Educação moral e regeneração
O propósito essencial do Espiritismo é o progresso moral da Humanidade, a iluminação das consciências dos Espíritos aqui encarnados! Vinícius, pseudônimo de Pedro de Camargo (1878-1966), emérito educador e evangelizador, ao analisar a importância da educação moral para o homem, afirma categórico:
O Reino divino das realidades da vida encontra-se nos refolhos da consciência humana.Ensinar os homens a descobri-lo em si próprios, e por ele se orientarem, eis a magna questão. Tudo o mais é acessório. Ora, a missão da Doutrina dos Espíritos é precisamente essa: esclarecer, iluminar a mente do homem, de modo que ele descortine, com clareza, o roteiro que o conduzirá à realização do destino maravilhoso que lhe está reservado.2
Não basta, porém, conhecer o objetivo a ser atingido, é preciso identificar as maneiras e os meios que permitem aos homens adquirir as virtudes que os façam evoluir moralmente, contrariando os péssimos hábitos e costumes adquiridos nas existências anteriores. Há obstáculos que se opõem a essa iniciativa? Como executar na prática tudo o que possa nos guiar para alcançarmos essa finalidade?
A teoria da Doutrina Espírita tem por objeto transmitir as verdades eternas e imutáveis, enquanto a práxis de seus ensinamentos visa à extensão das ações humanas, a partir das escolhas de cada um de nós, na procura de um fim útil, em que predomine a fraternidade. Essas opções, no entanto, surgem conforme a natureza dos nossos atos, bons ou maus, que se deixam influenciar pelas múltiplas experiências da vida corporal. Assim, a verdade teórica difere da verdade prática, uma vez que nem sempre conseguimos exemplificar os preceitos espíritas que desenvolvemos nos estudos. Mesmo de posse desses conhecimentos, não somos capazes de julgar adequadamente nossos feitos, transgredindo moralmente, sem alcançar as condições espirituais que almejamos. A esse respeito, importante contribuição é oferecida pelo saudoso autor espírita Juvanir Borges de Souza (1916-2010):
É uma realidade, facilmente constatável, que não aprendemos lições importantes, relacionadas com o aperfeiçoamento moral, tão rapidamente quanto poderíamos e deveríamos. O progresso moral do homem seria muito mais rápido se acompanhasse o mesmo ritmo das aquisições intelectuais.
Ocorre comumente o conhecimento teórico sem a prática correspondente. Em outras palavras, convive-se incoerentemente com ideias aceitas e práticas em desajuste com elas. Observem-se certos hábitos viciosos adquiridos por determinadas pessoas. Na sua maioria têm elas plena noção de que seus hábitos são perniciosos, que sua saúde física e espiritual está se comprometendo e gostariam de se ver livres do domínio do hábito.Mas não conseguem [...].
A dificuldade maior não se encontra na aprendizagem da Doutrina. [...] O grande obstáculo a ser transposto consiste na vivência dos princípios, na prática da caridade, na substituição do egoísmo e do orgulho pelo amor soberano a Deus e ao próximo, na compreensão de nossos semelhantes e de tudo o que nos cerca, para que se manifeste em nós a verdadeira justiça. [...]3
Ao abraçarmos o Espiritismo reconhecemos que se torna inaceitável conviver com as imperfeições que possuímos, sem o esforço indispensável para corrigi-las. Essas observações nos reportam a outro problema crucial: os cuidados que devemos ter na educação dos filhos. Como prepará-los para se tornarem bons espíritas se ainda carecemos de vontade firme na luta pela transformação moral à custa de sacrifícios e renúncias? Como ajudá-los nessa fase de transição em que devem atender às inúmeras responsabilidades que os exortam a trabalhar pela regeneração da Terra?
Allan Kardec, tendo sido professor e pedagogo, com o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail, discípulo do notável educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), soube devotar-se à causa da Educação, elaborando excelentes propostas pedagógicas, sobretudo, para o ensinamento de crianças e jovens. “[...] todas as vezes que se falava em alterar a lei do ensino, ele saía a campo para expor suas ideias, seus planos e projetos, levado apenas pelo interesse de servir à obra da educação.”4 Esses trabalhos foram avaliados por educadores e profitentes espíritas, que os qualificaram como valiosos e úteis para o esclarecimento de certas questões atuais. Estudos e pesquisas que mais tarde permitiram a Kardec se tornar “um observador atento e meticuloso, um pensador prudente e profundo”5 na importante missão de codificar a grandiosa obra do Espiritismo. Por ocasião da apresentação do Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública, na França, ele alerta os pais quanto à necessidade de estarem atentos ao desenvolvimento integral dos filhos: “[...] a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais. Eis o que todos repetem, mas o que não se pratica [...]”,6 e destaca:
A fonte das qualidades morais se acha nas impressões que a criança recebe desde o seu nascimento, talvez mesmo antes, e que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, para o bem ou para o mal. Tudo o que ela vê, tudo o que ela ouve, a faz experimentar impressões. Ora, assim como a educação intelectual consiste na soma das ideias adquiridas, a educação moral é o resultado de todas as impressões recebidas. Cada objeto, que a criança vê, lhe dá uma ideia, e cada palavra que ela escuta ou cada ação de que ela é objeto ou testemunha, a faz experimentar uma impressão; a mesma impressão, mantida durante um certo tempo e frequentemente repetida, fá-la contrair um hábito.
Ora, como se sabe, o hábito é uma segunda natureza que nos leva, malgrado nosso, a fazer uma coisa, [...] sem que nossa vontade participe disso; daí as chamadas inclinações, que são apenas hábitos inveterados, quando não estejam ligadas ao nosso temperamento, como a cólera, a vivacidade, a lentidão e outras tendências desta natureza. [...]7
Essas fundamentações embasaram o mestre de Lyon para o importante comentário da resposta à questão 685a, de O Livro dos Espíritos, ao indicar a educação moral como condição primordial para a transformação do homem: “[...] Não nos referimos [...] à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”.8
No texto pedagógico citado, verificamos a preocupação do Prof. Rivail sobre “[...] o quanto importa evitar cuidadosamente tudo o que possa fazer a criança experimentar impressões perigosas [...]”, encontradas no “exemplo do vício, [nos] maus conselhos ou [nas] conversações pouco adequadas”.9 Tais modelos são aqueles recebidos pelas crianças ao se relacionar com as pessoas que as cercam, entre elas, os pais. Existem hábitos ruins que condicionam as pessoas e chegam a criar os maiores embaraços ao prejudicar sensivelmente a educação daqueles que estão sob a sua responsabilidade e guarda. Pequenas mudanças nascem da aquisição de novos e salutares hábitos: procurar a boa leitura, meditar sempre que for possível, cuidar da higiene mental, buscar a boa conversação, realizar ações de amparo ao próximo etc. Costumes que exercem influências benéficas e moralizadoras para nós e para os filhos.
A Evangelização Espírita tem um papel preponderante na preparação das novas gerações! Os evangelizadores são verdadeiros educadores, “cônscios do seu papel, que procuram, pela palavra e pelo exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais latentes dos seus educandos”.10Conforme Vinícius, “são [...] os continuadores e colaboradores da divina missão do Mestre Nazareno”,10e acrescentamos: também são os cooperadores dos pais, na Terra, e que perseveram na tarefa nobre de transmitir à infância e à juventude os nobilíssimos postulados espírita-cristãos.
O Espírito Emmanuel fala sobre a importância da formação da mentalidade cristã, de forma ordenada e progressiva, permitindo a modificação das ideias, dos sentimentos e dos hábitos:
Há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducação.Evangelizado o indivíduo, evangeliza-se a família [...].11 As atividades pedagógicas do presente e do futuro terão de se caracterizar pela sua feição evangélica e espiritista, se quiserem colaborar no grandioso edifício do progresso humano.12
Clara Lila Gonzales de Araújo
1KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 18, it. 33, p. 479.
2VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Camargo). O mestre na educação. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 17.
3SOUZA, Juvanir Borges de. Novos tempos. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 12.
4WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec – o educador e o codificador. v. 1. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 29.
5______. ______. Cap. 38, p. 223.
6INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. (Tradução, apresentação, organização e notas) Kardec educador – Textos pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 1998. Cap. Plano posto para melhoria da educação pública, p. 15.
7______. ______. p. 16-17.
8KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 92. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Comentário de Kardec à q. 685a.
9INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. (Tradução, apresentação, organização e notas) Kardec educador – Textos pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 1998. Cap. Plano posto para melhoria da educação pública, p. 15.
10VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Camargo). O mestre na educação. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 6.
11XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 35, it. Necessidade da educação pura e simples, p. 236.
12______. ______. It. Formação da mentalidade cristã, p. 238.
2VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Camargo). O mestre na educação. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 17.
3SOUZA, Juvanir Borges de. Novos tempos. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 12.
4WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec – o educador e o codificador. v. 1. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 29.
5______. ______. Cap. 38, p. 223.
6INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. (Tradução, apresentação, organização e notas) Kardec educador – Textos pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 1998. Cap. Plano posto para melhoria da educação pública, p. 15.
7______. ______. p. 16-17.
8KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 92. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Comentário de Kardec à q. 685a.
9INCONTRI, Dora; GRZYBOWSKI, Przemyslaw. (Tradução, apresentação, organização e notas) Kardec educador – Textos pedagógicos de Hippolyte Léon Denizard Rivail. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 1998. Cap. Plano posto para melhoria da educação pública, p. 15.
10VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Camargo). O mestre na educação. 10. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 6.
11XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 35, it. Necessidade da educação pura e simples, p. 236.
12______. ______. It. Formação da mentalidade cristã, p. 238.
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