Afetos Contemporâneos e Descartáveis
Detesto separações, rupturas, afastamentos… Não suporto abandonos, traições, esquecimentos… Para mim, amizade tem que ser sólida, fidelidade inabalável, amor tem que ser eterno. Porque se é amor de verdade, não tem como se desmanchar, se esfriar, se retirar do coração!
Para
mim, nenhum sentimento profundamente humano pode ser descartável. Pode ser
esquecido. Pode ser substituído.
Hoje,
troca-se de afeto como se troca de roupa. Descartam-se pessoas supostamente
queridas, sem a menor cerimônia. Vejo tantas despedidas rápidas, fáceis e frias
nesse mundo! Vejo tantas mudanças de afetos, como troca de objetos, sem valor
em si.
Há
quem defenda que o que não é saudável deve ser posto de lado. Sim, se não é
saudável, é vampirismo, é projeção, é interesse, é compensação, é qualquer
obsessão, mas não é amor de fato, não é amizade de fundo, não é ligação de
alma. Porque se for, quem pula fora, está desprezando o que é sagrado, está se
alijando do que é seu, está perdendo um pouco de si.
Quem
fere quem ama de verdade está ferindo o próprio ser, porque as almas se ligam
pelo fundo de si mesmas, e é nesse espaço essencial que os abandonos recaem,
que as traições machucam, que as despedidas apunhalam!
Porém,
os que se veem alijados, descartados, desconhecidos por amores e amizades, por
afetos e corações, por quem dariam a vida, podem se enredar em dores e mágoas,
podem se velar de cinzas e lágrimas e deixarem a hera da tristeza amargar para
sempre suas vidas. Mas também podem, se mais amor ainda tiverem, elevar esse
amor para alturas etéreas e oferecerem em silêncio o amor eterno, que
cultivarão como flores luminosas para uma oferenda futura. Porque se aqueles
que se foram, se foram enganados pelas ilusões fugidias do caminho, um dia
volverão, para colher as flores amorosas do perdão de quem ficou.
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