Poucas décadas antes e depois da instalação da evangelização da infância na Federação Espírita Brasileira, ocorreram marcos significativos na Seara Espírita com esforços louváveis, voltados à educação da criança e inspirados na Doutrina Espírita.
Entre estes, destaca-se a atuação de Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo, Vianna de Carvalho, Jerônimo Ribeiro, Leopoldo Machado, Clóvis Tavares e Ilka Mass, a primeira evangelizadora da FEB. Os espíritas conquistaram o respeito das comunidades em função do bem que concretizaram em múltiplas ações pelo território brasileiro.
Desde tenra idade recebemos informações sobre o notável trabalho efetivado em nossa cidade natal pela pioneira Benedita Fernandes (1883-1947). Sempre vencendo com esforço denodado as inúmeras dificuldades, a senhora, que cognominamos “dama da caridade”, direcionou seu foco para a dedicação ao próximo, com atendimento a crianças desamparadas e aos chamados doentes mentais.
A tarefa implantada por Benedita tornou-se um símbolo de dedicação ao próximo na Região Noroeste do Estado de São Paulo, desde a passagem dos anos 1920-1930, sensibilizando a muitos, inclusive a nossos ascendentes familiares.
No mundo espiritual houve esse reconhecimento em mensagem psicografada por Chico Xavier, no ano de 1963, intitulada Num domingo de calor, assinada pelo Espírito Hilário Silva e referente a Benedita Fernandes, sobre uma “reunião de damas consagradas à caridade”, na qual ela é chamada de “abnegada fundadora” e “mulher admirável”.1,2
A priorização dos objetivos de trabalho da abnegada benfeitora prosseguiu e transparece claramente em mensagens escritas mediunicamente por Divaldo Pereira Franco. Algumas destas, de autoria da própria Benedita Fernandes, foram psicografadas no lar de nossos genitores e no nosso próprio lar, durante os anos 1970, em Araçatuba. Posteriormente, foram incluídas em livros, dos quais destacamos trechos
de duas mensagens:1,3
Esse problema de emergência o menor abandonado deve ser atendido por todas as pessoas criteriosas, visando-se a solucioná-lo com urgência.
Enquanto não empreenda uma campanha clarificada pelas luzes do Evangelho, com os altos objetivos de erradicar-se a indiferença da Sociedade em relação à orfandade infantil, aqui incluídos os que são de “pais vivos”, a bem pouco ficam reduzidas as expressões de ventura que a maioria pretende usufruir. [...] Todo investimento e ninguém se pode eximir do dever de ajudar aplicado no rumo do menor em abandono é de alta valorização, porquanto os seus juros demandam a eternidade.
Quando se atende a um órfão, assegura-se um lugar para um homem no futuro. Mas quando se permite que ele rasteje nos lôbregos sítios em que sobrevive, por culpa de todos, arma-se um bandido para a intranquilidade geral. Negativos os métodos policiais coercitivos, infelizes os ajuntamentos em reformatórios e as punições exorbitantes pela pancadaria desenfreada e o sadismo contumaz. Tais produzem esquizoides violentos, alienados em degeneração apressada, animais em fúria contida, aguardando ensejo…
O amor, porém, aliado aos recursos educativos por todos os meios hábeis, cuidará desses sêmens da humanidade e fará que se enfloresçam, na Terra, os jardins de paz com abençoados frutos de felicidade a que todos almejamos.1 (Destaque nosso.)
Os altos índices de atual delinquência infantojuvenil, cada dia mais afligentes, atestam o malogro da cultura, diante do problema-desafio, que se converte em látego, vigorosamente aplicado na criatura humana.
O menor carente, que assume um comportamento antissocial, é a pungente vítima dos desequilíbrios que sacodem as estruturas da comunidade terrestre.
[...] Todos têm direito, na comunidade humana, ao mínimo que seja, para viver com decência e liberdade. Negar tal concessão é conspirar contra a felicidade do próximo e a própria paz, agora ou depois.
Façamos a nossa parte, por menor que pareça, iniciando esta cruzada de amor, que vem sendo postergada e que, não realizada, levar-nos-á aos roteiros do sofrimento e da soledade, por incúria e insensatez.
Hoje brilha a luz da famosa oportunidade que se transformará em abençoado sol do amanhã, a fim de que as trevas do mal se afastem, em definitivo, da Terra, havendo claridade de paz, nas mentes e nos corações. 3 (Destaque nosso.)
Os dois textos da autora espiritual têm muito valor porque estão calcados na experiência de sua mais recente encarnação.
Cem anos após a implantação da evangelização da criança, na então Sede da FEB e no contexto da atualidade, parece-nos extremamente oportuna a reflexão do compromisso dos dirigentes espíritas com as novas gerações.
Num mundo conturbado por contrastes incríveis, surge a esperança de um mundo melhor. Porém, as ações do presente e quanto mais precoces, mais oportunas, são imperiosas para o processo de acolhimento, apoio e orientação das crianças. O Espírito imortal, ao reencarnar, tem na infância a grande oportunidade de receber o enlaçamento da educação como se apresenta na questão 383 de O livro dos espíritos.
A obra assistencial e educacional, voltada à infância, e o apoio familiar, à luz das premissas do Evangelho, clareadas pelo Espiritismo, oferecem um potencial de incrível impacto para se fazer a profilaxia de eventuais futuros problemas, constituindo-se, desde já, em valioso recurso para o apoio espiritual ao ambiente da família dos recém-reencarnados.
Os alertas de Benedita Fernandes, quando nos chama a atenção para “emergência” com a criança e propõe uma “cruzada de amor”, são oportunos e cabíveis para os dias de hoje.
Os milhares de centros espíritas do país podem prestar grande contribuição à sociedade brasileira e à preparação de uma Nova Era para a Civilização.
É chegado o momento de se ampliar as atenções para a infância, atendendo-se à diversidade das faixas sociais e das necessidades dos centros espíritas, os quais são as células básicas do Movimento Espírita:
[...] é uma escola onde podemos aprender a ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna.4
REFERÊNCIAS:
1 PERRI DE CARVALHO, Antonio Cesar. Dama da caridade. 2. ed. São Paulo: Ed. Radhu, 1987. p. 94.
2 XAVIER, Francisco C. Pelo Espírito Hilário Silva. Num domingo de calor. In: Anuário espírita 1964. Araras: Ed. IDE, 1964. p. 49.
3 FRANCO, Divaldo P. Sementes de vida eterna. Por diversos Espíritos. Salvador: Leal, 1978. cap. 20 e 21, p. 85 a 92.
4 XAVIER, Francisco C. O centro espírita, pelo Espírito Emmanuel. Reformador, ano 69, n. 1, p. 5(9), jan. 1951.
- Antonio Cesar Perri de Carvalho -