Diálogo com as Sombras 2ª PARTE (6) - OS ASSISTENTES
Dificilmente
um grupo mediúnico deixará de ser procurado por pessoas que desejam assistir
aos seus trabalhos. Uns por mera curiosidade, outros na esperança de se
deixarem convencer, ou de se manterem na sua vaidosa e tola descrença, outros
na expectativa de uma cura, seja de males orgânicos, seja de desarmonizações
espirituais, como a obsessão, estados de angústia ou de desespero, ante a
partida de pessoas queridas.
Os
motivos são muitos, certamente relevantes, e a nós, espíritas, custa recusar
pedidos de ajuda a pessoas que, muitas vezes, nos são muito caras. O certo,
porém, é que não estaremos recusando ajuda simplesmente por não concordarmos
com o eventual comparecimento de alguém aos trabalhos do grupo.
Sabemos
que esta reserva é quebrada, com freqüência, em muitos grupos, enquanto outros
adotam a prática de abrir suas portas, em caráter permanente, seja a um público
reduzido e selecionado, seja a qualquer pessoa que se apresente.
Na minha
opinião, somente em casos excepcionais se justifica a presença de pessoas
estranhas ao grupo, nos trabalhos de desobsessão. Sob condições normais, ela
não é necessária à tarefa que nos incumbe junto aos obsidiados que buscam o
socorro de um grupo mediúnico. Mais do que desnecessária, a presença de pes
soas perturbadas, no ambiente onde se desenrola o trabalho me diúnico, pode
provocar incidentes e dificuldades insuperáveis. Sei que alguns dirigentes de
grupo objetarão a esse radicalismo; julgo, porém, que, como regra geral, deve
ser preservada a intimidade do trabalho mediúnico. É preferível pecar por
excesso de rigor, do que arriscar-se a pôr em xeque a harmonia e a segurança da
tarefas. Em casos excepcionais, grupos que contem com excelentE cobertura
espiritual poderão admitir essa prática, mas, é bom repetir, não como norma de
procedimento O grupo pode perfeitamente assistir os companheiros encarnados
sob as provações da obsessão, sem introduzi-los no seu ambiente de trabalho.
Não é a presença física deles, junto ao grupo,
que vai facultar ou fácilitar a tarefa, ao contrário, essa presença pode
causar consideráveis transtornos. Os benfeitores espirituais dispõem de
recursos mais seguros e eficazes para isso, não havendo necessidade de correr
riscos indevidos. Assim, a não ser que os responsáveis espirituais pelo
trabalho recomendem taxativamente a presença da pessoa, no ambiente em que se
realisam as sessões, isso deve ser tormalmente evitado.
Ainda que
aqueles que solicitam nossa ajuda interpretem a recusa como falta de caridade,
ou ausência de espírito de colaboração, sabemos que assim não é. Também não se torna necessário
descer a pormenores explicativos e justificativos dessa atitude. Basta dizer ao
interessado que não é necessária a sua presença física, para que o trabalho
seja feito. E não é mesmo, na imensa maioria dos casos. Pelo menos é essa a
experiência que tenho tido, em vários anos de prática.
O que
acontece é que pessoas sob o domínio de obsessores implacáveis e vingativos,
rancorosos e violentos, apresentam invariavelmente um componente mediúnico, ou
seja, são também médiuns, embora desgovernados, desajustados e ignorantes de
suas faculdades e Possibilidades.
No livro
“Nos Domínios da Mediunidade”, narra André Luiz o tratamento de um caso de
possessão. Hilário pergunta ao Instrutor se deve considerar o doente, por nome
Pedro, como médium:
— “Pela
passividade com que reflete o inimigo desencarnado, será justo tê-lo nessa
conta, contudo, precisamos considerar que, antes de ser um médium na acepção
comum do termo, é um Espírito endívidado a redimir-se.”
E mais
adiante, na página seguinte
(76, da 6ª edição da FEB):
“... Por
esse motivo (compromissos do passado), Pedro traz consigo aflitiva mediunidade
de provação.” (Destaques meus.)
Assim, na
condição de médium desgovernado, e não integrado na equipe que constitui o
grupo que se incumbe de socorrê-lo, o obsidiado, ou possesso, facilmente
introduzirá nele um fator de perturbação e desequilíbrio, que poderá trazer
sérias complicações, se o grupo não estiver muito bem preparado para essa responsabilidade.
Em suma:
a meu ver, como regra geral, o grupo mediúnico não deve permitir a presença de
pessoas estranhas às suas tarefas. Somente em condições muito especiais,
excepcionais mesmo, deverá fazê-lo, se dispuser de cobertura e consentimento
expresso dos benfeitores espirituais. Esses casos serão previamente
selecionados pelos mentores do grupo, e nem sempre conhecemos as razões pelas
quais assim decidem. Pode ser que o tratamento exija certos tipos conjugados de
mediunidade, ou de recursos outros, de que o grupo não disponha no momento,
como, por exemplo, número maior de médiuns, ou um doutrinador especial. Pode
ser, também, que seja necessária a presença de determinada pessoa encarnada,
com a qual desejam pôr o Espírito manifestante em contacto direto. Pode ser,
ainda, que não desejem, com um caso especial, interferir no fluxo normal do
trabalho. Ou então, estaria havendo dificuldade em atrair o Espírito a ser
tratado, até ó local onde habitualmente se realiza a sessão. Enfim, há sempre
razões respeitáveis, quando um dirigente espiritual de nossa confiança propõe
que o trabalho seja feito à
parte. Evidentemente, nessa hipótese, a sessão exige tais cuidados que,
obviamente, não poderia ser realizada sob as condições normais. Nestes casos,
os Espíritos orientadores solicitarão uma sessão especial, em dia e hora
previamente combinados, designando, ainda, quem dela deve participar.
Isso, no
que diz respeito a pessoas perturbadas, sob o domínio de rancorosos obsessores
ou possessores; mas, e aqueles que apenas desejam “assistir” aos trabalhos?
Devem ser admitidos? Na minha opinião, não. Não que o grupo mediúnico seja uma
sociedade secreta, hermética, esotérica e misteriosa, mas, porque é da sua
essência uma atitude de recato, de sigilo, de discrição. O trabalho mediúnico,
especialmente o de desobsessão, não é para ser divulgado, nem exibido, como
espetáculo público.
Há algum
tempo, um amigo a quem muito respeito e admiro, pelas nobres qualidades de
caráter e cultura, começou a observar, em seu próprio lar, a formação de um
pequeno grupo mediúnico. Sem ser espírita, mas dotado de curiosidade
intelectual e pragmatismo, passou a assistir, a distáncia, algumas sessões, e
a solicitar livros, para informar-se do assunto. Ao observar que os trabalhos
enveredavam, como acontece com freqüência, pelo atendimento aos sofredores
desencarnados, me fez uma pergunta perfeitamente válida:
Você não
acha que existe aí um problema ético bastante grave?
Queria
referir-se, como explicou mais adiante, às interferências voluntárias ou
involuntárias, do grupo, em problemas de outras pessoas, encarnadas ou não, e
ao trato das revelações de caráter íntimo, que ocorrem no andamento dos
trabalhos mediúnicos.
É
certo, realmente que o diálogo com os Espíritos que se arvoram em cobradores
de faltas alheias traz revelações e informações que devassam a intimidade
alheia.
A
pergunta, como disse é válida, e o problema, antiqüissimo. Voltemos, Uma vez
mais, à experiência e à sabedoria do nosso amado Paulo:
—
Pelo contrário — escreve ele, na Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 14,
versículos 24 e 25 —, se todos profetizam (1), e entra um infiel, OU não-iniciado, será convencido por todos, julgado
Por todos. Os segredos de seu coração serão descobertos e, prostrado de rosto
ao solo, adorará a Deus, confessando que Deus está verdadeiramente entre vós.
Já naqueles
recuados tempos, por conseguinte, dava-se o fenômeno da indiscrição de
espíritos afoitos, com relação aos segredos da intimidade alheia. Paulo, no seu
pragmatísmo via no caso o seu aspecto positivo, ou seja, o de levar
o descrente, que ele chama de infiel, ou não-iniciado à crença e ao
reconhecimento da presença de Deus entre os primitivos cristãos. E isto é
legitimo e proveitoso, sem dúvida, porque muitos dos que se acham mais
fortemente entrincheirados nas suas descrenças e revoltas precisam de um
impacto maior para desalojarem-se do seu Comodismo ou de sua vaidade; não
podemos no entanto, perder de vista o fato de que a norma é o respeito à
intimidade alheia, com todas as suas fraquezas, suas angústias, seus
desenganos e seus erros, por mais clamorosos que sejam. Quando, no decorrer do
trabalho mediúnico surge uma denúncia, ou revelação acerca das fraquezas
alheias, essa informação é recebida com reserva e, se verdadeira, com redobrado
respeito e discrição. Não é para ser proclamada, divulgada ou comentada, nem
mesmo na intimidade da equipe de trabalho.
(1) Ao que se
depreende do texto, Paulo dá o nome
de profeta ao médium de Incorporação ou Psicofônico.
Todos nós estamos em posição vulnerável,
com relação a essas impiedosas indiscrições, que põem à mostra aspectos de
nossa pobre pessoa, que desejaríamos continuassem em segredo. Por isso,
precisamos estar preparados para que tais revelações não nos apanhem de
surpresa e não nos atinjam de maneira a desequilibrar-nos.
Uma
ocasião, no desespero angustioso de me ferir, um companheiro, com poderosos
recursos de hipnotizador, trouxe ao nosso grupo o Espírito de um irmão meu,
desencarnado recentemente e ainda em difíceis condições de desajustamento no
mundo espiritual. Ou, talvez, nem o tenha trazido, mas apenas imaginado o
episódio como estratagema, na desesperada tentativa de desarmonizar-me. Dizia
ele que meu irmão estava presente, sob seu domínio, e aparentemente
dirigindo-se a ele, dizia:
— Não tente
escapar, que eu aperto mais o laço.
E
voltando-se para mim:
— Ele gostava de
tomar umas e outras, não é?
Graças a
Deus, não me deixei Impressionar. Dei-lhe razão. Sim, infelizmente, meu irmão
atormentou-se com o vicio do álcool, provavelmente sob a influência obsessiva
de algum antigo comparsa, ou vítima. Quem sabe se do próprio, que ora me
trazia? Felizmente, o ardil não produziu os resultados que ele esperava. A
conversa prolongou-se por muito tempo e extravasou para outras sessões. O companheiro
acabou se convencendo, graças a Deus, e partiu arrependido e em pranto.
De modo
que, se o grupo está bem ajustado e integrado, todos se estimam e se respeitam,
não é a leviandade de um pobre Espírito, em estado de angústia, que vai
desequilibrá-lo; mas, se há estranhos na sala, o problema se torna bem mais
sério.
Por outro
lado, mesmo abstraindo essas ocorrências mais graves, não podemos ignorar que
há um clima de sintonia espiritual entre os que participam de trabalhos
mediúnicos, tanto entre os encarnados como entre estes e os orientadores
desencarnados. A introdução de um estranho causa certo desajuste, que nem
sempre épossível corrigir com facilidade e rapidez.
Tive,
também, algumas experiências nesse sentido.
Por duas vezes quebramos, em um grupo mediúnico, a regra
que havíamos estabelecido, de não admitir pessoas estranhas às tarefas. Não
havia problemas particularmente graves com essas pessoas, e nem as movia a
simples curiosidade. Num caso, tratava-se de um colega de trabalho de dois dos
membros do grupo. Embora não-espírita, encarava com simpatia nossa Doutrina.
Sua esposa desencarnara relativamente jovem, e ele estava profundamente abalado.
A instâncias de um dos nossos companheiros, resolvemos concordar com seu
comparecimento a uma das sessões semanais. Talvez alimentasse ele a esperança
de uma noticia acerca da esposa ou, quem sabe? até uma palavra dela mesma...
Sentou-se em uma cadeira à parte, fora do círculo que compunha a mesa, e lá
ficou, em silêncio e em atitude respeitosa.
Na verdade,
sua presença não impediu a realização dos trabalhos da noite, mas eles se
arrastaram dificultosamente; havia grandes hiatos entre uma manifestação e a
seguinte, e parecia pairar no ar certa dissonância, que não conseguimos vencer,
e que causava inegável obstrução ao fluxo normal das tarefas da noite. É certo
que, conscientemente, ele não contribuiu para dificultar-nos o curso do
trabalho, e isso nem passaria pelas nossas mentes; mas é evidente que a sua
presença desregulou qualquer coisa imponderável e acarretou a necessidade de
cuidados adicionais, por parte de nossos benfeitores, para que a sessão pudesse
realizar-se.
Esse
aspecto negativo repetiu-se, com as mesmas características, em circunstâncias
semelhantes, com uma jovem a quem concedemos permissão para assistir aos
trabalhos.
Depois
dessas duas experiências, voltamos à rígida política de não admitir ninguém, a
não ser os componentes regulares da equipe.
Essa,
portanto, é a regra, imposta pela disciplina e pela segurança da tarefa.
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