UMA ANÁLISE ESPÍRITA DO FILME “UM OLHAR DO PARAÍSO”
Há muito tempo atras, vi esse belíssimo filme que é bastante instigantes em vários aspectos, Por abordar uma temática de suspense espiritual, tramitando ainda por uma tema delicado como a PEDOFILIA. O filme permeia ainda, o universo espiritualista paradisíaco do mundo espiritual, morte, perdão, culpa, aceitação, entre outras temáticas.
É uma boa opção de filme que vai fazer você refletir sobre a questão familiar, no que concerne o cuidado que devemos ter com nossas crianças.
É por isso que ao encontrar essas analise do filme logo abaixo, resolvi postar por ser extremamente esclarecedor para alguns leigos. Assistam o filme e tirem suas próprias conclusões, garanto que vão gostar e se emocionar.
Moura Fé
O presente artigo tem por objetivo, lançar um olhar espírita no filme intitulado “Um Olhar do Paraíso”, buscando analisar a narrativa do “Espírito Suzie”, quando fala de suas experiências pós mortem, sob a ótica dos preceitos Espíritas.
O filme objeto da análise é de 2009, tendo por diretor Peter Jackson, baseado num romance de 2002 da autora americana Alice Sebold. Trata da narrativa deSuzie Salmon, uma garota que aos 14 anos, depois de assistir no colégio a obra cinematográfica Othello, protagonizada por Lawrence Olivier, sai da sessão e marca um encontro com o rapaz do 3º ano do segundo grau (Ray), pelo qual possui um amor adolescente. “No shopping, sábado, às 10 da manhã” diz o rapaz. Suzie está voltando prá casa feliz, já imaginando o sábado, quando ganharia de Ray o tão sonhado primeiro beijo.
Ocorre que no caminho, torna-se vítima de George Harvey, seu vizinho, um tarado psicótico, que a convida a entrar num porão encravado em meio à um terreno ermo, a fim de mostrar-lhe um projeto, ao qual, segundo ele, dedicara toda sua vida.
Suzie o acompanha, é estuprada, esquartejada, e seu Espírito corre desesperadamente do local do assassinato, indo ao encontro de sua família, que a aguardava ansiosamente. Neste momento, o Espírito de Suzie é visto por Ruth Connors, “a garota estranha,” que “via coisas que os outros não viam” (médium).
Oportuno observar, que em O Livro dos Espíritos, Kardec indaga aos Espíritos Superiores, se na morte violenta (caso de Suzie), quando os órgãos ainda não se debilitaram pela idade ou pelas doenças, a separação da alma e a cessação da vida se verifica, simultaneamente. Os Espíritos respondem que “geralmente é assim; mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto. Razão pela qual o Espírito da garota passou correndo, e foi visto pela médium. (LE, p. 161) Daí em diante, serão as percepções e falas do Espírito de Suzie objeto de análise do presente trabalho.
Logo depois do assassinato, quando é vista pela médium correndo desesperada na direção de sua casa, o Espírito vai à cidade, vê o pai mostrando sua foto aos transeuntes, numa busca angustiante. Chama-o, ele olha em sua direção, mas não a vê. De repente, todas as pessoas que transitavam na rua desaparecem da visão de Suzie.
Em seguida, a garota entra em sua casa, vê os cômodos desertos, e ouve a voz da mãe. Sobe escadas, entra em um cômodo iluminado e se depara com seu assassino num banheiro sujo de lama e sangue, imerso numa banheira cheia d’água, com o rosto coberto por uma toalha. Suzie se assusta e foge apavorada.
No que concerne às mortes violentas, nos ensina Kardec que o “Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. (...) Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão mantém-se até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.” (LE., p. 165) (grifei)
Oportuno observar as impressões do Espírito de Suzie quando diz: - “Eu estava deslizando. Foi como me senti. A vida estava me deixando, mas eu não estava com medo. Então me “lembrei” que eu tinha alguma coisa prá fazer. (grifei)
No que tange à lembrança de alguma coisa a fazer, nada mais natural face à forma abrupta como desencarnou, levando a recordação mais recente do encontro marcado no shopping com o garoto dos seus sonhos. Daí, quando lembra de Ray, o Espírito se transporta pelo pensamento ao local combinado onde ele a espera. Não consegue alcançá-lo, nem se fazer vista ou ouvida por ele.
Prossegue Suzie na sua fala: - “Aqui não é um lugar. Um lugar sem milharal, nem lembranças, nem túmulo. Mas eu ainda não estava olhando para o Além. Ainda estava olhando para trás. (...) Eu tenho que ir prá casa.” (grifei)
Mais uma vez o desejo forte de voltar à sua casa, ao encontro da família que ama. Enquanto isso, seus pais sofriam e se desesperavam. A mãe, fechou o quarto da filha, conservando-o como foi deixado por esta no dia de sua morte. Não suportando tanta saudade, foi trabalhar em outra cidade, deixando marido e filhos com sua mãe (avó de Suzie).
Quanto ao pai, mantinha-se obcecado na busca do assassino da filha. Em um ataque de desespero, começa a quebrar toda a coleção de miniaturas de barcos dentro de garrafas, que fazia como “hobby” e ensinara a Suzie. Enquanto quebrava as garrafas, o Espírito da filha via no seu mundo mental, garrafas gigantes num mar revolto, chocando-se contra rochedos, despedaçando-se, e deixando à deriva os imensos barcos que estavam dentro das mesmas.
Nesta percepção da garota morta, observa-se que as afinidades de sentimento e pensamento “ligavam” seu Espírito ao do pai. Como nos dizem os Espíritos Superiores, são os sentimentos e pensamentos afins que nos “conectam” aos seres espirituais e vice-versa.
Na busca por contacto com a filha, todas as noites o pai colocava na janela de casa, sobre uma garrafa que continha um barco e um farol, uma vela acesa, como que “sinalizando” para que Suzie não se perdesse de casa. Por seu turno, a garota via no seu mundo espiritual um enorme farol que também sinalizava. Até que ambos se vêm através da janela onde estava a vela, e ela fala: - Agora, vai ficar tudo bem, pois meu pai sabe que estou aqui. Eu ainda estava com ele. Eu não tinha me perdido, ou congelado, nem tinha partido. Eu estava viva. Estava viva no meu próprio mundo. No meu mundo perfeito. (grifei)
Oportuno ressaltar a constatação do Espírito de se perceber viva e ligada ao pai. Viva em um mundo perfeito e só seu, entendendo-se claramente que vive no seu mundo mental, fugindo de certas questões pertinentes à sua morte, que a assustavam.
Nesse meio tempo, o seu irmãozinho caçula, dizia ao pai que sempre via a irmã morta, que ela o beijava na bochecha, e que permanecia em casa, próxima deles.
Passados onze meses do seu desencarne, assim se expressa Suzie: - “Eu estava no horizonte azul, entre o céu e a Terra. Os dias não mudavam, e toda a noite eu tinha o mesmo sonho. O cheiro de terra úmida. O grito que ninguém ouvia. O som do meu coração batendo como um martelo debaixo da roupa, e depois os ouvia chamando. As vozes dos mortos. Eu queria segui-los pra achar uma saída. Mas eu acabava sempre voltando para a mesma porta. E eu estava com medo. Sabia que se eu fosse lá, nunca mais sairia. O meu assassino podia reviver um momento por muito tempo. Ele ficava se alimentando da mesma lembrança. Ele era um animal sem rosto. Infinito. Mas depois ele ia sentir o vazio voltando. E a necessidade surgiria dentro dele de novo. (grifei)
Nessa fala do Espírito, pode-se constatar seu estado de perturbação, quando se reporta ao mesmo sonho sonhado “toda noite“, em razão do trauma sofrido pela violência do seu desencarne. Nos dizem os Espíritos da Codificação que o estado de perturbação pode durar minutos, dias, meses, anos, séculos. Tudo vai depender da condição do Espírito encarar a sua realidade de forma equilibrada. Vale pontuar, que o pensamento do assassino também interferia nessa perturbação. Quando este revivia o crime cometido, nele se comprazendo, suas lembranças alcançavam a garota fazendo-a sofrer.
Adiante, Suzie comenta que “ia sempre observar Ray (o garoto por quem era apaixonada). Eu ficava no ar ao redor dele. Eu estava nas manhãs frias que ele passava com Ruth Connors, aquela garota estranha e sobrenatural, que aceitou facilmente a presença dos mortos entre os vivos (médium).” (grifei)
Prossegue a jovem morta: - “Às vezes, o Ray pensava em mim. Mas ele começou a questionar se já era hora de por essa lembrança de lado. Talvez fosse a hora de me deixar partir.” Como asseveram os grandes Mestres da Espiritualidade, os Espíritos conhecem nossos pensamentos, em razão das afinidades de sentimentos e/ou de interesses comuns - que era o caso de Suzie em relação a Ray - posto que, este ainda era o seu sonho de amor adolescente, e ele por seu turno também lembrava de Suzie e sentia saudades.
Adiante, a garota vem a falar dos seus sentimentos em relação ao seu assassino, se expressando com ódio e revolta: - “Um assassinato muda tudo. Quando era viva nunca odiei ninguém. Mas agora o ódio é tudo o que eu tenho. Eu o quero morto. Eu o quero frio e morto, sem nenhum sangue nas veias!” (grifei)
Oportuno transcrever um importante diálogo travado entre Suzie e o Espírito de outra jovem vítima do mesmo psicopata, o qual transcrevo:
Suzie - Eu fui uma idiota.
Amiga - Ele (assassino) não pode dominá-la. Você pode se livrar dele mas não desse jeito.
Suzie - O que você sabe? Não sabe de nada. Aquele homem tirou a minha vida!
Amiga - Você vai ver Suzie. No final você vai entender. Todo mundo morre.
À esse respeito a Doutrina Espírita nos ensina que o ódio escraviza a vítima ao seu algoz. Observe-se que no diálogo de Suzie com o outro Espírito - este já liberto do ódio contra o mesmo agressor - as suas colocações são muito comuns nas reuniões mediúnicas de desobsessão, quando o Espírito que se acha vítima e injustiçado, não consegue encontrar o seu “paraíso interior”!
Importante pontuar que o ódio do Espírito pelo seu algoz, influía diretamente nos sentimentos de seu pai - por achar-se ligada a este - e que embora sendo um homem pacífico, vivia obcecado numa busca incessante para encontrar o assassino da filha.
Suzie tornou-se então “obsessora” do pai. Como nos esclarecem os Espíritos Superiores, os encarnados sofrem obsessões, ou se tornam obsessores dos desencarnados, em razão das afinidades de sentimentos, gostos, e pensamentos que os vinculam uns aos outros. No caso em comento, a ligação se dava pelo sentimento em comum de revolta e ódio que nutriam pelo assassino da jovem.
O processo obsessivo do pai de Suzie, foi tão intenso, que o levou a armar-se de um taco de basebol, e sair à caça do assassino da filha para matá-lo. Na perseguição ao criminoso, este se esconde num milharal. Nesse momento, o Espírito da jovem acompanhava toda a perseguição em estado de profunda angústia, temendo pela sorte do pai - enquanto este, na busca desesperada, se depara com um casal de namorados. O rapaz ao vê-lo com o taco na mão, entende que era para agredi-los. Se antecipa, e o espanca violentamente, quase levando o pobre homem à morte.
Nesse momento, o Espírito de Suzie se desespera ao ver o pai quase morto, e toma consciência de sua forte influência sobre o comportamento do mesmo. É aí que o cenário à sua volta se desmorona, e ela cai em si dizendo: - Aí eu percebi que meu pai nunca ia desistir de mim. À esse respeito a Doutrina Espírita nos assevera que os laços de afeto são indestrutíveis.
E prossegue a jovem em sua fala: - Ele nunca me veria como uma morta. Eu era a filha dele, e ele era meu pai, e ele tinha me amado o máximo que podia. Eu tinha que deixá-lo ir! Nos dizem os Espíritos Superiores, que os laços de amor são indestrutíveis, eternos e libertadores. Daí, a garota libertou o pai da obsessão que o impingia de forma inconsciente.
À partir daí, começa o processo de libertação do Espírito de Suzie, quando passa a encarar a sua realidade, tomando ciência de todas as mortes causadas por George Harvey à outras jovens, com as quais se encontrou no plano espiritual por afinidade. Mas também encarou frente a frente a realidade de sua própria morte, quando reviu todo o processo do assassinato, seu corpo esquartejado e escondido num cofre (que ela tanto temia em ver aberto) sendo jogado pelo seu assassino num enorme buraco de um aterro.
Através da mediunidade de Ruth se despediu de seu amor, recebendo o sonhado primeiro beijo. Adiante, se reporta aos restos angelicais que tinham nascido na sua ausência que foram: - a irmã mais jovem que havia casado e esperava um bebê; a mãe que retornou ao aconchego da família, já equilibrada; Ray que ficou com Ruth a garota médium; e o assassino que morreu, caindo de um penhasco em uma noite gelada de muita neve.
No que concerne a tais fatos, assim se expressa Suzie: - As conexões às vezes tênues, às vezes criadas com muito custo, mas que com freqüência magníficas, que aconteceram depois que morri. Comecei a ver as coisas de um jeito que me permitia conceber o mundo sem mim.
- Quando minha mãe entrou no meu quarto (que até então permanecia fechado), percebi que esse tempo todo eu estava esperando por ela. Eu esperei muito. Estava com medo que ela não viesse...
E finaliza dizendo: - Ninguém percebe quando a gente vai embora. Quero dizer, o momento quando realmente decidimos partir. No máximo, podem sentir um sussurro ou a onda de um sussurro indo para baixo. Meu sobrenome é Salmon, salmão, igual ao do peixe. Meu primeiro nome é Suzie. Tinha 14 anos quando fui assassinada, em 6 de dezembro de 1973. Estive aqui por um momento e depois parti. Desejo a vocês uma vida longa e feliz. (grifei)
Diante do exposto, pode-se constatar que estamos diante de uma obra que se ajusta perfeitamente aos preceitos espíritas, quando retrata o desencarne de uma jovem, vítima da violência, narrando sua perturbação pós mortem, as ligações com a vida material, com os entes queridos, os conflitos existenciais, sua revolta, ódio, medos, e amores.
Importante que a narrativa do Espírito não viaja para o fantástico, ficando nos limites da racionalidade, das percepções mentais próprias do desencarnado, pois como nos dizem os Mestres da Espiritualidade, o Espírito se transporta pelo pensamento, e o seu estado de felicidade ou infelicidade encontra-se no seu mundo íntimo - não havendo um lugar determinado para vivenciar seu estado de inferno ou paraíso.
Oportuno ressaltar, que a autora do romance e o diretor do filme, não são espíritas, não obstante Kardec nos esclareça que “se lançarmos um olhar sobre as diversas categorias de crentes, encontraremos primeiro os espíritas sem o saber. São uma variedade ou subdivisão da classe dos vacilantes. Sem jamais terem ouvido falar da Doutrina Espírita, têm o sentimento inato dos seus grandes princípios e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritos ou de seus discursos, de tal maneira que, ouvindo-os, acredita-se que são verdadeiros iniciados. Encontram-se numerosos desses exemplos entre os escritores sacros e profanos, entre os poetas, oradores, os moralistas, os filósofos antigos e modernos.” (LM, Cap. III, 27)
Em contrapartida, podemos observar que nos deparamos freqüentemente com obras tratando do mesmo tema, que se dizem espíritas, e estão em total desacordo com os Princípios Doutrinários Espíritas. Tal fato, deve nos servir de estímulo ao estudo efetivo das Obras Básicas, para que possamos tranquilamente separar o joio do trigo.
Por Maria das Graças Cabral
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