Quando os Espíritos superiores se comunicam com os encarnados através da
mediunidade, sempre se utilizam de uma linguagem nobre, elevada, convidando-nos
a uma atitude mais espiritualizada, consentânea com as propostas morais do
Cristo, a fim de que possamos crescer intelectual e moralmente, pois esta é a
meta da reencarnação que nos fará plenamente felizes.
Em muitas mensagens ditadas pelos guias
espirituais iremos nos deparar com palavras ou expressões profundas do ponto de
vista moral, que, num primeiro momento, nem sequer conseguimos aquilatar a sua
extensão e aplicabilidade em nossas vidas, sendo necessários tempo e maturidade
para que percebamos o seu conteúdo e comecemos a nos esforçar para colocar em
prática na pauta das nossas vidas.
Dentre essas expressões profundas, destaco
“renúncias educativas”, que está inserida na obra “Minha Família, o Mundo e
Eu”, ditada pelo Espírito Camilo ao médium José Raul Teixeira, no oitavo
capítulo, e está colocada na seguinte frase: “Como a criatura
terrestre, em geral, ainda tem grande dificuldade de distinguir as variadas
nuanças do amor, e maior dificuldade ainda de empreender renúncias
educativas...”.
A palavra “renúncia” nos dá o sentido de que
ainda há algo negativo que faz parte da nossa cogitação mental, da nossa
inclinação, do nosso perfil psicológico e muitas vezes do nosso hábito diário,
que irrompe do íntimo do espírito, do inconsciente, fruto das reiteradas
escolhas equivocadas de vidas transatas, de forma que ainda é uma questão moral
não superada por nós.
A palavra “educativa” exprime o resultado
positivo que advirá quando conseguirmos nos abster de determinada conduta,
ainda que a custo de muito sacrifício e disciplina.
O Livro dos Espíritos nos ensina que educar é a
arte de formar caracteres, bons hábitos, atitudes elevadas, de tal sorte que, à
medida que renunciamos às inclinações indesejadas, vamos construindo novas
posturas perante a vida, paulatinamente, até o momento em que o novo hábito
passa a ser natural, espontâneo, e se converte em conquista definitiva do
Espírito.
Quando isso ocorre, não há mais renúncia,
sacrifício, porque passamos a agir natural e equilibradamente no campo do bem e
da paz, sem que o gesto de renúncia gere qualquer desconforto ou atrito em
nossa intimidade.
Por essa razão, acreditamos ser incorreta a
afirmação de que Jesus, durante toda a sua vida física, se sacrificou por nós.
Na realidade, por ser um Espírito puro, tudo que Jesus fez e realizou em nome
do amor não era um sacrifício ou uma renúncia, mas um gesto espontâneo, natural
de um Espírito mais elevado que desejava ensinar e acolher os irmãos mais
atrasados.
A religião espírita nos ensina que somos
Espíritos imortais destinados à perfeição relativa, isto é, que, em termos
evolutivos, chegaremos o mais próximo possível de Deus, mas nunca o
igualaremos, porque Ele é único. Esse é o convite de Jesus ao nos convocar: “Sede
perfeitos como perfeito é Vosso Pai Celestial”.
Dessa forma, devemos valorizar intensamente a
presente reencarnação, que é uma bênção divina a nos permitir o progresso, de
modo que toda renúncia em favor da nossa evolução espiritual será
significativa, abrindo portas para novas conquistas no rumo do infinito.
No nosso cotidiano temos vários exemplos de
renúncias que nos trariam paz de consciência e alegria de viver pelos
resultados morais almejados e conquistados.
Quantas vezes chegamos ao lar após um dia
cansativo de trabalho e nos deparamos com alguns familiares exaltados,
irritados, tudo a fomentar uma grande discussão, ou, em outras ocasiões, alguns
assuntos triviais terminam em brigas intensas.
Aquele que conhece as propostas do
evangelho deveria renunciar e silenciar, não alimentando a fogueira da
discussão. Se for necessário falar algo, que seja em tom pacífico ou cordial,
sem agressividade, ainda que os demais não entendam e tentem agravar a
situação, afinal de contas, o nosso desejo é de fomentar a paz no lar.
Sabemos que não é fácil exercitar a caridade do
silêncio ou da boa palavra, não só no ambiente doméstico, mas na vida social e
no campo do trabalho profissional, mas temos a certeza de que será a melhor
atitude para a nossa paz interior, portanto, renunciemos, calemos a nossa
revolta interior, façamos o sacrifício de ser ofendidos sem ofender, tudo de
conformidade com o ideal religioso que elegemos para nossa vida.
Quantos finais de semana ou algumas manhãs não
advêm uma preguiça incontrolável e uma vontade de não fazer nada, simplesmente
de ficar na cama por horas e horas, ou de ficar em casa “matando o tempo”.
À luz da religião espírita, sabemos que temos
que aproveitar o tempo da melhor maneira possível, de forma que seria
improdutivo desperdiçarmos as horas.
Ao acordar na hora aprazada, em nome da
renúncia que sublima, vamos levantar da cama, felizes por mais um dia que a
divindade nos concedeu, e aproveitemos melhor o tempo, com uma leitura
saudável, uma boa caminhada, alguns minutos de meditação, uma música de boa
qualidade etc.
Nos finais de semana poderemos ter um tempo
para descansar, para estar com nossos familiares, muitas vezes uma boa viagem,
mas deveremos evitar os exageros, de forma que incluiremos em nossa pauta uma
visita a algum enfermo, uma ajuda a alguém carente, assistir a uma boa palestra
ou a um programa de televisão que nos acrescente algo, ainda que seja um
sacrifício.
No campo da leitura temos obras espíritas de
excelente qualidade doutrinária, mas, infelizmente, muitos espíritas não gostam
de ler e justificam dizendo que certos Espíritos escrevem ou ditam mensagens
com conteúdo e palavras difíceis, complicadas.
Frise-se que a linguagem dos Espíritos sérios é
elevada, nobre, conforme consta de O Livro dos Médiuns, de forma que caberia a
nós o sacrifício de, se necessário, buscar um dicionário e ler as belíssimas
obras espíritas e as não espíritas que tenham conteúdo digno, com o escopo do
nosso crescimento intelectual.
Muitos de nós somos acomodados e queremos
respostas prontas, rápidas, e para tanto vivemos consultando os médiuns, os
líderes religiosos, quando deveríamos renunciar ao nosso comodismo e nos educar
com as leituras, que nos libertam da ignorância. Quantas vezes uma lição, uma
frase nos preenchem e apontam caminhos antes não imaginados.
Em outras ocasiões, somos vítimas das
perseguições ou das calúnias alheias e sentimos vontade de revidar, pois
ficamos ressentidos com a situação.
Devemos renunciar ao desejo de revide, contendo
a mágoa ou o ressentimento, a fim de que não se converta em ódio. Pode ser que
em alguns momentos sintamos vontade de ofender ou de desabafar agressivamente,
mas cabe-nos a avaliação íntima de que essas condutas não valerão a pena e
apenas nos infelicitarão.
Na área da sexualidade, os Espíritos nos orientam
que o instinto sexual é um dos mais vigorosos, de tal sorte que muitos de nós
buscamos o sexo irresponsável, casual, sem a presença do amor, e somos
indisciplinados nesse item, uma vez que a busca do prazer passa a ter
prioridade em nossa vida.
Os índices de traição nos relacionamentos
conjugais estão acima de cinquenta por cento, o que revela o descontrole da
criatura humana quando o assunto é sexo. A sensualidade é explorada pela mídia
e está na mente de grande parte dos indivíduos, de forma que, muitas vezes, nos
comprometemos num minuto de descuido, de descontrole, a gerar futuros
compromissos dolorosos.
Alguns não extravasam a libido em descontrole,
mas a mantêm em níveis mentais, gerando sintonias obsessivas de resultados
danosos.
Assim sendo, devemos lutar contra essas más
inclinações, renunciando a esses prazeres de curta duração, a fim de
preservarmos a saúde espiritual, que trará felicidade duradoura.
No que diz respeito ao exercício da
mediunidade, os Espíritos nos revelam a importância da disciplina no dia da
reunião. O correto é que todos os nossos dias fossem pautados pelas renúncias
educativas, mas como temos dificuldade para atingir esse objetivo, pelo menos
no dia do compromisso com a mediunidade deveremos nos abster de determinadas condutas.
No dia da reunião mediúnica deveremos renunciar
à alimentação desregrada, às discussões domésticas, aos pensamentos de má
qualidade, ao desregramento do horário, para que possamos chegar a tempo na
Casa Espírita e com relativo equilíbrio com a meta do exercício saudável da
mediunidade.
À medida que vamos habituando-nos a essas
renúncias educativas no dia da reunião mediúnica, logo seremos capazes de
estendê-las para os demais dias da semana, educando-nos para uma vida plena.
Como dizia Jesus: “Venho para que tenhais vida em abundância”.
Diante do exposto, devemos meditar a respeito
dessas e de outras renúncias que nos ajudarão a atingir a plenitude espiritual.
Certamente será útil lutar contra as nossas más inclinações, promovendo em
nosso íntimo o “bom combate”, conforme nos ensina Paulo de Tarso.
O Espiritismo nos elucida sobre a lei de causa
e efeito, portanto, temos plena ciência de que muitos deslizes morais poderão
acarretar futuras reencarnações dolorosas, bem como entendemos que todo empenho
no campo do bem proceder nos fará verdadeiramente felizes, eliminando a
necessidade da expiação, da reparação dos males causados a si mesmo e a outrem.
Por derradeiro, nas horas difíceis, em que o
instinto e a força bruta estão querendo se sobrepor aos sentimentos, à razão,
lembremo-nos de orar a Deus, haurindo as energias vigorosas que nos inspirarão
a ação digna, para que possamos ter forças para renunciar aos velhos hábitos,
pois, hoje, iluminados pela veneranda religião espírita e pelo evangelho de Jesus,
desejamos ser um homem novo, que entende o valor inestimável do conhecimento e
do amor, e que está plenamente consciente de que “tudo nos é lícito,
mas nem tudo nos convém”. (Paulo de Tarso).
ALESSANDRO VIANA VIEIRA DE PAULA
vianapaula@uol.com.br
Itapetininga, SP(Brasil)