Dialogo com as Sombras 2ª PARTE(13,14) - O Dirigente das Trevas
13 - O Dirigente das Trevas
14 - O Planejador
14 - O Planejador
13 - O
DIRIGENTE DAS TREVAS
Esta é
uma figura freqüente nos trabalhos de desobsessão. Comparece para observar,
estudar as pessoas, sondar o doutrinador, sentir mais de perto os métodos de
ação do grupo, a fim de poder tomar suas “providências”. Foi geralmente um
encarnado poderoso, que ocupou posições de mando. Acostumado ao exercício da autoridade
incontestada, é arrogante, frio, calculista, inteligente, experimentado e
violento. Não dispõe de paciência para o diálogo, pois está habituado apenas a
expedir ordens e não a debater problemas, ainda mais com seres que considera
inferiores e ignorantes, como os pobres componentes de um grupo de desobsessão.
Situa-se num plano de olímpica superioridade e nada vem pedir; vem exigir,
ordenar, ameaçar, intimidar.
Tais
dirigentes são ágeis de raciocínio, envolventes, inescrupulosos, pois o poder
de que desfrutam não pode escorar-se na doçura, na tolerância, na humildade, e
sim na agressividade, na desconfiança, no ódio. Enquanto odeiam e infligem
dores aos outros, estão esquecidos das próprias angústias, como se a
contemplação do sofrimento alheio provocasse neles generalizada
insensibilização.
Evitam
descer do pedestal em que se colocam para revelar-nos seus problemas pessoais,
mesmo porque, consciente ou inconscientemente, temem tais revelações, que
personalizam os problemas que enfrentam e os colocam na “perigosa” faixa de
sintonia emocional que abre as portas de acesso à intimidade do ser.
Não são
executores, gostam de deixar bem claro, são chefes. Estao ali somente para
colher elementos para suas decisões; a execução ficará sempre a cargo de seus
asseclas. Comparecem cercados de toda a pompa, envolvidos em imponentes
“vestimentas”, portando símbolos, anéis, indicadores, enfim, de “elevada”
condição. Estão rodeados de servidores, acólitos, guardas, escravos,
assessores, às vezes “armados”, “montados” em “animais” ou transportados sob
“pálios”, como figuras de grandes sacerdotes e imperadores.
Um deles
me disse, certa vez, que eu não o estava tratando com o devido respeito — o que
não era verdadeiro — porque achava impertinentes minhas perguntas e
comentários. Para me dar uma idéia da sua grandeza, informou-me que, quando se
deslocava, iam à frente dele áulicos, tocando campainhas portáteis, para que
todos abrissem alas e soubessem quem vinha.
Pobre
irmão desorientado! Num irresistível processo de regressão de memória,
invisível aos nossos olhos, mas de tremendo realismo para ele, contemplou, com
horror, sua antiga condição: participara do doloroso drama da Crucificação do
Cristo. O impacto desta revelação, ou seja, desta lembrança, que emergiu,
incontrolável, dos registros indeléveis do seu perispírito, deixaram-no em
estado de choque e desespero, pois vinha nos afirmando, desde a primeira
manifestação, que era um dos trabalhadores do Cristo e não desejava senão
restabelecer o poderio da “sua” Igreja.
14 - O
PLANEJADOR
Este é
frio, impessoal, inteligente, culto. Maneja muito bem o sofisma, é excelente
dialético, pensador sutil e aproveita-se de qualquer descuido ou palavra
infeliz do doutrinador para procurar confundi-lo. Mostra-se amável, aparentemente
tranqüilo e sem ódios. Não se envolve diretamente com os métodos de trabalho
das organizações trevosas, ou seja, não expede ordens, nem as executa;
limita-se a estudar a problemática do caso e traçar os planos com extrema
habilidade. Os planejadores são elementos altamente credenciados e respeitados
na comunidade do crime invisível.
Tivemos
vários casos dessa natureza. Citarei um.
Apresentou-se
mansamente. Nada de gritos, de murros ou de -violências. Sorria, até. Era um
sacerdote, dizia-se muito importante e foi logo declarando que não era dos que
executam, pois em sua organização o trabalho era bem distribuído. Aliás,
informou, pertencia a outro setor de atividade, mas havia sido convidado — e
gentilmente acedeu, por certo — para dar “parecer” sobre o caso de que
estávamos cuidando, um complicado problema de obsessão. Consultara a lista de
“baixas” que a organização solicitante havia sofrido, entendendo-se por
“baixa”, naturalmente, aqueles que se deixaram converter à doutrina do amor,
através da reeducação moral de que nos fala Kardec. Sente-se, evidentemente,
muito envaidecido de sua brilhante inteligência e do poder e satisfação que
isso lhe dá. Sua meta: restabelecer o prestígio da Igreja, muito abalado nestes
últimos tempos. Acha que foi um mal sufocar o pensamento e não permitir que a
razão imperasse na Igreja, que hoje estaria ainda dominando os homens. A certa
altura, propõe um acordo entre dois lideres: ele e eu. Digo-lhe, com toda honestidade,
que não sou líder e não tenho condições de negociar com ele; que procure meus
superiores.
Com o
passar das semanas, ele verifica que o problema é mais complexo do que
esperava, e se apresta a abandonar o caso, com o qual não pretende envolver-se,
já que sua tarefa é noutra organização. Dar-nos-á uma trégua. Tem um momento
de honesta candura, ou realismo, como queiram: acha-se um cínico, pois sempre
desprezou, mesmo “em vida”, aqueles que, em elevadas posições hierárquicas,
consultavam a ele, simples mortal, valendo-se de sua brilhante inteligência. É
evidente, porém, que sente enorme satisfação ao recordar que, da sua “humilde”
posição, manobrava os grandes, que lhe pediam conselhos e sugestões, porque já
àquele tempo era um hábil articulador.
Há um
“post scriptum” a esta narrativa: a conversão deste companheiro representou uma
perda irreparável para as hostes das sombras, porque os impetuosos e agressivos
chefes, e os executores teleguiados, sentem-se sem condições de estudar
meticulosa-mente e traçar friamente um plano de trabalho que se desdobre como
vasta e complexa operação de um xadrez psicológico. É preciso prever reações,
estudar personalidades, propor concessões e arquitetar alternativas e opções,
em caso de alguma falha ou mudança de condições básicas. Nada pode ser deixado
ao acaso, à improvisação, ao impulso. Por isso, os planejadores gozam de enorme
prestígio e respeito nas organizações trevosas.
Pelas
reações de irmãos, também desequilibrados, que se apresentaram posteriormente
ao nosso grupo, para tratamento, soubemos da perda irreparável que
representou, para as hostes da sombra, o despertamento desse companheiro. Seus
comparsas compareciam dispostos a tudo para resgatá-lo, pois julgavam-no nosso
prisioneiro. É preciso compreender bem tais reações. Os irmãos desorientados
empenham-se em verdadeiras campanhas belicosas, nas quais tudo vale e tudo é
permitido, desde que os fins sejam alcançados. Formam suas estruturas
organizacionais segundo as afinidades, por certo, mas, acima de tudo, segundo
os interesses que tenham em
comum. Para alcançarem os objetivos que têm em mira,
organizam verdadeiro estado-maior de lideres brilhantes, experimentados e
audaciosos. Toda campanha é estudada, planejada e executada com precisão
militar e dentro de rigoroso regime disciplinar, onde não se admite o fracasso.
Quem falhar perde a proteção de que desfruta, por achar-se ligado à
organização poderosa, que domina pelo terror impiedoso, destemido, agressivo,
implacável. Eles sabem muito bem que, ao desligarem-se da organização, estarão
sozinhos diante de seus próprios problemas pessoais.
Nessas
estruturas rígidas, o planejador exerce função importantíssima, porque é dos
poucos, ali, que conservam a cabeça fria para conceber os planos estratégicos
indispensáveis. Seus companheiros de direção costumam ser impetuosos homens de
ação, que se entregam facilmente ao impulso desorientado de partir para a ação
pessoal isolada, se não tiverem quem os contenha dentro de um inteligente
planejamento global, que proteja não apenas os interesses de cada um dos componentes,
isoladamente, mas também a segurança da organização. O planejador é o poder
moderador, dotado de habilidade bastante para demonstrar, e provar aos “cabeças-quentes”,
que o interesse coletivo precisa sobrepor-se ao individual, por mais forte que
seja este. É preciso que cada componente da sinistra máfia espiritual
compreenda que os casos pessoais de cada um — vinganças, perseguições,
conquistas de posições —passam a constituir objeto de cogitação coletiva, e,
como tal, têm que esperar a vez e a oportunidade, submetendo-se à mesma estratégia:
estudo, planejamento e ação, tudo a tempo e hora. Nada de ações isoladas,
atabalhoadas, que desperdiçam esforços e põem em risco a segurança da
comunidade. Tudo se fará no tempo devido, e todos têm direito à utilização dos
recursos da organização: seus técnicos, seus instrumentos, seus “soldados” e
trabalhadores de toda a natureza. No interesse de todos, portanto, a coisa tem
que funcionar com muita precisão e firmeza. O planejador é, pois, figura
importantíssima na ordenação dessas tarefas maquiavélicas. Sua perda acarreta
uma desorientação geral. É difícil, senão impossível, para os companheiros que
permanecem na organização das sombras, admitir que alguém tão lúcido e
brilhante se tenha deixado convencer por um doutrinador encarnado.
Como não
conseguem admitir isso, somente podem concluir pela alternativa mais viável: o
companheiro foi seqüestrado, violentado em sua vontade e levado prisioneiro
para alguma perdida masmorra. É preciso reunir forças e desencadear uma ação
fulminante para resgatá-lo. Por isso, logo após a perda de um elemento importante
— planejador ou executor —, fatalmente comparece ao grupo um truculento
representante das trevas, para levá-lo “de qualquer maneira”. É hora, então, da
ameaça, dos gritos, dos murros, ou então, dos conchavos, das ofertas de trégua.
A essa altura, porém, já estão agindo à base do impulso emocional, que nunca
foi bom conselheiro, ainda mais em situações de crise. Équando mais precisam de
um competente planejador. E o desespero de não tê-lo leva ao desvario, que
muitas vezes os deixa completamente desarvorados. Daí a importância que os
trabalhadores do bem conferem aos planejadores. Daí o prestígio e o respeito
que esses brilhantes estrategistas gozam nas comunidades trevosas. Os líderes
militares são bons na ação, mas quase nunca dispõem de condições para estudar
meticulosamente e traçar fria-mente um plano de trabalho, que se desdobre como
vasta e complexa operação de um xadrez psicológico. Não estão lidando mais com
dados concretos, como no tempo em que exerciam tais funções na Terra. Não basta
preparar soldados e equipamentos, estudar o terreno, comprar armamentos e
entrar em ação. A
tarefa é muito mais sutil, porque envolve inúmeros fatores imponderáveis, que
subitamente emergem da imprevisível condição humana. É preciso prever tais
reações, estudar personalidades, propor concessões e arquitetar alternativas e
opções, na eventualidade de alguma falha ou mudança das condições básicas
inicialmente articuladas. Nada pode ser deixado ao acaso, à improvisação, ao
impulso.
Há pouco,
falava um desses líderes das trevas sobre a sofisticação da sua aparelhagem.
Andaram gravando nossas reuniões em “video tape” — a expressão é dele mesmo —
para estudar-nos. Tinham nossas “fichas” completas, minuciosamente levantadas,
bem como gravações e relatórios a nosso respeito, sendo esse material todo
colhido na indormida vigilância que exercem sobre nós. Depois de tudo
documentado, estudam-nos em grupos de trabalho, cabendo, então, aos
planejadores elaborar a programação da “campanha”. Mesmo enquanto conversam
conosco, no decorrer da sessão mediúnica, acham-se ligados aos seus redutos,
por fios e aparelhagem de transmissão, com o propósito de se manterem firmes,
apoiados pelos companheiros que lá ficam, para que não sejam arrastados pela
“fraqueza” da conversão ao bem. Esquecem-se de que, por aqueles mesmos
dispositivos, a conversa do doutrinador também é transmitida e produz lá,
naqueles redutos, certos impactos, num ou noutro coração mais predisposto ao
apelo do amor fraterno.
*
Um desses
sutis planejadores nos causou impressão profunda. Não viera especificamente
para debater conosco, mas para tentar recuperar um Espírito que havíamos
conseguido atrair e convencer de seus enganos. Ao incorporar-se no médium,
demonstra indisfarçável embaraço por encontrar-se ali. Hesita e negaceia, parecendo
estar realmente desarmado e perplexo. Aos poucos, interrogado com prudência
paciente, vai revelando sua história.
Fora
realmente apanhado desprevenido, pois não sabia que o grupo era aquele e, se o
soubesse, não teria vindo. É estranho que ignorasse isto...) Conhece o nosso
mentor e, ao vê-lo, tentou recuar e voltar sobre seus passos, mas já era tarde.
Identifica, num membro encarnado do grupo, uma pessoa que teria conhecido na
França, no século passado. É portanto, contemporâneo de Kardec e não esconde
que conhece a Doutrina Espírita, até mais do que nós, segundo informa, sem
falsa modéstia. Declara-se conselheiro e planejador da organização à qual se
acha filiado. Está convicto de que o Espiritismo precisa de uma “revisão”
atualizadora e ele é um dos que colaborou no preparo de certa matriz (palavra
sua) que dará origem a uma forma “moderna” de Espiritismo. Essa matriz era
sustentada pelas emanações mentais de alguns companheiros encarnados, atuantes
no movimento e aos quais foi prometida uma fatia de poder.
Está
perfeitamente consciente de suas responsabilidades e não deseja recuar do pacto
feito com seus superiores, que prevê, para ele, uma substancial parcela de
poder e proteção para uma filha que estaria encarnada e muito assediada por
Espíritos trevosos. Encaixo, a essa altura, um comentário, dizendo-lhe que
nenhum pacto a protegerá dos seus compromissos cármicos, com o que ele parece
concordar com o seu silêncio. Afinal, admite que não fez acordo com a treva:
ele é a própria treva, e continua a sentir-se embaraçado diante de nós.
Depois de
uma longa conversa, meramente informativa, em que ele vai revelando sua
história, parece tomar uma decisão mais drástica e começa a falar em altos
brados, a dar com as mãos na mesa, mas sinto nele falta de convicção.
Deixo-o
falar, para vazar a sua cólera, a sua frustração e o seu temor, até que ele se
acalma um pouco e começa a dar-me conselhos e fazer algumas confidências. Está em crise. Lembra-se
de passadas encarnações e da constante presença do Cristo em suas vidas, mas
também das inúmeras vezes em que, a seu ver, traiu o Mestre. Gostaria de voltar
a ser um humilde galileu. Por fim, agarra as nossas mãos, chama-nos de amigos e
nos adverte — agora com total sinceridade — dos riscos da nossa tarefa, e
parte, em pranto, orando ao Cristo.
Também a
sua perda desencadeou sobre o grupo um processo de agressões violentas e
passionais. Ë difícil encontrar um bom planejador para repor uma “baixa”
importante como essa...
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