza das reuniões – pois todos conheciam Chico Xavier como médium de “Espíritos de luz”, mas desconheciam que ele atuava como qualquer outro médium –, doou um gravador, à época um equipamento ainda raro. Pastorino ensinou-me como utilizar o aparelho e passamos a gravar as reuniões a partir do dia 11 de março de 1954. Transcrevemos as psicofonias e as mostramos a Pastorino numa outra visita sua. Como precisei ir ao Rio, em função de trabalho, levei algumas fitas gravadas e transcrições para mostrá-las ao presidente da FEB, Dr. Wantuil de Freitas. Ele atendeu-me com muita atenção e recomendou que passasse tudo para o papel, porque àquela época, duplicar e comercializar gravações seria muito oneroso e com pouquíssimo número de pessoas com disponibilidade para ouvi-las. Sugeriu que preparássemos um livro. Elaborei o primeiro: Instruções Psicofônicas. A transcrição inicialmente foi feita por mim e depois o marido de Lucília, o Pacheco (apelido de Waldemar Batista da Silva), passou a colaborar.
Emmanuel fez as revisões dos textos. Organizamos o livro e Chico recomendou que aparecêssemos como coautores, mas não concordamos, definindo que escreveríamos apenas a apresentação (“Explicação necessária”). Fizemos os registros, a doação dos direitos à FEB, e levamos o texto ao seu presidente. Dr. Wantuil de Freitas considerou-o uma preciosidade e o livro foi publicado pela FEB, em 1956. Ocorreram até críticas de alguns, pois adotei o termo psicofonia e não incorporação. Chico recomendou que nos calássemos.
Reformador: Surgiram outros livros?
Arnaldo: Organizamos depois Vozes do Grande Além, lançado em 1957. Houve até um diálogo interessante entre mim e o médium para chegarmos a um ponto comum com relação ao título. Logo depois que Chico se mudou para Uberaba entreguei a ele parte dos originais para um eventual novo livro, obtido das gravações das psicofonias. A cada visita, lembrávamos a Chico e este sempre respondia: “É mesmo, precisamos publicá-lo...”. Depois mudei-me para Brasília, passei a visitá-lo esporadicamente, o tempo passou, e o terceiro livro não foi publicado.
Reformador: Como era Chico como médium psicofônico?
Arnaldo: Chico, como médium psicofônico,mudava totalmente o tom de voz, distinguindo-se perfeitamente os tons masculino e feminino. Situações de transfiguração eu constatei muitas vezes em manifestações através dele, principalmente quando os comunicantes eram Espíritos femininos. Numa das reuniões do Grupo Meimei, o Espírito José Cândido Xavier manifestou-se informando que nos mantivéssemos em preces, porque naquela noite contaríamos com a participação de Teresa d’Ávila, não numa presença direta: ela nos dirigiria a mensagem emitida de altas esferas espirituais e utilizando intermediações (Instruções psicofônicas, cap. 32). Em seguida, sentimos o aroma de perfume de rosa efeito raro no Grupo Meime, e recebemos suas orientações. Durante a manifestação, percebemos a transfiguração do médium Chico Xavier. Há muitos outros fatos impressionantes, como diversas manifestações de Pedro de Alcântara, considerado santo pela Igreja (Op. cit., cap. 11, nota de rodapé), e que, segundo Chico, foi um dos personagens do romance Ave Cristo!. Aliás, verifiquei transfiguração também com a médium Eni Fasanelo, em 1946, quando, pela primeira vez, manifestou-se Meimei, e se dirigiu a mim. Ouvi aquela voz meiga e calma, utilizando maneirismos e pronunciando palavras que apenas eu conhecia como seu marido. Quando olhei para a médium verifiquei que seu rosto estava diferente, rejuvenescido, pois Meimei desencarnou jovem.
Reformador: Chico participava de muitas reuniões semanais?
Arnaldo: Em Pedro Leopoldo, Chico já participava de reuniões no “Luiz Gonzaga” às segundas e sextas-feiras, às quartas-feiras comparecia nas reuniões no lar do Dr. Rômulo Joviano, na Fazenda Modelo, e às quintas-feiras no Grupo Meimei. Emmanuel recomendou que Chico iniciasse uma outra reunião no Grupo Meimei. Surgiu assim a reunião mediúnica dos sábados. Foi no Luiz Gonzaga que se realizaram as reuniões de materialização, quando Peixotinho visitou o Chico.
Reformador: Há alguma orientação espiritual que gostaria de destacar?
Arnaldo: Certa feita, divergi de meu irmão Geraldo Rocha, no atendimento de uma médium no Grupo Meimei, porque eu entendia que embora estivéssemos identificando uma manifestação anímica, o atendimento com um diálogo calmo e fraterno deveria ocorrer da mesma forma. Nas semanas seguintes, o orientador Emmanuel discorreu de forma muito esclarecedora, na mensagem que foi intitulada “Trio Essencial” (Instruções Psicofônicas, cap. 59). Vale a pena refletir sempre sobre este texto. De outra feita, um Espírito prepotente e autoritário se manifestou e afirmou que não queria que sua voz fosse registrada no aparelho.Ao final da reunião, para surpresa minha, verifiquei que houve algum problema e realmente a mensagem não foi gravada. Dialoguei com a mesma entidade espiritual, várias vezes, durante uns nove meses, ocorrendo muitas informações interessantes e ela acabou se transformando num grande amigo nosso o Cerinto (identificado como C.T. em Instruções Psicofônicas, cap. 37) – e que conduziu muitos Espíritos para o atendimento em nossa reunião. Em Vozes do Grande Além, está incluída a “Prece de Cerinto”.
Reformador: O que teria a dizer ao leitor sobre os dois livros citados e sobre os 150 anos de O Livro dos Médiuns?
Arnaldo: Os dois livros focalizados devem ser estudados no Movimento Espírita, e até para valorizar as reuniões mediúnicas, pois a maioria das pessoas
conhecem Chico apenas como médium psicógrafo. Tive contatos com muitas pessoas que me reconhecem pelo fato de tê-los organizado e me relatam
sobre a utilização em palestras dos casos registrados nos livros. No ano da comemoração dos 150 anos de O Livro dos Médiuns, aconselho a leitura e o estudo deste livro e também de O Céu e o Inferno, que contém relatos de manifestações espirituais, pois entendo que ambos ainda são grandes desconhecidos dos espíritas.
0 comentários:
Postar um comentário