DESENCARNA HERMÍNIO MIRANDA
Hermínio (05/01/1920 - 08/07/2013)
"O pássaro agora voa liberto. Nós, que não mais podemos vê-lo, já sentimos saudades do seu canto."
Jáder Sampaio
Na década de 80 a União
Espírita Mineira, em associação com a Aliança Municipal Espírita de Belo
Horizonte, trouxe três estudiosos do espiritismo para um seminário
sobre mediunidade. Jorge Andréa dos Santos, Suely C. Schubert e Hermínio
C. Miranda.
Hermínio estava
incomodado com o púlpito. Não era expositor, dizia, apenas escritor.
Assentado, com um maço de páginas nas mãos, começou a ler seu discurso. E
que discurso! Superado o impacto inicial de ouvir uma leitura, as
palavras dele criavam vida após sair do papel. Eram tantas informações e
com tanta elegância, que eu me dividia entre as anotações furiosas que
fazia e a atenção necessária para acompanhar cada nuance, cada
expressão, cada frase. Se ele temia o público, arrisco minha opinião
póstuma: ele fez bonito!
Hermínio era reservado,
tinha uma personalidade anglo-saxônica. A esposa completava-lhe o que
lhe faltava. Recordo-me dela expansiva, simpática, calorosa. Os dois
formavam um belo casal, cada um admirado por suas qualidades díspares.
Hermínio já era
nonagenário, com extensa contribuição ao espiritismo e ao movimento
espírita. Durante anos manteve uma coluna no Reformador, chamada "Lendo e
Comentando". Ela trouxe aos trópicos de forma sistemática o que se
pesquisava sobre comunicação dos espíritos e reencarnação nas terras
anglófonas. Creio que das páginas do Reformador saiu o material para a
composição dos livros "Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos" e
"Reencarnação e Imortalidade".
Um de seus trabalhos
sistemáticos foi com o atendimento aos espíritos. Apesar da
personalidade reservada, ele mostrava um senso de percepção incomum e
uma capacidade de diálogo transformadora. Como gravasse seus
atendimentos, pode nos oferecer uma quadrilogia de livros intitulada
"Histórias que os espíritos contaram", hoje publicada pela editora
Correio Fraterno. A teoria do seu trabalho diferenciado, no qual incluiu
técnicas dos magnetizadores do século XIX, encontra-se em dois livros:
Diálogo com as sombras (FEB) e Diversidade dos Carismas (Lachâtre).
As incursões pelo
magnetismo não se restringiram ao mundo das sombras, e ele fez sessões
de regressão de memória com algumas pessoas. Luciano dos Anjos foi um
sujet pleno de recordações da França revolucionária, que ele registrou
no livro "Eu sou Camille Desmoulins", publicado em 1989, no bicentenário
da revolução francesa, com uma explicação do autor que assegurava não
ter podido publicar antes, e não estar se aproveitando das comemorações.
Para quem agora escreve, seria uma simetria histórica.
Simetria histórica é um
dos conceitos que ele desenvolveu e que foi empregado em muitos dos seus
livros. As Marcas do Cristo (FEB), é um exemplo deste tipo de trabalho,
no qual Hermínio compara a personalidade e história de Paulo de Tarso
com a de Martinho Lutero. Este conceito seria empregado pela Dra. Nadia
Luz, em sua tese de doutoramento em história, publicada na coleção
Espiritismo na Universidade.
As biografias foram
também uma de suas paixões. Ele publicou diversas, recuperando para o
movimento espírita personalidades que passariam despercebidas nos dias
de hoje, apesar de sua relevância. Guerrilheiros da Intolerância
(Lachâtre), Hahnnemann, apóstolo da medicina espiritual (CELD), O
pequeno laboratório de Deus (Lachâtre) e Swedenborg, uma análise
crítica, são alguns dos exemplos.
Um de seus interesses
era com a psicologia, na sua interseção com os fenômenos espirituais. Um
de seus livros neste campo tornou-se best seller: Nossos filhos são
espíritos (Lachâtre). Autismo, uma leitura espiritual (Lachâtre) e
Condomínio Espiritual (Lachâtre) são alguns dos trabalhos com este
perfil.
Creio que um dos temas
que mais o intrigava era a transformação do cristianismo. Ele contribuiu
com Os cátaros e a heresia católica (Lachâtre), Cristianismo, a
mensagem esquecida (Lachâtre), Candeias da noite escura (FEB) e O
evangelho gnóstico de Tomé (Lachâtre).
Das traduções, sua obra
prima, é A história triste, de Patience Worth, que desenterrou do
esquecimento juntamente com Memória Cósmica, cuja tradução está perdida
em seu hard-disk.
Os livros do egito, que
povoa suas recordações de além cérebro, o Edwin Drood, o livro de
Dickens completado pela mediunidade e igualmente desenterrado por
Hermínio, O processo dos espíritas, que reconta a injusta perseguição da
sociedade francesa a um dos continuadores de Kardec, Leymarie, e muitos
e muitos livros que não vou ficar citando, trazem seu nome e são frutos
das suas horas de trabalho sério.
Voa, meu amigo, voa. Vai
conhecer novos mundos, recordar mais vivências, reviver os tempos do
Cristo. Voa bem alto, para que um dia possa retornar falando das luzes e
do futuro.
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