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28 de dez. de 2012

Espiritualidade e Câncer




 
 

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer, existe uma expectativa de que, neste ano de 2.000, 113.959 pessoas morrerão de câncer no Brasil.
Dessas, 61.522 serão homens e 52.437, mulheres. Portanto, 53,98% de homens para 46,02% de mulheres.
Muitas são as variáveis que proporcionam essa diferença, com maior predomínio de homens, como vítimas do câncer. Contudo, não se pode negligenciar o ato de que há também, entre homens e mulheres, uma diferença no que diz respeito à espiritualidade. Por questões culturais, as mulheres estão mais propensas a se envolverem com questões da transcendentalidade do que o homem. E conforme estudos que vêm se processando nos últimos tempos, esse será também um elemento a contribuir para com o maior índice de câncer em pessoas do sexo masculino.
Em épocas passadas a diferença entre a incidência de câncer entre homens e mulheres, era bem maior naqueles do que nessas. Mudanças de hábitos de vida, especialmente colocando as mulheres em nível de igual ou quase igual competitividade com o homem nas áreas de trabalho, com conseqüente aumento do stress, associada à aquisição de vícios como o tabagismo por parte de grande número de mulheres, contribuiu significativamente para a convergência desses números.
Mas, reafirmamos, não se pode deixar de lado a variável espiritualidade na manutenção de um significativo diferencial entre os dois grupos.
 
Mas como a espiritualidade interfere na ocorrência ou na prevenção do câncer?
 
SHEKELLE e colaboradores, em trabalho publicado na revista “Psychosomatic Medicine” de abril de 1981 afirma que DEPRESSÃO e SENTIMENTO de DESESPERANÇA estão fortemente relacionados com o aparecimento de CÂNCER, por interferirem no sistema imunitário.
James PAGET, que descreveu uma das formas mais comuns do câncer da mama, já afirmava a mesma coisa em 1870.
E SHEKELLE ainda demonstra que pesquisas feitas com animais submetidos a sucessivos e inevitáveis choques elétricos, produziam neles o aparecimento de tumores, em decorrência do stress provocado pelos estímulos dolorosos.
Levando em conta o que ERICH FROMM dizia: “A mente é a benção e a maldição do Ser Humano”, podemos deduzir que nele, mais dos que em animais-cobaias, a possibilidade do aparecimento de tumores em conseqüência de stress se torna muito mais provável. Afinal, só o Ser Humano questiona “POR QUE SOFRO?” e isso amplia significativamente os efeitos do stress.
EVERSON, na mesma publicação, porém já em 1996, confirmou as pesquisas de SHEKELLE afirmando que a DESESPERANÇA é mais forte do que a DEPRESSÃO, na ocorrência de suicídio.
Ora, o câncer pode ser considerado, em diversos casos, como uma forma de suicídio. Uma forma a que demos o nome de SUICÍDIO ENDÓGENO uma vez que a pessoa, incapaz por qualquer razão, física, moral ou psicológica, de se matar diretamente cria, a nível de consciente profundo, bloqueios de seus mecanismos de defesa, ou estabelece situações onde doenças ou acidente possam lhe acontecer, tirando a sua vida.
STEPHANIE SIMONTON, esposa e colaboradora de Carl SIMONTON afirma, no livro “Com a a vida de novo” que “cada um de nós tem a sua participação na saúde e na doença, a todo momento, através de nossas convicções, nossos sentimentos e nossas atitudes em relação à nossa vida.”
Foi exatamente a partir dessas reflexões que criaram o chamado “método SIMONTON”, para o tratamento de paciente cancerosos e que entende a doença como um problema dizendo respeito à pessoa como um todo: corpo, emoções e mente.
Segundo suas observações o câncer costuma surgir como uma indicação de problemas e stress, que aconteceram de 6 a 18 meses antes do aparecimento da doença. Reagindo a eles com desesperança e desistência, o a pessoa abriu suas defesas, permitindo a proliferação das células cancerosas em seu organismo.
Mas, o que é o câncer? Muitas pessoas acreditam que se trata de um poderoso invasor que vem de fora e nos domina inexoravelmente. Contudo isso não é verdade. O câncer é, na realidade, um conjunto de células fracas e confusas que se multiplicam quando os sistemas naturais de defesa do organismo ficam inativos. A isso se dá o nome de TEORIA DA VIGILÂNCIA IMUNOLÓGICA.
Para o tratamento dessa doença, assim como de muitas outras, a sofisticada tecnologia médica atual passa uma idéia de poder absoluto, ao mesmo tempo que denota um certo desprezo ou descrença nos nossos próprios recursos naturais de combate às doenças. Fica esquecido que numa enfermidade há uma forte interação entre o enfermo, sua família, a sociedade em que ele se insere e os profissionais de saúde, especialmente o médico.
Privilegiam-se os exames complementares, especialmente os mais sofisticados – e mais caros! – em detrimento do ouvir e do tocar, para melhor examinar a pessoa enferma. ‘A terapêutica mais simples, porém eficaz, dá-se preferência aos tratamentos com alta tecnologia, medicamentos caríssimos e aparelhagens futurísticas. Sem que com isso se alcance, na prática e na realidade, resultados muito melhores do que quando se age com humanismo e simplicidade.
Afinal, toda a tecnologia moderna é bastante ameaçadora em suas formas e em seus efeitos colaterais. Uma sala de tomografia com seus enormes equipamentos, os aparelhos cheios de luzes e bips, assim como o aspecto muitas vezes deplorável de quem se submete a alguns tratamentos radioterápicos ou quimioterápicos, provocam suspeição, medo e até rejeição.
Por tudo isso, há que se repensar a relação médico-paciente – hoje bastante distante e fria – e a própria concepção do que é um Ser Humano. Para isso, vamos ampliar um pouco o pensamento do casal SIMONTON.
O Ser Humano é bem mais que corpo, emoções e mente, como afirmava em seu primeiro livro. Ele é CORPO (SOMA), MENTE (PSIQUÊ) e ESPÍRITO (PNEUMA).
No que diz respeito ‘a mente, ela nos lembra um iceberg. Aquele enorme bloco de gelo que flutua sobre as água, expondo apenas uma pequena parte de seu todo. Uma outra parte, permanece visível através da transparência da água. Mas seu maior volume está submerso, inalcansável aos nossos olhos e portanto impossível de ser delimitado em sua profundidade. Entendemos o consciente com três partes: a que aparece nitidamente e que á conhecida simplesmente como “consciente”. A ela damos o nome de “consciente exterior”. Nela se situam nossa memória imediata, nossos pensamentos reflexivos, nossas sensações e emoções. É a ponta aparente do iceberg. A segunda parte, chamada de “sub-consciente”, preferimos chamar de “consciente interior” já que a palavra “sub” nos passa uma idéia de inferioridade, o que não é real com essa parte importante de nossa mente.
Nela se situam a nossa memória elaborada e nossa intuição. E, por não ter limites precisos com o consciente exterior, também se torna responsável por sentimentos e emoções. É a parte do iceberg que vemos através das águas e que se perde numa espécie de degradée para o fundo do mar. E, finalmente, também sem limites precisos com a parte intermediária, temos o que é chamado de “inconsciente”, mas que preferimos chamar de “consciente profundo” já que o nome clássico sugere mais um estado de desmaio, de letargia. Paradoxalmente é exatamente essa parte de nossa mente, aquela que nunca está dormindo mas permanece em constante e incansável prontidão com seus recursos, enormes e ainda muito pouco conhecidos. Nele se encontra nossa memória total, capaz de arquivar todas as informações que recebemos desse o momento em que fomos gerados no ventre de nossa mãe.
Exatamente por isso, em momentos especiais de nossa vida algumas dessas informações afloram para os níveis mais superficiais de nosso consciente, produzindo reações físicas e psíquicas mais ou menos desejáveis.
Também nessa parte profunda de nosso consciente está arquivada a nossa memória genética, que trazemos de nossos ancestrais e que enseja as chamadas “terapias de vida passada”, confundindo as experiências que trazemos das gerações que nos antecederam em linhagem familiar, com pseudo vidas vividas por nós mesmos, jamais provadas dentro de uma metodologia científica correta e não sectária.
Tais terapias podem funcionar exatamente pela possibilidade de trazer essas informações genéticas arquivadas em nosso consciente profundo e que podem ser motivadoras de comportamentos capazes de gerar doenças psíquicas e até mesmo físicas. Mas sem que se possa generalizar ou hipertrofiar seus efeitos, muitas vezes frutos da má-fé comercial, da imprudência ou da irresponsabilidade profissional.
Isso posto, vemos que não é perdida a característica “trinitária” do Ser Humano, substituindo-se o que se chama de “emoções”, que consideramos parte da mente, pelo espírito (pneuma), não contemplado quando se fala em corpo, emoções e mente.
Partido dessa conceituação, mais que MEDICINA PSICO-SOMÁTICA temos de caminhar para a MEDICINA PNEUMO-PSICO-SOMÁTICA, para encontrarmos o caminho pleno da cura e, mais ainda, da prevenção das doenças. Especialmente do CÂNCER.
Aqui cabe uma observação: a essa visão integral do Ser Humano, dá-se também o nome de visão Holística. E à medicina, o nome de medicina Holística. Contudo tem havido muita deturpação do sentido do “holismo”, associando-o a visões fechadas e sectárias. Para se evitar tais confusões, adotamos o nome proposto de Medicina pneumo-psico-somática. Ou, se quisermos simplificar, Medicina Integral. Que não é nem deve ser uma “especialidade”, mas uma filosofia que permeie todas as práticas de saúde, seja a medicina, seja a enfermagem, a odontologia, a psicologia, etc.etc.
Nessa visão integral do Ser Humano acrescenta-se a ESPIRITUALIDADE na abordagem do enfermo. Mas, o que é ESPIRITUALIDADE?

GAMINO e EASTERLING, num trabalho publicado em “The Forum” jornal oficial da ADEC - ASSOCIATION FOR DEATH EDUCATION AND COUNCELING, de março-abril de 2.000, mostraram, num estudo metodologicamente rigoroso de 85 pessoas vivenciando uma condição de luto, que a ESPIRITUALIUDADE INTRÍNSECA atenuava sensivelmente o sofrimento da perda. Enquanto que a exclusiva freqüência a uma Igreja, seja ela qual for, não atenuava nada.
Anteriormente, em 1967, havia surgido na Inglaterra, com os trabalhos da doutora CICELY SAUNDERS, um conceito novo, denominado HOSPICE que trouxe muitas mudanças na cultura médica, especialmente no que dizia respeito ao tratamento dos pacientes terminais: alivio da dor, relacionamento com a família do enfermo, autonomia do enfermo e maior preocupação com problemas éticos.

No que diz respeito a dor, salientamos a DOR ESPIRITUAL. A qual é, geralmente, a grande geradora de DESESPERANÇA.

QUEM NÃO CRÊ, NÃO ESPERA! E QUEM NÃO ESPERA, MORRE!

Por tudo isso, torna-se fundamental que se entenda a espiritualidade. Que não é o mesmo que RELIGIOSIDADE, apesar de estarem estreitamente relacionadas pois a religiosidade é um dos aspectos importantes e uma conseqüência da espiritualidade.
Espiritualidade é um termo surgido na Renascença (Séc. XV) mas cujas idéias básicas tiveram origem com os ensinamentos de PLATÃO, no século IV A.C.
Esse grande filósofo defendia a idéia de que o Ser humano era um dualismo CORPO-ALMA, com prevalência absoluta da alma sobre o corpo. Exatamente por isso era indispensável que o Ser Humano se dedicasse às coisas do espírito, deixando de lado qualquer preocupação com o seu corpo. Que nada mais era do que uma prisão da alma.
Esse pensamento, que teve forte influência na humanidade, especialmente no cristianismo primitivo, evoluiu para a idéia do Ser Humano como um todo, formado à imagem da Trindade Divina (conceito que encontramos em diversas correntes religiosas, antigas e atuais). Somos então CORPO, MENTE e ESPÍRITO, porém inseparáveis. Quando morremos, não somos nós que morremos, mas nossa expressão biológica a que denominamos corpo e que vive em permanente estado de morte e renascimento. Observando uma foto nossa, de quando tínhamos 5 anos de idade, vamos constatar que aquele corpo já morreu há muito tempo. Outros corpos foram progressivamente substituindo aqueles que iam morrendo. E durante todo esse processo, nossa “individualidade” permanecia imortal, apenas amadurecendo com o passar dos anos. Quando morrermos, nosso corpo e nossa mente se espiritualizarão, deixando essa realidade temporo-espacial que é a única conhecida por nós, passando à dimensão que denominamos “eternidade”, na qual inexiste o tempo e o espaço. E por isso mesmo se torna inefável, totalmente inalcansável pelo nosso raciocínio uma vez que tanto ele como todos os idiomas sobre a Terra, são limitados às idéias de espaço e de tempo.
Incapazes portanto de entender ou explicitar o que é, na realidade, o não-espaço e não-tempo do qual só conseguimos falar através de metáforas, utilizando figuras e idéias de nossa própria realidade. S.TOMÁS DE AQUINO, o grande filósofo e teólogo afirmava: “Não existe corpo sem espírito, nem espírito sem corpo”. Nessa vida, temos um espírito “corporificado”. Ao morrermos, passaremos a ter um corpo “espiritualizado”. E as moléculas que compõem o nosso corpo material, permanecerão dispersos nessa realidade pois a ela e somente a ela pertencem. Mas a nossa individualidade permanecerá imortal na eternidade.
Espiritualidade Intrínseca é pois o mergulho infindável no transcendental. E para isso se exige humildade, coragem e decisão.
Pelo medo, criamos um “Deus quebra-galhos”. Mergulhando no transcendental, descobriremos o verdadeiro Deus na sua plenitude. Que todas as religiões, em todos os tempos e lugares, descobriram e Lhe deram nomes diversos. Mas sempre buscando - e ainda buscam – religar (religião) o Ser Humano com Deus.
E isso exige constante aprofundamento. Gostar de música, não é o mesmo que conhecer música. Quem conhece usufrui muito mais do que quem apenas gosta.
Nesse momento podemos nos questionar: Que Deus é o nosso?
O ritualismo vazio é estressante: Não “responde”. Só desespera pois quase nunca alcançamos, pelos ritos vazios, as coisas que queremos. E que queremos exatamente por termos uma religiosidade sem espiritualidade!
A espiritualidade intrínseca nos liberta da desesperança enquanto a religiosidade sem espiritualidade nos causa medo, terror e ainda gera desesperança.
E a desesperança gera o câncer. Está mais do que provado!
Concluindo, queremos relembrar dois fatos descritos no texto mais lido do mundo, a Bíblia: Cristo ao curar um enfermo dizia: “Tua fé te salvou!” Isso nos mostra uma estreita relação entre a doença e a espiritualidade.
O outro fato, esta já no Antigo Testamento: Abraão e Sarah eram idosos e estéreis. Pela fé, nasceu-lhes Isaac, que deveria confirmar a promessa que Deus havia feito a Abraão por reconhecer nele a sua fé: “Sua descendência será maior que o número de estrelas no céu.
Mas algum tempo depois, novamente é colocada em prova, a fé de Abraão. E ele se dispõe a sacrificar seu filho Isaac, nascido em condições tão excepcionais. Novamente Abraão demonstra que tinha espiritualidade e não um artificial ritualismo religioso. Por isso mesmo Isaac foi poupado e cumpriu-se a promessa de Deus sobre a sua numerosa descendência.

Isso é ESPIRITUALIDADE. E ela impede as doenças, ou então as cura.
NÃO É MILAGRE. É REALIDADE!

Por: Dr. Evaldo A. D’Assumpção (É Cirurgião Plástico e Tanatologista. Membro da Academia Mineira de Medicina, Presidente da Sociedade de Tanatologia de MG; Membro da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica MG


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