Dialogo com as Sombras 2ª PARTE - (15,16) OS JURISTAS
15 - OS JURISTAS
16 - O EXECUTOR
15 - Os Juristas
Muitas vezes nos encontramos
com esses trabalhadores das sombras, tão compenetrados de suas tarefas como
quaisquer outros. São os terríveis juristas do Espaço.
“Estes também — diz o artigo
já citado, em “Reformador” de fevereiro de 1975 —, autoritários e seguros de
si, exoneram-se facilmente de qualquer culpa porque, segundo informam ao doutrinador,
cingem-se aos autos do processo. Na sua opinião, qualquer juiz terreno, medianamente
instruído, proferiria a mesma sentença diante daqueles fatos. Todo o formalismo
processualístico ali está: as denúncias, os depoimentos, as audiências, os
pareceres, os laudos, as perícias, os despachos e, por fim, a sentença —
invariavelmente condenatória. E até as revisões, e os apelos, quando previstos
nos “códigos” pelos quais se orientam (ou melhor, se desorientam).”
São também impessoais e frios
aplicadores das “leis”.
Um desses juizes deu-me a
honra de trazer, para argumentar comigo, os autos do processo. Abriu sobre a
mesa o caderno, invisível a mim, e começou a citar a lista de crimes que o
acusado havia cometido, desde o desencaminhamento de jovens inexperientes, até
assassinatos. Só depois, pobre irmão, foi descobrir que estava lendo os autos
de seu próprio processo! Trouxera consigo um servidor da sua equipe apenas para
“carregar” os autos, coisa indigna de sua elevada condição de magistrado.
Quando pediu ao contínuo que lhe passasse os autos, este lhe deu a documentação
errada. .. O engano foi, aliás, seu mesmo, porque o bedel lhe dera primeiro um
dos processos, e ele, em tom áspero e imperioso:
— Não é este, é o outro!
O “outro” era o dele!
Já me trouxeram também os
autos do processo de minha “heresia”, como também autos já arquivados, com
sentença proferida, em caso que, segundo este jurista invisível, eu havia
apelado.
16 - O EXECUTOR
Sente-se também totalmente desligado
da responsabilidade, quanto às atrocidades que pratica, pois não é o mandante;
apenas executa ordens. Usualmente, nada tem de pessoal contra suas vítimas
inermes. Agasalham-se na crueldade agressiva e fria, sem temores, sem remorsos,
sem dramas de consciência.
Quantos deles encontramos nos
trabalhos de desobsessão! São remunerados das maneiras mais engenhosas e
diversas, as que mais se ajustam à sua psicologia, aos seus vícios e às suas
deformações.
Já vimos o exemplo do sacristão que
era pago com suculentas refeições e vinhos deliciosos. Há os que são
compensados com prazeres mais vis. Outros são estimulados a atos de particular
“bravura”, com vistosas condecorações. Um deles me exibia, com orgulho e
frieza, uma preciosa condecoração por um gesto de enorme dedicação à causa de
seus mandantes: empenhara-se em castigar sua própria irmã!
Outro, desses companheiros
desarvorados, deixou-nos uma das mais comoventes lições, escrita, a princípio,
com as sombrias cores do rancor, e depois, com as luminosas tintas do amor e da
emoção.
Empenhara-se num processo tenebroso e complexo, de obsessões violentas,
a serviço de um grupo que dispunha de vasto plano de atividade. Ao
manifestar-se, mal conseguia conter o seu ódio e a sua irritação. Revela sua
elevada hierarquia, ridiculariza, deblatera, ameaça e diz-se um dos
trabalhadores do Cristo. Não se teria dignado comparecer diante de nós, se não
nos tivéssemos metido em coisas que não eram de nossa conta. Conhece-me de
longa data: sempre fui um herético impenitente, metido a reformista. Seus
“soldados” estão lá fora, à sua espera. Quando, sustentados por luminosos
trabalhadores espirituais, começamos a conseguir dele alguma reação positiva,
parece entrar em pânico e não consegue ocultar certo temor, ele que sempre foi
destemido homem de ação.
Ao cabo de algum tempo de
diálogo, nas várias vezes em que compareceu ao grupo, ofereço-me para ajudá-lo,
em alguma coisa de que necessite. Pergunto-lhe se não tem alguém a quem
possamos servir.
É justamente isso que ele não
entende: descobrira que, mesmo sem o saber, estávamos já servindo, com todo o
nosso afeto e dedicação, a um Espírito muito querido ao seu coração, que em
antiga encarnação fora seu filho e que nunca mais esquecera. Não podia
compreender como estávamos ajudando o “menino”, a troco de nada, sem exigir
coisa alguma, enquanto ele tudo fazia para perseguir-nos. Aquilo era demais
para a sua compreensão. Havia mais, porém. Descobrira que os mais terríveis
obsessores de seu filho eram precisamente os companheiros da sua própria
organização! E, no entanto, treinara “soldados” para nos dar combate sem
tréguas, a nós, que tanto nos esforçávamos por ajudar o filho... Era, de fato,
incompreensível...
Passadas algumas semanas,
obteve permissão para transmitir-nos uma mensagem de gratidão, de amor, de
arrependimento. Consideramo-la uma das coisas mais lindas e mais emocionantes
que tivemos, ao longo de muitos anos de prática mediúnica. Quando me lembro
disso, ainda me parece ouvir sua voz pausada, embargada, sofrida, a chorar o
tempo perdido, a ausência do filho amado, que não lhe era possível nem visitar,
mas que deixava aos nossos cuidados. Estava de partida para uma nova
encarnação, que se prenunciava de muitas dores e renúncias, como ele precisava,
para o reajuste. Sustentava-o a esperança de um reencontro alhures, no tempo e
no espaço, um dia... um dia...
Assim são eles, pobres irmãos
desorientados. Não nos impressionemos com a sua violência e agressividade.
Trazem dores milenares e, a despeito de si mesmos, preservou-se em seus
corações a pequenina chama do amor. Basta um sopro de compreensão e afeto para
que ela se reacenda.
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