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29 de out. de 2012

ENTREVISTA JORNAL VERDADE E VIDA








                Por Renata Girodo/São Paulo

Jornal Verdade e Vida: Defina mediunidade e os diferentes tipos que podem se apresentar.

 Jorge Hessen: 
Podemos definir mediunidade como a capacidade que temos de perceber a influência ou ensejar a comunicação dos Espíritos. Em o Livro dos Médiuns - cap. XIV, Allan Kardec assegura serem raros os que não têm essa percepção. Para Emmanuel, é aquela luz que seria derramada sobre toda carne. É atributo do Espírito, patrimônio da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura terrena. Em algumas pessoas a mediunidade é ostensiva e precisa ser disciplinada; noutras jaz latente, podendo revelar-se episódica. Numa definição mais circunscrita, a mediunidade tem um aproveitamento mais limitado, aplicando-se às pessoas dotadas de uma capacidade intercessora, seja para a produção de efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra. Para o Codificador, a mediunidade de efeitos físicos são as materializações, curas, transfiguração, pneumatofonia, pneumatografia, e a mediunidade de efeitos intelectuais são a intuição, psicografia, psicofonia, vidência, audiência, dentre outras.


Jornal Verdade e Vida:
 
Em sua opinião, a mediunidade pode se apresentar em todas as religiões? Por que ainda existe uma resistência de outros credos ao termo mediunidade?

 Jorge Hessen: 
Sim! Relembremos que a mediunidade é a “luz que seria alastrada sobre toda carne”, consoante anunciado por Jesus. A oposição de outros credos quanto à mediunidade conferimos basicamente à superstição e a falta de informação correta sobre a fenomênica mediúnica. Cremos que, quando os seguidores de outras designações religiosas compreenderem que o Cristo sancionou a mediunidade para todos os seus seguidores, a partir de então as suas igrejas beberão nas fontes límpidas dos fenômenos psíquicos, beneficiando-se com as suas imarcescíveis luzes.


Jornal Verdade e Vida: 
Você acredita que ainda hoje médiuns que não entendem o seu dom podem ser enviados a clínicas de repouso, sendo considerados com problemas psicológicos e mentais?

 Jorge Hessen: 
Com certeza! Dificuldades psicológicas e mentais podem ter vinculação com a obsessão (mediunidade torturada) que, mormente altera-se em demência, não só porque a lei das provações também o decreta, como igualmente na suposição de o obsedado oferecer-se voluntariamente ao embaraço das forças negativas do além que o circundam, elegendo essa espécie de provas.

Jornal Verdade e Vida: 
Existe diferença entre a mediunidade natural e a desenvolvida?

 Jorge Hessen: 
Considerando que mediunidade é a “luz derramada na carne”, então ela é natural, e portanto inerente a todos os homens. Nenhuma pessoa necessitará forçar o “desenvolvimento” da mediunidade, até porque, nesse território, toda a espontaneidade é imperiosa. É extremamente importante expor que a mediunidade não pode ser produto de afoiteza em qualquer setor da atividade doutrinária, pois que, em tal contexto, avigoramos a lembrança de que toda a espontaneidade é imprescindível, ponderando-se sempre que as empreitadas mediúnicas são conduzidas pelos instrutores do plano espiritual.


Jornal Verdade e Vida: 
Como a mediunidade surge nas crianças e como ela deve ser tratada?

 Jorge Hessen: 
A mediunidade pode surgir espontaneamente em qualquer idade. Cremos que na criança há inconveniência do exercício da faculdade por ser muito perigoso, pois seu organismo frágil e delicado padeceria de sequelas. Por isso os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias. Exceção feita, porém, segundo Kardec aclara no Cap. XVIII, as crianças que são médiuns inatos, quer de efeitos físicos, quer de escrita e de visões. Nesse caso, quando numa criança a faculdade se mostra espontânea, é que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso. O mesmo não acontece quando é provocada e sobre-excitada. Note-se que a criança que tem visões geralmente não se impressiona com estas, que lhe parecem coisa naturalíssima, a que dá muito pouca atenção e quase sempre esquece. Mais tarde o fato lhe volta à memória e ela o explica facilmente, se conhece o Espiritismo.


Jornal Verdade e Vida: 
Qual o mecanismo de desenvolvimento de mediunidade nos nossos irmãos menores – os animais?

 Jorge Hessen: 
Os animais, por não possuírem a faculdade do raciocínio, não têm capacidades mediúnicas conforme entendemos. Apesar disso, determinados animais têm sensibilidades psíquicas rudimentares, harmônicas à sua condição evolutiva, pelo meio das quais podem “perceber” Espíritos. Em O Livros dos Médiuns, Cap. XXII, abeira-se do tema certificando que Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o medo súbito que os animais denotam é determinado pela visão de Espíritos mal-intencionados em relação aos humanos presentes, lembrando porém, que nesse caso é sempre necessário o concurso, consciente ou inconsciente, de um médium humano, porque é imprescindível a união de fluidos magnéticos análogos, o que não existe nem nos animais (irracionais), nem na matéria grosseira. 

Jornal Verdade e Vida: 
Explique sobre o propósito da mediunidade, e como os médiuns auxiliam os encarnados e desencarnados.


 Jorge Hessen:
 O principal desígnio da mediunidade, sobretudo a ostensiva, é a correção dos desacertos praticados, nesta vida e noutras encarnações. Considerando que o médium precisa praticar os valores cristãos para ser leal ao seu programa espiritual, vai ajustando as tendências de reassumir os erros contidos no pretérito recente ou remoto. O atendimento pela psicografia, psicofonia, seja para orientação de encarnados ou de desencarnados, cura física e espiritual, clarividência ou clariaudiência ou qualquer outra manifestação mediúnica, está sempre permitindo ao médium a correção dos seus. 


Jornal Verdade e Vida: 
O que você pensa a respeito de pessoas que se utilizam da mediunidade, cobrando para fazer intercessões ao mundo espiritual?

 Jorge Hessen: 
Se um médium resolve fazer da mediunidade uma fonte de renda material, será mais prudente olvidar suas potencialidades psíquicas e não se arriscar pelo chão delicado dos assuntos espirituais. A mercantilagem no trato dos capítulos intensos da alma institui um comércio delinquente, do qual o médium imprevidente precisará aguardar no amanhã os resgates mais sinistros.


Jornal Verdade e Vida: 
Como o médium poderá controlar a manifestação de espíritos em ambientes não adequados?

Jorge Hessen: 
Depende da estatura moral do médium. O centro espírita, em tese, não pode ser apenas uma construção de cimento e tijolo. Não é o ambiente físico que influencia o exercício mediúnico, mas a postura moral do médium e do grupo. Uma Casa Espírita bem dirigida tende a se saturar das vibrações favoráveis para o intercâmbio com o além; porém, lamentavelmente há gravíssimos conflitos ideológicos e pessoais em vários núcleos espíritas, e nesses casos não recomendaria a prática mediúnica de nenhuma espécie, exceto a oração e o “jejum” mental.
Execramos o conceito do tal “fora do centro espírita não há salvação”. Nossas grandes inspirações para escrever ocorrem dentro de nossa casa. Os grandes médiuns desempenharam tarefas de psicografia fora do Centro Espírita - basta lembrarmos que O Livro dos Espíritos foi recebido em reuniões familiares. Se examinarmos médiuns como Ivone Pereira, Chico Xavier, Zilda Gama, Frederico Junior, e mesmo as obras da codificação, notaremos reuniões mediúnicas e recebimento de mensagens em lugares muito diferentes de um  Centro Espírita.
É bem verdade que para o médium ter um horário fixo, um grupo definido, um ambiente específico para essa finalidade, o centro pode facilitar a tarefa - não pela edificação material, mas pela disposição mental em que devem se achar os médiuns para isso. Naturalmente há tarefas complexas, como a desobsessão, por exemplo, que segundo creio, o ideal seja realizado impreterivelmente no Centro Espírita.



Jornal Verdade e Vida: 
Todos os médiuns conseguem ouvir e ou enxergar os seus guias espirituais, ou essa ação é variável?

Jorge Hessen: 
Há os que ouvem espíritos através de uma espécie de voz interior, que se faz ouvir no foro íntimo, mas há os que podem ouvir a voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa encarnada. Nesse caso, podem até mesmo travar conversação com os Espíritos. Para o Codificador, essa faculdade é muito agradável quando o médium ouve apenas Espíritos bons; já não o é quando um Espírito mau se lhe agarra, fazendo-lhe ouvir a cada instante as coisas mais desagradáveis e não raro as mais inconvenientes.
Quanto aos médiuns videntes, alguns poucos gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados. Kardec ressalta no Livro dos Médiuns que raro é que a vidência se mostre permanente – quase sempre é efeito de uma crise passageira. A faculdade de ver os Espíritos pode ser desenvolvida, mas é uma das de que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Para o Codificador, médiuns videntes propriamente ditos são raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidores dessa faculdade. É prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas. E fora de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se de boa-fé, porém outras podem também simular essa faculdade por amor-próprio ou por interesse.



Jornal Verdade e Vida:
 O tipo de mediunidade mais popular é a psicografia? Você acredita que Chico Xavier foi o principal divulgador dessa técnica?

Jorge Hessen: 
Entendemos que a mais notória das mediunidades seja a psicografia, e Francisco Cândido Xavier o mais admirável médium psicógrafo de todos os tempos.


Jornal Verdade e Vida: 
Como diferenciar experiências fora do corpo e as viagens ao plano espiritual dos sonhos?

Jorge Hessen: 
Pronunciam os Espíritos que uma experiência fora do corpo pode ser natural ou provocada. Deste modo, através do desdobramento podemos “percorrer” espaços imensuráveis com a velocidade do pensamento e nos deslocar para confins remotos (Europa por exemplo, e visitarmos um parente encarnado). Entretanto, qualquer “viagem” para as chamadas colônias espirituais, acreditamos ser tarefa mais intricada – urge um “passaporte” dos Benfeitores que outorgam ou não o acesso, e o fato pode advir durante o sono.


Jornal Verdade e Vida: 
Por que comer carne vermelha pode trazer prejuízos à energia do médium no momento do passe ou da ajuda aos desencarnados na mesa mediúnica?

Jorge Hessen: 
Conquanto os Benfeitores não desaprovem a alimentação animal, segundo questão 723 do Livro dos Espíritos, não recomendamos a ingestão de carne nos dias de tarefas mediúnicas. Os Bons Espíritos corroboram nossa assertiva quando ilustram na questão 724 que é importante privar-nos de comer carne em benefício dos outros. Emmanuel explana no item 129 do livro O Consolador que o consumo de carne é um vício de nutrição de enormes consequências, por isso devemos trabalhar pelo advento de uma Nova Era em que dispensaremos a alimentação dos despojos sangrentos dos animais.


Jornal Verdade e Vida: 
No mundo de regeneração pelo qual a terra passará você acredita que a ciência comprovará a existência da mediunidade?

Jorge Hessen: 
A comprovação da mediunidade será a grandiosa tarefa da ciência. Cremos que será uma das profundas conquistas científicas, objetivando despertar e iluminar a consciência humana, de modo que o homem se recomponha como ser integral (matéria e espírito) e próspero período de vida social se exprima na Terra, em lares espiritualizados, para a nova era da Humanidade.


Jornal Verdade e Vida: 
Deixe uma mensagem final aos leitores do Jornal Verdade a Vida.

Jorge Hessen: 
Instruem-nos os Benfeitores que o médium sem Evangelho pode prover os mais erguidos subsídios para a filosofia e ciência humanas; mas não poderá ser um missionário pelo coração. O médium evangelizado consegue aperfeiçoar a modéstia no amor às empreitadas do cotidiano, na tolerância iluminada, na diligência educativa de si mesmo, conseguindo também erguer-se para a defesa da sua tarefa de amor, protegendo a verdade sem contemporizar com os princípios no momento oportuno. O apostolado mediúnico, segundo Emmanuel, exige o trabalho e o sacrifício do coração, onde a luz da comprovação e da referência é a que nasce do entendimento e da aplicação com Jesus-Cristo. Obrigado!

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