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17 de out. de 2012

MÉDIUNS SEM O SABER




 Na sessão da Sociedade a 16 de setembro de 1859 foram lidos diversos fragmentos de um poema do sr. de Porry, de Marselha intitulado Urânia. Como foi observado, no poema abundam as ideias espíritas, aparentemente bebidas na fonte mesma do Livro dos espíritos. Entretanto foi constatado que na época em que o autor o escreveu nenhum conhecimento possuía da Doutrina Espírita.
     Nossos leitores apreciarão que lhes demos alguma amostras. Lembram-se certamente do que foi dito relativamente a maneira por que o Sr.de Porry escreveu seu poema, maneira que parece denunciar uma espécie de mediunidade involuntária (vide o n. de outubro de 1859, pág. 301). Aliás é constante que os Espíritos que nos cercam, que exercem sobre nós, mau grado nosso, uma influência incessante, aproveitem as disposições que encontram em certos indivíduos para as transformar em instrumentos das ideias que querem exprimir e levar ao conhecimento dos homens. Tais indivíduos são.sem o saber, verdadeiros médiuns, e para isto não necessitam possuir a mediunidade mecânica. Todos os homens de gênio,poetas, pintores e músicos estão neste caso; certamente seu próprio Espírito pode produzir por si mesmo, caso seja bastante adiantado para tal; mas muitas ideias também nos podem vir de uma fonte estranha. Pedindo inspiração, não parece que esteja fazendo um apelo? Ora, o que é a inspiração se não uma ideia sugerida? Aquilo que tiramos do nosso próprio fundo não é inspirado;nós o possuímos  e não temos necessidade de o receber. Se o homem de gênio tirasse tudo de si mesmo, porque então lhe faltariam ideias exatamente no momento em que as busca? Não seria ele capaz de tirar seu bolso? Se aí nada encontra em dado momento é porque nada tem. Por que será que, quando menos esperamos, asa dizer que as ideias brotam como por si mesmas? Poderiam os fisiologistas dar a explicação de tal fenômeno? Algum dia procuraram resolvê-lo? Dizem eles: o cérebro produz hoje, mas não produzirá amanhã? Ficam reduzidos a dizer que é porque produziu na véspera.
     Segundo a Doutrina Espírita, o cérebro pode sempre produzir aquilo que está nele. Por isso é que o homem mais inepto acha sempre alguma coisa a dizer, mesmo que seja uma tolice. Mas as ideias de que não somos senhores não são nossas: elas nos são sugeridas. Quando a inspiração não vem é porque o inspirador aí não está ou não julga conveniente inspirar.
     Parece que tal explicação é mais valiosa que a outra.
     Poder-se-ia objetar que não produzindo, o cérebro não devia fatigar-se. Isto seria um erro: o cérebro não deixa de ser o canal por onde passam as ideias estranhas, e o instrumento que executa . O cantor não fatiga seus órgãos vocais, posto não seja a música de sua autoria?  Por que se não fatigaria o cérebro em exprimir ideias que está encarregado de transmitir, posto não as tenha produzido? Sem dúvida é para lhe dar repouso necessário a aquisição de novas forças, que um inspirador lhe impõe um compasso de espera.
     Pode ainda objetar-se que este sistema tira ao produtor o mérito pessoal, pois se lhe atribuem ideias de uma fonte estranha. A isto responderemos que, se as coisas assim se passassem, não saberíamos o que fazer e não teríamos muita necessidade de nos enfeitarmos com as penas de pavão. Mas tal objeção não é séria, porque não dissemos, de saída, que o homem de gênio nada tirasse de si mesmo; em segundo lugar porque as ideias que nos são sugeridas se confundem com as suas próprias, e ninguém as distingue. De modo que ele não é censurado por se atribuir a, sua paternidade, a menos que as tenha recebido a título de comunicação espírita constatada e quisesse ter a glória das mesmas. Isto, entretanto, poderia levar os Espíritos a fazê-lo passar por algumas decepções. Diremos , enfim, que se os Espíritos sugerem grandes ideias a um homem, dessas ideias que caracterizam o gênio, é porque o julgam capaz de as compreender, de as elaborar e de as transmitir. Eles não tomariam um imbecil para seu intérprete.
     Podemos, pois, sentir-nos honrados de receber uma grande e bela missão, sobretudo se o orgulho nos desviar do seu objetivo louvável e não nos fizer perder o seu mérito.
     Quer os pensamentos seguintes sejam do Espírito pessoal do sr. de Porry, quer tenham sido sugeridos por via mediúnica indireta, o poeta não terá menos mérito. Porque se a idéia lhe foi dada, cabe-lhe a honra de a ter elaborado.

Fonte: Revista Espírita- Ano II - Vol. 9 - 1859


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