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13 de jul. de 2011

Apascentar as Ovelhas



Quando materializado diante dos discípulos, na Galiléia, Jesus sustentou interessante diálogo com Simão Pedro:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
– Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
– Apascenta as minhas ovelhas.
Após breve pausa, Jesus reiterou:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
– Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
– Apascenta as minhas ovelhas!
Novo silêncio, nova expectativa, e Jesus:
– Simão, filho de Jonas, tu me amas?
O apóstolo entristeceu-se com aquela insistência, que parecia transpirar um sentimento de dúvida quanto à sua fidelidade.




– Senhor, conheces todas as coisas e sabes que te amo!
E Jesus insistiu:
– Apascenta as minhas ovelhas.
...
Não apenas Simão Pedro, mas, provavelmente, outros discípulos presentes terão estranhado que o Mestre houvesse indagado três vezes quanto à fidelidade de seu afeto.
Obviamente, com seus poderes espirituais, Jesus lia o coração humano como num livro aberto. Tinha plena consciência do carinho que os companheiros lhe devotavam.
Mas sabia, também, que na gloriosa jornada de divulgação do Evangelho haveriam de enfrentar problemas e dificuldades, lutas e perseguições.
Para que obtivessem sucesso, fundamental o amor pela causa. Somente assim teriam o ânimo necessário para perseverar, enfrentando perseguições e obstáculos.
Ao insistir com Simão Pedro, Jesus passava essa mensagem à comunidade cristã.
O amor por ele deveria derramar-se no trabalho que lhes competia. Apascentar as ovelhas seria transmitir seus ensinamentos pelo exemplo de amorosa dedicação ao Bem.
...
O que fazemos de melhor, em qualquer setor de atividade, tem sempre um componente básico: o amor.
A melhor dona-de-casa, o melhor chefe de família, o melhor funcionário, o melhor empresário, o melhor atleta, será sempre aquele que se dedica às suas funções, não por
obrigação, dever ou interesse, mas, simplesmente, por amar o que está fazendo.
Nos serviços de voluntariado, cursos e reuniões mediúnicas, no Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, do qual participo,  distingue-se claramente os que participam com o objetivo de receber benefícios, daqueles que o fazem por amor.
Os primeiros são inconstantes. Faltam com freqüência e se afastam à primeira dificuldade ou divergência, ao primeiro problema particular. Não se pode contar com eles.
Os segundos empenham-se, têm imaginação, desenvolvem as tarefas, aprimoram os serviços, doam-se em boa vontade, dedicação, carinho pelo serviço.
Há múltiplos setores no CEAC, envolvendo evangelização, mocidade, creche, albergue, centro de triagem de migrantes, casa de passagem, núcleos de periferia, orientação às gestantes, assistência hospitalar, assistência às prisões, livraria, biblioteca...
Embora sejam serviços diversos, têm um ponto em comum: cada um deles foi montado e é sustentado por idealistas, que amam o que fazem.
...
Há uma história interessante a esse respeito, envolvendo excelente dona-de-casa.
Cozinheira de mão cheia, fazia quitutes de dar água na boca. Seus bolos eram uma tentação, verdadeiro manjar dos deuses.
Seu segredo: uma caixa metálica. Havia ali um ingrediente mágico que sua mãe lhe dera. Deveria usar uma pitada dele em tudo o que preparasse.  Dava sabor especial a qualquer alimento que preparasse.
Não deixava ninguém pegar na caixa. Seu conteúdo, dizia, era extremamente volá-til, poderia perder-se e não havia como repor.
Submetendo-se a uma cirurgia, esteve alguns dias no hospital. O marido sentia-se perdido. A esposa era a luz que iluminava seus dias, isso sem falar no sabor que dava aos alimentos.
À noite, sozinho em casa, imaginou o que comer.
Abriu a geladeira e pegou um pedaço de bolo feito pela esposa. A delícia de sempre! Enquanto comia, abriu um armário e viu a misteriosa caixa.
Baixou o espírito feminino – a curiosidade.
Se você, leitora amiga, não gostou desse “espírito feminino”, lembre-se de que segundo o relato bíblico, perdemos o paraíso por causa da curiosidade de Eva. Convenceu Adão a desobedecer ao Todo-Poderoso e, juntos, experimentaram o fruto proibido. Bem, essa é outra história.
Com infinito cuidado, ele abriu a caixa. Para sua surpresa, estava praticamente vazia. Tinha apenas um pedaço de papel dobrado.
Abriu. Era um bilhete singelo de sua sogra. Dizia apenas:
Minha filha, em tudo o que fizer, acrescente uma pitada de amor.Era esse o seu segredo.
Fazer com amor!
Nem deveria ser segredo. É algo que todos precisam saber.
Se quisermos fazer bem, façamos com amor!
Era o que Jesus esperava dos discípulos.
Esse amor ao trabalho, amor ao que fazemos, amor ao ideal pode ser algo espontâneo, algo entranhado em nós, mas pode também ser fruto da vontade, partindo de um princípio muito importante:
Podemos não estar fazendo aquilo de que mais gostamos, mas é importante aprender a gostar do que fazemos, cultivando a boa vontade e a dedicação.
...
Em O Evangelho segundo o Espiritismo Allan Kardec deixa bem claro que a Doutrina Espírita é Jesus de retorno, na excelência de seus ensinamentos.
É o Consolador prometido por Jesus, o Espírito de Verdade, que nos traz lições e esclarecimentos que não tínhamos condições para receber há dois mil anos.
E se o Espiritismo é bom para nós, oferecendo-nos ampla visão dos porquês da Vida, há de ser bom, também, para aqueles que nos rodeiam.
Importante, portanto, que nos disponhamos à sua divulgação.
E como fazê-lo com eficiência?
O caminho é o mesmo preconizado por Jesus.
É preciso que tenhamos amor pelo Espiritismo, que nos envolvamos com seus princípios, procurando vivenciá-los.
A base fundamental sobre a qual devem ser erigidas as edificações mais nobres da doutrina, hoje e sempre, é o nosso comportamento. Não há outra maneira de demonstrarmos a excelência dos princípios espíritas senão incorporando-os à própria existência.
Que sejamos tão cordatos, honestos, respeitosos, diligentes, íntegros, que as pessoas olhem para nós e digam:
– O Espiritismo deve ser algo sublime, para forjar um caráter tão nobre, uma tal pureza de sentimentos.
...
Obviamente, a vivência da doutrina implica, também,  empenho de apascentar as ovelhas, como ensina Jesus.
Apascentar, no sentido evangélico, seria cuidar.
Cuidar das ovelhas.
Quais são as ovelhas de Jesus?
A tradição religiosa diz que ovelhas são todos aqueles que aceitam Jesus, e passam a fazer parte de seu rebanho. Diversas seitas cristãs tendem a considerar que apascentar as ovelhas seria cuidar dos irmãos de fé. Curiosamente, seus profitentes reconhecem como irmãos apenas os que têm a mesma crença.
Já ouvimos de pregadores religiosos a inacreditável afirmação de que filhos de Deus são apenas os que foram batizados em suas crenças e aceitam Jesus.
Quem não aceita, não é filho. Apenas criatura de Deus.
Considerando que somente trinta por cento dos habitantes da Terra são cristãos, chegamos à absurda idéia de que setenta por cento estão à margem da paternidade divina e de suas graças.
E como, segundo essas doutrinas, Jesus é o caminho para o Céu, dois terços da Humanidade jamais terão acesso, porque sequer conhecem Jesus.Isso é discriminação, algo inconcebível no cristão.
...
A Doutrina Espírita nos oferece uma visão mais racional e lógica. Todos somos filhos de Deus, seja qual for a nossa raça, nacionalidade ou crença.
E Jesus não é o pastor de algumas ovelhas.
É o pastor de todas as ovelhas.
É governador de nosso planeta, que assumiu perante Deus o compromisso de nos conduzir pelas sendas do progresso rumo à perfeição.
Então, o católico, o evangélico, o espírita, tanto quanto o budista, o muçulmano, o judeu, o hinduísta, o xintoísta, ou o próprio materialista, somos todos filhos de Deus, ovelhas do imenso rebanho do Cristo.
Mesmo os que não o conhecem ou não o aceitam como guia pertencem ao seu rebanho, da mesma forma que alguém que desconhece ou renega o pai não deixa de ser seu filho.
Permanecemos todos sob sua égide, conduzidos por suas mãos compassivas. Ainda que demande o concurso dos milênios, terminaremos em seus caminhos.
O que Jesus espera de nós, que já o conhecemos, é que estejamos dispostos a colaborar com ele, apascentando suas ovelhas, dando muito amor ao trabalho do Bem, em favor daqueles que nos rodeiam, onde estivermos, sem importar sua nacionalidade, raça ou crença.
E estejamos certos de que quando chegar a nossa hora, quando retornarmos à vida espiritual, a pergunta fundamental que nos farão, a ver se realmente agimos de conformidade com os princípios evangélicos, é:
Quantas ovelhas apascentamos, quanto amor demos ao semelhante, no esforço do Bem?


RICHARD SIMONETTI
João, 21:15-17



          Fonte - www.espirito.org.br/reformador-2002
                                                                                                           

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