A outra face das dificuldades
O ser humano é o somatório de inúmeras experiências adquiridas em suas várias passagens por este nosso planeta, ao longo dos milênios, em que armazenou em seu psiquismo a bagagem da qual se utiliza diariamente no relacionamento com seu semelhante.
Por ser resultado de uma semeadura investida em sua grande maioria na obtenção de bens fugazes, perecíveis, que os ladrões e as traças se incumbem de destruir, vive envolto em inúmeras situações, que muitas das vezes o fazem duvidar até mesmo da bondade do Pai Celestial de todos nós, inconformado com as tribulações, situações adversas e dificuldades que se lhes apresentam, aparentemente, sem motivos.
Procura então, um argumento de defesa que justifique perante a opinião dos outros, o seu presente estado de sofrimento, apressando-se em se apresentar como vítima da vida, blasfemando contra a sorte, alegando que nada faz por merecer tal castigo, pois sempre procurou respeitar as Leis instituídas pela sociedade no relacionamento com seu próximo, não entendendo o porquê de tanto sofrimento.
É natural que ainda pense dessa forma, em vista da nossa pequenez ante a grandiosidade da perfeição das Leis Divinas, únicas capazes de nos projetarem para frente e para o alto, e das quais, frequentemente, divorciamo-nos, para buscar a satisfação de nossos instintos selvagens, sem nos apercebermos de que sofreremos as consequências positivas ou negativas da nossa livre escolha.
Não nos preocupamos em analisar algumas questões que, por certo, muito nos ajudariam a proceder de maneira diferente da que normalmente decidimos por agir, e, perdemos muito tempo com coisas que não oferecem absolutamente nada que nos ajude na obtenção de nosso sonho por adquirir um estado permanente de paz e de felicidade, como se essas virtudes pudessem ser adquiridas sem o esforço necessário da reforma íntima que precisamos empreender.
Faz-se urgente a decisão de buscarmos quanto antes fazer a parte que nos cabe, na reforma de nossos atos e atitudes modificando inteiramente a maneira de ver, ouvir e sentir o convite do Mestre Jesus, que de mãos estendidas nos oferece sua ajuda, e segurá-las com fé, esperança, trabalho no bem e confiar aquilo que não depende de nós a Deus nosso Pai, infinitamente bom e justo, criador de tudo e de todos, e que tem o controle total do universo não caindo sequer a folha de uma árvore, nem um fio de cabelo de nossa cabeça sem sua permissão e entendermos que os problemas que hoje nos visitam são frutos amargos de nossa própria plantação, que agora colhemos por força da Lei de Ação e Reação que vem confirmar as palavras de Jesus quando nos afirmou “a cada um segundo as suas obras”.
No Capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no item Justiça das aflições, encontramos sábias explicações no texto que segue:
“Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não pode agir caprichosamente, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser essa causa. Isso o de que cada um deve bem compenetrar-se. Por meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na direção dessa causa, e hoje, julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la, lhes revela completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo, isto é, pela palavra dos Espíritos”.
Resta-nos buscar na Codificação as explicações claras, fundamentadas na lógica da razão e no ensino moral da Doutrina Espírita e providenciarmos colocar em prática os seus conceitos ético-morais, procurando vivenciar as lições dos espíritos superiores e entendermos que Deus nosso Pai é infinitamente amoroso com todos nós e que tudo pelo que passamos faz parte da bagagem de detritos que acumulamos ao longo dos séculos, da qual precisamos urgentemente nos desvencilhar se pretendemos ascender na escala hierárquica dos seres eternos da criação em busca da felicidade que tanto almejamos.
Preciso se faz seguir os ensinamentos ali contidos, e atentarmos para o chamamento que nos convida a aprimorar as virtudes presentes no imo de nosso ser, esperando o momento em que nos decidirmos por desenvolvê-las, projetando de dentro para fora as qualidades que nos hão de fazer seres melhores, dispostos a nova semeadura, em benefício do nosso futuro porvir.
E para tanto não precisamos de grandes esforços, na maioria das vezes, bastariam pequeninas atitudes em nossas ações do dia a dia, procurando espalhar em redor de nossos passos a simpatia, o otimismo, a gentileza, a compreensão, a calma, a fraternidade em doses homeopáticas e, no exercitar dessas atitudes positivas em nossa vida de relação em qualquer ambiente em que nos encontrarmos, estaríamos automatizando em nós as boas ações que com o passar do tempo se tornariam espontâneas, naturais, e não precisaríamos de enormes sacrifícios como costumamos alardear. O codificador Allan Kardec não deixou de formular perguntas nesse sentido aos imortais da vida maior, como podemos ver na questão abaixo transcrita de O Livro dos Espíritos:
- Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações?
“Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!”
Finalizando, queremos enfatizar que só nos resta investir cada vez mais no estudo da Doutrina Espírita para sairmos desse estado de inércia se nós pretendermos fazer da nossa vida motivo de alegria e felicidade, não mais utilizando-nos do “desculpismo” injustificado, nem jogando a responsabilidade que nos cabe, em fazer os inevitáveis esforços, de trabalharmos pelo nosso crescimento moral e espiritual visando à colheita de novas oportunidades melhores do que as que hoje vivenciamos, e que costumeiramente responsabilizamos à vida e ao acaso.
Francisco Rebouças
Fonte:
Revista Presença Espírita março/abril – 2005. Publicado em seu site no dia 09 /06 /2006.
Revista Presença Espírita março/abril – 2005. Publicado em seu site no dia 09 /06 /2006.
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