O PALPITE - Richard Simonetti
Um homem estava viciado em pedir favores a um "guia". Não dava um passo sem a ajuda do protetor, que estava mais para palpiteiro, orientando-o precariamente. Certo dia o protegido pediu amparo mais efetivo:
- O senhor precisa dar um jeito na minha situação. Cansei de ser pobre . . .
- O que quer que eu faça, meu filho?
- Quero ganhar uma bolada no jogo do bicho.
- É difícil . . .
- Mas sei que pode conseguir. Por favor . . . Preciso muito! . . .
O Espírito silenciou por alguns momentos. Depois recomendou:
- Está bem. Amanhã jogue no número 23.492.
O protegido, todo animado, reuniu seus haveres. Vendeu o televisor e um jogo de sofás; emprestou bom dinheiro de amigos, apropriou-se do salário da filha mais velha e fez o jogo recomendado, considerando, em feliz expectativa, que jamais voltaria a passar por aperturas econômicas.
À tarde acompanhou, trêmulo, o sorteio pelo rádio. O locutor anunciava pausadamente os números sorteados. Quando chegou a vez do primeiro prêmio, onde repousavam suas esperanças, a tensão era enorme:
- Vinte e três . . .
- Meu Deus! Vai dar! Vai dar! . . .
- Quatrocentos e noventa e . . .
- Estou rico! Já ganhei! . . .
- . . . três.
- Três? Está errado! É dois!
O locutor repetiu:
- Vinte e três mil, quatrocentos e noventa e três.
Pateticamente ele sacudia o rádio:
- Não é três, idiota! É dois! Dois! . . . Houve engano! . . .
Telefonou para a emissora. Não havia erro. Perdera por um algarismo, enterrando-se em dívidas e aperturas.
Correu ao "guia".
- Uma desgraça! Joguei o que não possuía e perdi! O que houve? O senhor recomendou 23.492. deu 23.493.
- O Espírito respondeu, cheio de animação:
- - Ah! Meu filho! Quase acertamos! Talvez dê certo na próxima!
Foi apenas um palpite . . .
Afaste-se de médiuns que atendem em regime de "consultas particulares".
Sem disciplina e sem conhecimento, com o agravante de estimarem receber recompensas, são facilmente envolvidos por obsessores interessados em semear a perturbação.
Em qualquer contato com os Espíritos, mesmo em reuniões mediúnicas no Centro Espírita, é preciso passar pelo crivo da razão o que dizem.
Allan Kardec destacava que os Espíritos são apenas homens desencarnados e, como tais, sujeitos a erros de apreciação, além dos problemas de filtragem mediúnica.
Mesmo nas condições mais favoráveis, diante de mentores comprovadamente esclarecidos e sábios, evite constrangê-los com pedidos e perguntas relacionados com interesses pessoais. Afinal, tudo de que precisamos, em se tratando de orientação de vida, é seguir os ditames da própria consciência, iluminando-a com as lições de Jesus. Usemos nosso livre arbítrio.
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