Espíritas no Umbral
Muitos
pessoas tem ido aos centros espíritas para tomar passes e ouvir palestras.
Estão sem rumo e certamente querem consolo e explicações para não sucumbir em
suas tarefas cotidianas. A maioria dos centros não possui programas de ação
para receber e esclarecer esse público que ali comparece. Oferecem apenas
passes, palestras, água fluidificada e as campanhas de serviço social. É uma
atividade benéfica, porém insignificante tendo em vista o grandioso potencial
de esclarecimento que as casas possuem. Esgotados esses serviços corriqueiros
de consolo, a maioria dos freqüentadores se dispersam e pouquíssimos se
integram ao trabalho. Boa parte dos dirigentes são inseguros, centralizadores,
acomodados aos esquemas tradicionais que possam manter a estabilidade das casas.
Muitos deles temem o ingresso de novas lideranças e, quando isso acontece, logo
dão um jeito de expurgar àqueles que se mostram mais habilidosos na organização
e na dinâmica dos serviços. É um lamentável desperdício de tempo e de
possibilidades de expandir as casas espíritas através de células novas e bem
estruturadas, para dar continuidade à multiplicação. O principal obstáculo
desse processo de desenvolvimento, como sempre, é o assistencialismo, que se
impõe como prioridade (pois é mais cômodo e não tem implicações morais tão
graves) e desvia as casas espíritas da sua vocação natural educativa e
doutrinária. De um centro bem estruturado doutrinariamente pode sair muitos
outros centros semelhantes; todavia, de um centro assistencialista e desviado,
quase nada se desprende e expande.
Edgard
Armond dizia, há mais de 60 anos, que o umbral estava cheio de espíritas e essa
informação causou na época um tremendo mal estar em muitas adeptos que achavam
que só o fato de se declararem espíritas era suficiente para que tivessem uma
morte tranquila e fácil acesso às colônias luminosas do plano espiritual. Ele
estava querendo dizer que a moral espírita não estava fazendo efeito prático
nos espíritas e que era necessário criar um método educativo mais eficiente de
transformação moral e não somente as leituras e as práticas mediúnicas
tradicionais oferecidas nas casas espíritas. Foi por isso que ele criou a
Escola de Aprendizes do Evangelho, uma iniciativa para acolher esse público
flutuante, ensinar a maioria, educar a média e selecionar os mais aptos para
tarefas especializadas. Era uma forma de ajudar também os espíritas a controlar
melhor suas más inclinações e evitar envolvimentos perigosos, numa sociedade
sempre cheias de tentações. Naquela época, nos anos 1950, a FEESP já atendia
massas e a gravidade do desvio de público era muito preocupante. Muitos ainda
acham que isso foi um exagero de Armond, mas a realidade é que o sistema
cumpria rigorosamente seus objetivos de ensino, educação e capacitação de
trabalhadores. Muitos espíritas ainda sucumbem às tentações do mundo porque não
possuem conhecimento suficiente, principalmente auto-conhecimento, ferramentas
seguras para enfrentar a corrupção e as ciladas do mundo, sobretudo os médiuns.
A
maioria dos freqüentadores dos centros não são “espíritas” na verdadeira
concepção da palavra, mas apenas consumidores de livros e serviços das casas
espíritas. André Luiz fez esse alerta em Os Mensageiros e em muitas outras
obras, mas as pessoas continuam achando que tudo é exagero e brincadeira. Desde
àquela época pouca coisa mudou nas casas espíritas. As escolas sistematizadas
de esclarecimento e capacitação ainda ocupam pouco espaço. A maioria, com
raríssimas exceções, propõe uma falsa sistematização das obras de Kardec, cujas
aulas são verdadeiros convites ao abandono. Não existe a ligação necessária
entre teoria e prática doutrinária. Algumas levam anos na rotina teórica
cultivando um pretencioso domínio intelectual de conteúdos, quando já poderiam
impulsionar os alunos para as práticas supervisionadas, sempre incrementadas
por reciclagens e atualizações.
Será
que o umbral continua cheio de espíritas?
Deve
ser terrível para qualquer um de nós, sob as constantes gargalhadas dos
adversários nos provocando: “Uai, o espiritismo não os alertou que era preciso
ir muito além dos livros e mensagens?
E
nós, humilhados, de cabeça baixa e em prantos convulsivos, nos perguntando onde
foi que erramos.
2 comentários:
Edgard Armond era um espírito visionário. Seu trabalho ultrapassou os parâmetros espíritas da época. Tempos em que ainda havia muito preconceito com algumas notícias do mundo espiritual. O próprio Chico Xavier sofreu algum preconceito ao publicar Nosso Lar, pois, algumas lideranças espíritas julgaram ser "demasiado fantasiosa".
12 de jul. de 2012, 21:47:00Ótimo artigo Moura... aliás, ótimo blog.
Grande abraço fraterno do confrade de Três Lagoas/MS,
André Luiz Paschoal
Fraternidade Espírita Joanna de Ângelis
União Regional Espírita do Mato Grosso do Sul (URE/MS).
Obrigado André! É muito gratificante e estimulante receber cometários neste blog, e saber que ainda existe pessoas como você trabalhando pelo mesmo ideal religioso.
13 de jul. de 2012, 11:52:00Abraços!!
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