Diálogo com as Sombras 2ª PARTE (5) - OUTROS PARTICIPANTES
Um grupo
mediúnico não se constitui apenas de um doutrinador e alguns médiuns já
desenvolvidos e preparados para os seus encargos. Há sempre outros
companheiros, sem mediunidade ostensiva, que podem e devem participar,
respeitados o limite numérico e a qualificação pessoal anteriormente referidos.
Tais
participantes merecem atenção e cuidados, como quaisquer outros que integrem o
grupo. Devem obedecer à mesma disciplina, e entregar-se ao mesmo aprendizado
doutrinário e à mesma atenta observação a que cada um dos demais é submetido,
pois, ainda que não manifestamente, também trazem ao grupo a sua contribuição.
São geralmente amigos e parentes de um ou outro membro, e sentem-se atraidos
pelo trabalho. É necessário estudar bem e discutir com franqueza as suas
motivações. Estão interessados num trabalho sério, cansativo, contínuo e
disciplinado? Acham-se apenas impulsionados pela curiosidade passageira?
Integram-se bem no grupo, mantendo boas relações de amizade com os demais componentes?
Estarão dispostos a contentar-se com uma tarefa aparentemente inútil e
apagada?
O trabalho, nos grupos de desobsessão, não
oferece atrativos àqueles que não estejam preparados para a dedicação, sem escolher
funções e sem buscar posições de relevo. Não apresenta, ademais, fenomenologia
espetacular, para distrair aqueles que buscam nos fatos mediúnicos apenas a
manifestação mais dramática, como as de efeitos físicos (materializações,
transportes, levitação e outras), nem comunicações de Espíritos luminosos ou
célebres. Nada disso. O trabalho é muito mais humilde, exige dedicação, esforço
concentrado, renúncia, paciência. O grupo não se reúne para divertir-se com
Espíritos, mas para servir e aprender. Não esperemos revelações
extraordinárias, destinadas a abalar o mundo, nem convívio com os Espíritos
redimidos, que fiquem à nossa disposição, para responder a qualquer pergunta ou
fazer qualquer favor.
Por outro
lado, o companheiro, ou companheira, sem mediunidade ostensiva, pode deixar-se
envolver pela frustração, se não tem condições de “receber” Espíritos, escrever
páginas psicográficas, ver ou ouvir os companheiros desencarnados. Muitos
buscam aderir aos grupos na esperança de que isto aconteça e, de uma hora para
outra, passem a funcionar como médiuns perfeitamente ajustados. Raramente a
mediunidade eclode assim, espontânea e fulminante, pronta e afinada. Só
excepcionalmente isso acontece. A norma geral é o desabrochar lento, muitas
vezes penoso, a exigir estudo, dedicação, orientação e renúncias bastante
sérias. Quando assistimos àmanifestação de um Espírito sofredor, ou de um dos
instrutores anônimos do Mundo Superior, através de um médium perfeitamente
ajustado, não imaginamos quanto trabalho preparatório foi necessário
desenvolver, até chegar àquele ponto; quantas dores, quanta vigilância, e
preces, incertezas, dificuldades e desenganos. Quem ouve o consumado virtuoso
do piano, facilmente é levado a esquecer os longos anos de aprendizado, as
cansativas horas de exercício, o esforço constante de aprimoramento. É como se
contemplássemos um produto de apurado acabamento, sem a menor noção de sua
gênese e da técnica e adestramento que a sua confecção exigiu do artífice. E é
por isso, também, que muitas mediunidades ficam, por assim dizer, inacabadas,
toscas e primitivas, como obras que o artista não teve suficiente dedicação e
tenacidade para concluir. Dizem que o gênio é dez por cento inspiração e
noventa por cento transpiração; a mediunidade talvez guarde relação semelhante.
Portanto, ao presenciarmos o suave fluir de uma bem treinada mediunidade,
manifestemos, intimamente, nosso respeito pelo médium. Ele trabalhou muito e
lutou muito para que assim fosse. Nada de ciúmes pelo que ele faz, nem de elogios
balofos que o percam, mas nosso apreço, este sim, lhe é devido.
Serão,
então, dispensáveis os componentes do grupo que não ofereçam condições
mediúnicas? Não. Sua participação é desejável. Se estão bem entrosados com as
demais pessoas e mantém atitude construtiva, contribuem para a concentração das
mentes no clima de segurança e de harmonia, e prestam serviços relevantes de
apoio. Ainda que inconscientemente, muitas vezes têm papel importante no grupo,
fornecendo recursos vibratórios de alto valor.
É muito
freqüente ouvirmos desses companheiros uma palavra de desânimo e desinteresse,
por acharem que nada estão fazendo no grupo, o que é falso. Os nossos
instrutores espirituais estão cansados de insistir em que todos os recursos
humanos colocados à disposição do trabalho são aproveitados. Não é necessário
que todos, indistintamente, sejam médiuns, nem mesmo desejável. Os companheiros
sem mediunidade ostensiva precisam convencer-se de que devem manter, em
qualquer circunstância, e ao longo dos anos, uma atitude construtiva e disposta
à cooperação. Deixem aos operadores desencarnados a incumbência de decidir
quanto à utilização dos recursos de cada um. A atitude negativa acarreta
dificuldades e desarmonias que prejudicam seriamente as tarefas mediúnicas, da
mesma forma que o espírito Crítico, ou de fria observação, como se o membro do
grupo fosse mero espectador.
Por mais
de uma vez, tive oportunidade de verificar casos específicos de atitudes
assim, quando o companheiro, ou a companheira, questionou a validade da sua
presença no grupo. A um desses, um dos Espíritos que se incumbiam da orientação
do grupo afirmou que, ao contrário, tal pessoa nos prestava excelentes serviços,
como “dínamo de vibrações amorosas”, de que estava pleno o seu coração. Esses
recursos eram amplamente utilizados no trabalho, sem que ela tivesse
consciência do fato.
Além do
mais, é comum desenvolverem-se nesses companheiros preciosas mediunidades, que
se acham apenas em potencial, em período de expectativa e de provas, para
experimentar-lhes a paciência e a tenacidade. Com o decorrer do tempo, começa
a ensaiar-se timidamente a faculdade, numa rápida vidência, na captação de uma
ou outra palavra ou intuição. Quase sempre podem também ser muito úteis como
médiuns de passes, dado que praticamente todos os seres humanos dispõem dessa
condição em potencial, se tiverem desejo de servir e pureza de intenções. Há
condições para desenvolvê-la harmoniosamente, sob supervisão de alguém mais
experimentado. Neste caso, aqueles que não dispõem de faculdades para
incorporação, psicografia ou vidência, poderão incumbir-se da nobre tarefa do
passe reparador, tão necessária num grupo de trabalhos práticos. A juízo do
dirigente, e por ele orientados darão passes nos médiuns, após comunicações
particularmente penosas, a fim de ajudá-los no reequilíbrio de suas energias e.
aliviar aflições residuais deixadas pelas vibrações dolorosas do manifestante
em desarmonia. Podem ainda Contribuir para a fluidificação da água.
Quanto ao
mais, tenham paciência e portem-se com humildade e respeito. É possível que,
com o tempo, venham a manifestar indícios indubitáveis de excelentes
faculdades, que poderão ser cultivadas e aproveitadas. Mantenham-se em calma,
sem açodamento ou excitação. Estudem e observem.
O dirigente do grupo deverá ter sensibilidade
bastante para identificar os indícios e acompanhar cada caso individual, com
sabedoria e bom senso.
O participante, porém, precisa estar preparado
para a eventualidade de conviver com o grupo por longos anos, sem que nenhum
fenômeno ostensivo se passe na intimidade de seu ser. Não pense, porém, que é
inútil, só porque não incorpora, não vê ou não ouve Espíritos; às vezes, sua
participação é preciosa. Conserve-se firme e tranqüilo; contribua para manter
um bom ambiente de vibrações amorosas, vigie seus pensamentos, permaneça concentrado
e em prece nos momentos mais críticos. Não se aflija se a sua contribuição é
menos ostensiva. Num grupo bem harmonizado, todos são úteis e necessários, como
já ensinava Paulo, ha tantos séculos:
- Com
efeito — dizia ele aos Coríntios (Primeira Epístola, capítulo 12, versículos 14
e seguintes) — o corpo não se compõe de um só membro, senão de muitos. Se o pé
dissesse: “Como não sou mão, não pertenço ao corpo”, deixaria de ser parte do
corpo, por isso? E se o ouvido dissesse: “Como não sou olho, não pertenço ao
corpo”, deixaria de ser parte do corpo, por isso? Se todo o corpo fosse o olho,
onde ficaria o ouvido? E se fosse todo ouvido, onde ficaria o olfato?
Nada,
pois, de ambicionar, ou mesmo desejar, faculdades para as quais não estamos
preparados, ou, pelo menos, ainda não estamos preparados. Tenho, sob este
aspecto, uma experiência pessoal. Durante vários anos freqüentei um grupo
mediúnico, sem saber ao certo o que fazia. Sentava-me entre os companheiros,
procurava portar-me com respeito, atenção e vigilância interior. Nenhum fenômeno,
nenhuma forma de mediunidade, nem mesmo uma palavra perdida, que eu tivesse
captado, ou a fugaz visão de um companheiro desencarnado. A tudo ouvia,
participando dos dramas e aflições dos irmãos desarvorados, que então nos
procuravam, acompanhando com interesse as instruções e observações dos nossos
benfeitores desencarnados. Esse grupo, constituído de pessoas que muito se
estimavam e se mantinham bem afinadas, não tinha, porém, a rigidez de uma
disciplina mais rigorosa. Vários dos seus componentes conversavam com os
Espíritos, ao sabor dos acontecimentos. Os resultados eram bons, por certo,
porque nos esforçávamos por manter a harmonia. Sentíamos, no entanto, que
poderíamos fazer melhor a nossa tarefa, e, uma noite, antes da reunião, tomamos
algumas decisões mais drásticas. Como o grupo não tinha uma liderança clara e
específica, as tarefas foram distribuídas por uma espécie de consenso geral: A,
B e C se limitarão às suas respectivas mediunidades, D fará as preces de
abertura e encerramento. E, voltando-se para mim, disse aquele que estava com
a palavra:
— Só você
falará com os Espíritos.
Senti um
“frio por dentro”. Eu? Que diria, meu Deus! Aos irmãos aflitos e
desarmonizados.
O
aprendizado dos tempos em que fiquei como simples observador revelou-se
precioso, e, ainda que thnidamente e sentindo cuidadosamente o difícil terreno
em que pisava, comecei a tarefa que me fora atribuida procurando corresponder
às esperanças daqueles que ma concediam.
E foi
assim que, inesperadamente, me achei investido de uma responsabilidade que nem
suspeitava me seria conferida.
Não Posso
dizer se dei boa conta dela, mas, como me conservaram no posto pelo resto do
tempo em que o grupo funcionou, creio que Correspondi à confiança que em mim
depositaram.
Este
episódio é aqui documentado, apenas para enfatizar a circunstância de que,
muitas vezes, estamos, no grupo, sendo imperceptivelmente preparados e testados
para responsabilidades futuras. Esperemos com paciência. E se não chegar o dia
de uma participação mais dinâmica e efetiva, ou, por outra, mais ostensiva,
não importa; não perdemos o tempo, ofertando O Pouco de que dispomos:
alguém se beneficiou mesmo com esse pequeno óbolo da viúva. Não somos julgados
pelos resultados, mas pela boa-vontade que evidenciarmos.
O
dirigente do grupo deve estar bem atento a toda e qualquer contribuição dessa
natureza, estimulando-a com interesse, Colocando à disposição do companheiro sua
experiência e orientação, procurando ajudá-lo, assisti-lo no esclarecimento de
dúvidas, estudando junto com ele (ou ela) as dificuldades da tarefa, oferecendo
sugestões, sem colocar-se na Posição de mestre infalível que tudo sabe, pois em
questão de mediunidade precisamos ser humildes e sensatos para admitir que não
sabemos tudo, longe disso; aquele que souber um pouco, utilize seus
conhecimentos de maneira construtiva, sempre disposto a aprender mais, a rever
pontos de vista, a reaprender. Cada caso é diferente, cada manifestação é
diferente, uma vez que cada um de nós é um ser diferente, a atestar a infinita
capacidade criadora dAquele que nos formulou no seu pensamento e nos deu forma,
vida e consciência.
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