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20 de jan. de 2014

Entrevista - História da construção da FEB em Brasília



Aos 91 anos, Israel Quirino do Nascimento relata fases iniciais da construção da Sede da FEB, em Brasília

Reformador: Como chegou a Brasília?

Israel Quirino: A inspetoria federal de obras contra as secas – distrito João Pessoa –, publicou no jornal que necessitava de auxiliar de desenhista e eu me inscrevi.
Fiz a prova e fui aprovado em primeiro lugar. Olhando meus filhos com idade entre 9 meses e 12 anos, comecei a pensar que meus meninos não poderiam ser criados em João Pessoa e tinham que ir para uma cidade grande. Resolvi escrever para o Dr. Manoel Martins de Athayde. A resposta foi rápida: “Venha, eu não prometo nada!”. Vim para Brasília, mas três dias antes do meu embarque encontrei o genro do senador Humberto Lucena, que era presidente do Senado Federal, e ele me perguntou: “Quirino, você vai para Brasília? Leve uma carta para Antônio Fernandes Soares, que é o primeiro procurador da FEB, que está precisando de um auxiliar; e você, como é desenhista, arrojado e meio doido... Ele precisa de um auxiliar como você”. Ele me entregou a carta e eu viajei no dia 5 de fevereiro de 1962. Quando eu cheguei aqui as dificuldades eram inúmeras. Três meses sozinho e me esqueci da carta. Somente em 1964 achei a carta dirigida ao Antônio Soares. Fui para a casa dele e ele me recebeu de braços abertos, parecia um irmão antigo. No outro dia eu já fui olhar o terreno oferecido para a FEB.

Como se desenvolveram os preparativos para a construção da Sede da FEB?


No encontro com o Soares, ele logo começou a falar da história do terreno: “Quirino, deu um trabalho muito grande: eu requeri um terreno para a FEB e a Novacap ofereceu um terreno de 300 por 500 metros, ao lado da Ponte do Bragueto, mas eu não podia aceitar porque era muito distante para ter frequência. Rejeitei e então pediram para fazer um novo requerimento” – ele era um alto funcionário do Banco do Brasil.
Assim, ofereceram outro que coincidia com a área do grupo escolar.
Houve um terceiro requerimento e, por coincidência, estavam disponíveis estes dois lotes vagos “F” e “G”, respectivamente, de 50 por 200 metros e de 60 por 200 metros. Assim, surgiu a destinação do terreno atual para a FEB.

Como iniciou seu trabalho na FEB?

Numa comunicação do Espírito Guillon Ribeiro, que foi presidente da Federação, ele me convocou para fazer os projetos do conjunto arquitetônico da FEB; relutei por muito tempo. Eu achava que não tinha condição, não era arquiteto, nem tinha curso superior e achava que teria muita dificuldade, mas a insistência dele foi tão grande que, quando aceitei, ele disse “Nós te ajudaremos”; eu fiquei num entusiasmo muito grande e comecei a fazer esboço, esboço e mais esboço.

Guillon passou dois meses sem se comunicar e, no terceiro mês, na reunião mediúnica na casa do Dr. Soares, eu disse: “O Guillon conversou comigo, insistiu, me convidou e sumiu?”. Então, ele se comunicou, dizendo: “Quirino, eu não sumi, nós estávamos acompanhando o seu entusiasmo. Não se inicia nada quando a pessoa não tem entusiasmo nem calor”. Assim, no dia seguinte, iniciei o projeto. Em papel manteiga, comecei a fazer os desenhos. No primeiro, foi o prédio um, o segundo foi a biblioteca, o terceiro foi o museu, o quarto foi a casa do administrador, o quinto foi o prédio redondo, o sexto foi o anexo lá nos fundos e o sétimo, um prédio que está só projetado lá na parte posterior do terreno. É um prédio enorme de 8.000 metros quadrados com dois subsolos.
A ideia inicial era que no subsolo fosse instalada a gráfica para ser confeccionado o Reformador, em Brasília; no segundo iam ficar os jornais e, no terceiro, um equipamento para dar apoio a todos os órgãos da Federação, sobretudo das Reuniões Zonais Norte, Sul, Leste e Oeste. O projeto desse bloco está, desde então, arquivado.

Como foram os preparativos para as obras?

Projetados os edifícios, eu, muito ligado ao Antônio, lhe disse: “Antônio, nós precisamos fixar um barraco no terreno, a reunião não pode ser feita na sua casa, e a Entidade precisa nos fixar no terreno. Chamei um amigo português e lhe pedi para doar a madeira. Ele me atendeu. Cheguei sem ninguém ver e fiz um barraco de 10 x 15 metros, então chamei o Antônio e falei para ele: “Já começamos a FEB, o barraco vai sair”.

No que me respondeu: “Quirino, eu tenho nove mil cruzeiros, mas não dou de jeito nenhum, porque ainda não tenho a escritura do terreno”. Fiz amizade com um comprador da Novacap, ele me doou um caminhão de tábuas, depois fiz amizade com outro, que me deu as telhas; depois saí pedindo, pedindo... Com dois meses o barraco estava pintado e pronto. Com o esboço pronto, o Antônio disse: “Você vai ao Rio de Janeiro, se apresenta a Wantuil de Freitas para ele dar o aval”. Viajei para o Rio de Janeiro e fiquei na Federação sentado, quando passou um cidadão veloz, parecia um meteoro. Era o Wantuil, gravatinha borboleta, pequenininho, roupa de linho. Eu já o estava esperando há uma hora, quando passou outra pessoa e eu disse para ela que precisaria falar com o Dr. Wantuil, pois teria que retornar naquele mesmo dia para Brasília. Nesse momento, ele passou e a pessoa o chamou: “Sr. Wantuil, tem um Quirino aí e quer falar com o senhor”. E o Wantuil disse: “Quirino, ô Quirino entra”. Abraçou-me, me levou para o escritório e falou: “Quirino, que felicidade vê-lo”. Nunca tinha me visto. E continuou: “Quirino, abre os desenhos, Quirino”. Quando abri os desenhos, ele disse: “Que beleza! Fecha os desenhos.

De onde é que você veio, Quirino?”. Respondi: “Vim de Brasília; não, eu fui para Brasília, eu era de João Pessoa”. “Você veio de João Pessoa? Conheceu o Sr. Augusto Romero, meu amigo, presidente da Federação Paraibana há mais de 20 anos? Você trabalhou com ele?”. Respondi: “Trabalhei”. “Então vai trabalhar comigo, vai dar certo. O que é que você fez lá?”. “Fiz o projeto da Federação Espírita Paraibana”. “Ih, vai dar certo”, e fez aquela festa. Pediu para eu abrir novamente os desenhos, e concluiu: “Quirino sabe de uma coisa, eu não entendo nada disso, já mandei abrir e fechar, mas não vi nada, e esses óculos não prestam; segunda-feira vou trocar as lentes. Fecha os desenhos, vá para Brasília. Você e o Antônio são os responsáveis pela obra”. Quer dizer, foi assim que eu conheci o Wantuil, nunca ninguém me deu essa oportunidade, esse choque.

E o início das construções?


Ao retornar, começamos a entrar em contato com a prefeitura, redesenhar, porque eu tinha levado o esboço e precisava de um engenheiro para assinar. Procuramos e não encontramos. Então, o Antônio colocou um anúncio no Correio Braziliense: “A Federação Espírita Brasileira vai iniciar as suas obras, está com projeto pronto, mas precisa de um engenheiro para assinar de graça”. Apareceram dois, inclusive um coronel da Aeronáutica que era engenheiro civil. Veio aqui, assinou, tirou as cópias e ficou trabalhando com a gente. Começamos o barraco. Fui à Novacap, porque além de fazer os desenhos, eu teria que obter a aprovação. Atendi as recomendações e exigências da Novacap, recuei uns 40 metros e construímos o Cenáculo, com muito trabalho, porque não havia dinheiro, o dinheiro vinha pingado do Rio.

Levantamos as paredes e cobrimos, mas faltava o piso. Nesse ponto, o Antônio telefonou para Dr. Wantuil: “Dr. Wantuil eu preciso de 40 contos, encontrei um piso baratinho”. Wantuil disse que não tinha dinheiro e Antônio respondeu: “Então eu vou fechar”. “Feche e traga a chave”, disse Wantuil. Eles eram assim, se chocavam. Um dia o Antônio pegou o avião e levou a chave. Quando chegou ao Rio, Wantuil deu-lhe bom dia e entregou-lhe um cheque. Ele voltou e colocou o piso.

E as campanhas para a construção?

Um companheiro nosso, Sr. Vieira, grande colaborador, era gerente de uma firma de terraplanagem e nos ofereceu as máquinas para fazer a escavação, e esta foi iniciada. Uma escavação enorme... e aquela terra foi sendo distribuída aqui no lote. Empregamos mais ou menos uns cinco mil caminhões de terra, porque havia muita vala, muita depressão no terreno. Fizemos a primeira construção no térreo, com salão para refeição, para repouso, e um apartamento. Antônio disse: “Vamos fazer um apartamento, porque pode vir um presidente passar aí uma semana, passar um mês...”. O apartamento térreo foi depois utilizado pelo presidente Francisco Thiesen, e o superior por Cecília Rocha.

Palavras finais.

Eu tenho uma história muito ligada com a construção da FEB, em Brasília. Tenho um amor enorme por tudo isso, e o prédio frontal oferece uma atração fantástica para permanecer aí por longo tempo.


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