Atendimento fraterno à família da criança obsidiada
Pais ou responsáveis por uma criança perturbada por influenciação espiritual deletéria (obsessão), ao buscar auxílio no Centro Espírita, podem ser encaminhados ao Atendimento Fraterno. Reunimos notas sobre o atendimento a essas famílias, a começar pela essência da situação.
O quadro obsessivo. Inclui pelo menos três componentes: um Espírito multimilenar em corpo de criança, ligado a outrem por compromissos do passado, frequentemente por ato deletério ou acumpliciamento; adultos diretamente responsáveis pela criança; e o Espírito obsessor, que pode ser visto como “o irmão a quem os sofrimentos e desenganos desequilibraram”.1
A situação de obsessão. Segundo explicação do Instrutor Alexandre a André Luiz (Espíritos), uma situação de obsessão representa
[…] o ato presente do drama multissecular de cada um. [Pois] que obsidiado e obsessor são duas almas a chegarem de muito longe, extremamente ligadas nas perturbações que lhes são peculiares. […]2
Sintomas comuns à criança obsidiada. Perturbações de sono, terror noturno, inquietação, medos específicos e/ou generalizados, depressão, choro e emotividade exacerbada, agressividade, ausências (não explicadas pela ciência médica). Coexistem em dormência relativa sentimentos de culpa ou remorso, potencialmente propiciadores de conexão vibratória com o obsessor; medos de represálias ou de aprisionamento; sensação de perigo iminente ou ameaça constante.
Objetivos da reencarnação da criança. Reeducação e reforma íntima, moral, refletida nos sentimentos e ações, com regeneração, através do amor, de situações e laços anteriormente rompidos ou corrompi dos. Yvonne Pereira assevera que, para o obsidiado, a renovação moral, praticada cotidianamente, é a principal terapêutica, sem a qual ele “jamais deixará de se sentir obsidiado, ainda que o seu primitivo obsessor se regenere”.3 No caso da obsessão infantil, o compromisso de conduzir a criança pelos caminhos da autorrenovação é daqueles que são responsáveis por ela.
O atendimento fraterno pelo diálogo com os pais
Recomendamos que os pais da criança sejam recebidos e atendidos conforme orientações do livro: Atendimento fraterno no centro espírita: A terapêutica do Cristo consolador. 4 O Atendente desenvolverá, dialogando, as funções de acolhimento, consolo e orientação para o encaminhamento a família à luz da filosofia e da ética espíritas.
Os contatos com a família necessitada demandam do Atendente sólida sustentação amorosa derivada de posturas íntimas de aceitação, compreensão profunda, serenidade, paciência e paz, a refletirem a misericórdia compassiva do Evangelho do Cristo. Essas qualidades vibratórias envolvem a família em uma psicosfera de confiança na ajuda oferecida, o que fortalece a sua disposição para realizar as ações recomendadas.
É necessário informar aos responsáveis que o renascimento da criança na família é indicativo do compromisso espiritual de protegê-la, educá-la e encaminhá-la para o reequilíbrio existencial, proporcionando-lhe amor, serenidade e harmonia familiares. Será a família, portanto, a responsável por realizar o trabalho cotidiano de encaminhamento da criança aos princípios espirituais, fundamentais para sua libertação.
Por isso é importante orientar a família a conduzir um programa de reforma íntima segundo os preceitos da doutrina do Cristo, com ênfase na implantação do Evangelho no Lar, na prática de orações e na condução da criança à atividade de Evangelização Infantil, se ela já tiver idade para tanto. Neste sentido, a confreira Suely Schubert nos lembra que
[…] todo trabalho espírita é essencialmente de renovação interior, visando a cura da alma, não a fórmulas imediatistas que adiam a solução final. Infere-se, pois, que o labor desobsessivo à luz da Terceira Revelação tem por escopo a cura das almas, o reajuste dos seres comprometidos e endividados que se deixam enredar nas malhas da obsessão, e não somente afastar os parceiros, adiando o entendimento e perdão.5
Basilar, portanto, na reforma íntima, será o estudo da doutrina através de frequência a palestras, leituras, cursos de educação doutrinária e reuniões de pais na Casa Espírita. O conhecimento sobre as realidades e responsabilidades da vida maior é poderoso auxílio na tarefa de educação da criança obsidiada. Deve também ser sugerido o engajamento da família em trabalhos de auxílio fraterno aos necessitados, conduzindo-se a criança a essas atividades tão logo ela tenha idade suficiente.
Todo o núcleo familiar deve ser encaminhado à terapêutica espírita por fluidoterapia, cujos recursos – passes e água fluidificada – devem ser ministrados com a maior frequência possível.
Finalmente, todos devem ser orientados a focalizar sua atenção no bem e na proteção divina, evitando-se a ideia de perseguição espiritual, conscientes de que são capazes de vencer os obstáculos erguidos pela ausência do amor. O cultivo da esperança, do otimismo e da certeza do auxílio espiritual em seus esforços de renovação servirão de incentivos importantes para todos os envolvidos.
O ideal é que a família receba atenção continuada, isto é, que possa retornar ao Atendimento Fraterno para acompanhamento de seu progresso no trabalho de autodesobsessão e autoeducação e para receber novas orientações, quando necessárias.
A criança obsidiada e o trabalho mediúnico de desobsessão
Segundo o Espírito André Luiz, deve-se “impedir a presença de crianças nas tarefas de desobsessão”.6 Isto é, o trabalho mediúnico de desobsessão com atendimento ao obsessor, deve ser realizado sem a presença da criança.
Crianças saudáveis geralmente não são perturbadas por eventuais contatos naturais com o mundo espiritual. Já o mesmo não ocorre com a criança obsidiada, dada a sua ligação fluídica deletéria com o obsessor. Por isso mesmo, Allan Kardec alerta quanto aos inconvenientes da exposição prematura de uma criança ao ambiente mediúnico, afirmando que
[…] é muito perigoso, pois que esses organismos débeis e delicados sofreriam por essa forma grandes abalos, e as respectivas imaginações excessiva sobre-excitação.7
Outro ponto a considerar é que o contato da criança com o obsessor poderá reativar lembranças inconscientes sobre as circunstâncias geradoras do elo obsessivo, proporcionando agravamento de sintomas perturbadores que deveriam continuar latentes, uma vez que a função mesma da reencarnação é proporcionar oportunidade de refazer caminhos de forma menos sofrida, pelo esquecimento temporário do passado. Por outro lado, se a criança consegue
compreender as expressões do obsessor poderá plasmar em sua consciência de vigília imagens e sentimentos de medo, raiva, revolta ou assemelhados, impressionando-se na posição de vítima ou na postura de luta e rejeição. Esses resultados podem provocar um agravamento da situação obsessiva em contraposição ao propósito de amparar e auxiliar na cura. Neste sentido, André Luiz nos alerta que
compreender as expressões do obsessor poderá plasmar em sua consciência de vigília imagens e sentimentos de medo, raiva, revolta ou assemelhados, impressionando-se na posição de vítima ou na postura de luta e rejeição. Esses resultados podem provocar um agravamento da situação obsessiva em contraposição ao propósito de amparar e auxiliar na cura. Neste sentido, André Luiz nos alerta que
[…] cabe-nos recordar que a obra de desobsessão, no fundo, é libertação das trevas de espírito e não existe libertação sem esquecimento do mal.8
Finalmente, consideramos que no tratamento da desobsessão os resultados efetivos não são previsíveis, dada a complexidade das possíveis reações, por parte de cada um dos envolvidos. No entanto, se os encarnados conseguirem utilizar seus recursos pessoais na criação de um clima de amor e perdão, exemplificando concretamente sua adesão aos princípios cristãos e libertando-se para uma vida de paz e solidariedade, crescerão as probabilidades de que, com o tempo, o coração do Espírito infeliz seja tocado e ele se integre na mudança geral. Dessa forma, também o sofredor desencarnado poderá se reconciliar com a vida e se libertar para novas caminhadas evolutivas.
REFERÊNCIAS:
1 SCHUBERT, Suely C. Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e terapêutica espíritas. 2. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2015.
pt. 1, cap. 13.
2 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 18, p. 308.
3 PEREIRA, Yvonne A. Recordações da mediunidade. 12. ed. 3. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. O complexo obsessão,
it. 8, p. 206. 4
1 SCHUBERT, Suely C. Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e terapêutica espíritas. 2. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2015.
pt. 1, cap. 13.
2 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 18, p. 308.
3 PEREIRA, Yvonne A. Recordações da mediunidade. 12. ed. 3. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. O complexo obsessão,
it. 8, p. 206. 4
ZAPPONI-MELLO, Neuza. Atendimento fraterno no centro espírita: A terapêutica do Cristo consolador. Brasília:
FEDF, 2015. 5
FEDF, 2015. 5
SCHUBERT, Suely C. Obsessão/Desobsessão: Profilaxia e terapêutica espíritas. 2. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2015.
cap. 10, p. 74.
cap. 10, p. 74.
6 XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 28. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 24, it. 5.
7 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 81. ed. 3. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2015. cap. 18.
8 XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 28. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2015. cap. 62, p. 139.
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