Quando esse Espírito de Verdade vier, ensinar-vos-á toda a verdade [...].” – Jesus (João, 16:13.)
O Espiritismo destruirá o materialismo, uma das chagas da sociedade, permitindo aos homens compreenderem os seus reais interesses, bem como as verdadeiras e nobres razões que os fazem permanecer encarnados para cumprimento dos desígnios que Deus lhes confia.
A transformação legítima dos indivíduos na senda evolutiva será gradativa e persistente, efeito da liberdade que o Criador lhes outorgou, como apanágio do seu livre-arbítrio, da sua razão, da sua consciência, e da qual saberá servir-se, praticando a tolerância e a fraternidade. Se assim não fora, não estaríamos em condições de envidar esforços para a melhoria intelectual, moral e espiritual do mundo, sabedores de que a obra não nos pertence, mas se constrói sob as bênçãos do poder divino, jamais consentindo que o orgulho domine os nossos corações, por mais eficazes sejam as nossas realizações.
Engrandecemos a Jesus, como enviado do Senhor, e enaltecemos a sua missão de regenerar a humanidade por meio da lei de amor, de justiça e de caridade, compreendendo que:
O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: “Ouçam os que têm ouvidos para ouvir”.1 (Destaque nosso.)
Não é possível, pois, nos iludirmos a respeito de nossas responsabilidades na presente encarnação. Somos chamados a cultivar a luz cristã no mundo das consciências, dissipando as trevas dos excessivos apegos materiais, transmitindo a Doutrina Espírita, que nos foi ensinada, a expressar-se em serviço de solidariedade, entendimento e educação. Em consequência, uma verdade muito simples deve estar presente na certeza dos pais espíritas:
Assumir compromissos na paternidade e na maternidade constitui engrandecimento do espírito, sempre que o homem e a mulher lhes compreendam o caráter divino. [...]
[...] Os filhos são as obras preciosas que o Senhor lhes confia às mãos, solicitando-lhes cooperação amorosa e eficiente. Receber encargos desse teor é alcançar nobres títulos de confiança. [...]2
A educação dos filhos, diante dessa realidade, torna-se um fato de suma importância para aqueles que se sustentam em bases espíritas sólidas, procurando exemplificar dignamente qualidades que permitam, à criança e ao jovem, um crescimento saudável e equilibrado. Se os pais negligenciarem no cumprimento desse dever, não conseguirão que os filhos obtenham uma educação integral que consiste no “desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais”3 do ser.
A questão 892, de O livro dos espíritos, contribui para que avaliemos as dificuldades geradas pelo descuido dos pais e o pesar sentido por eles ao observarem as condições de transviamento moral dos filhos. Respondem os Espíritos superiores:
[...] isso representa um encargo que lhes é confiado e a missão deles consiste em se esforçarem por encaminhar os filhos para o bem. Ademais, esses desgostos são, amiúde, a consequência do mau feitio que os pais deixaram que seus filhos tomassem desde o berço. Colhem o que semearam.4
O professor Hippolyte Léon Denizard Rivail – em estudos anteriores à elaboração das Obras Básicas, como Allan Kardec –, destacou duas questões primordiais sobre a educação dos filhos: “Quais são os obstáculos que se opõem a isso?” e “Quais são os meios de remediá-los?”.3 Em resposta a essas indagações, é imprescindível não perder de vista que os obstáculos podem ser vários, principalmente no tocante às condições dos Espíritos que reencarnam, nem sempre de sentimentos e comportamentos elevados. Alguns carregam consigo defeitos, vícios e paixões, forçando-nos a intensificar as experiências que os façam corrigir as tendências nocivas que ainda possuem, trazidas de existências passadas ou estimuladas pelos efeitos perniciosos de uma má educação, não conseguindo libertá-los dos maus hábitos e das falhas graves de caráter, que exercem sobre eles influências prejudiciais no ânimo, no moral, no humor.
Os pais devem considerar a dimensão espiritual da vida, acerca de sua obrigação de colaboradores de Deus na aceleração do processo evolutivo dos Espíritos que regressam à escola do mundo pelas portas do berço, os quais, para se tornarem cidadãos conscientes e responsáveis, dependem da ação educativa de seus genitores como fator decisivo para a renovação da sociedade e a melhoria da qualidade de vida na Terra. Esse esforço dos pais de perseverarem na luta pelo seu aprimoramento – mormente para que possam encontrar, no conhecimento do Espiritismo, respostas às suas inquietações e novos motivos para que obtenham maior capacitação no exercício da maternidade e da paternidade responsáveis – seria meio indispensável de remediar os problemas que atualmente encontramos na orientação dos filhos.
Enquanto ignorarmos o alcance de nossos atos e a sua repercussão em nossos destinos, não contribuiremos para a melhoria da humanidade, pois os obstáculos sociais e familiares que encontramos se originam, muitas vezes, da precariedade de nossas aquisições morais. Retornando à Espiritualidade, somos alertados sobre os erros cometidos, fruto da falta de cuidados que tivemos com os filhos, e convidados a recomeçar novas experiências, do mesmo teor, a cada reencarnação. O Espírito André Luiz alerta-nos para o fato de que, em determinadas dependências do Ministério do Esclarecimento, na Colônia Nosso Lar, localizam-se enormes pavilhões das escolas maternais, reunindo milhares de irmãs que “comentam, por lá, as desventuras da maternidade fracassada, buscando reconstituir energias e caminhos”. 5 Da mesma forma, junto às mesmas dependências, existem os “Centros de Preparação à Paternidade”,5 onde “grandes massas de irmãos examinam o quadro de tarefas perdidas e recordam, com lágrimas, o passado de indiferença ao dever”.5
Descuidos que se convertem em gravíssimos problemas existenciais para nós:
[...] A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.6
A desordem e a imprevidência, que se observam nesse momento de transição do planeta, são situações que refletem a urgência de buscarmos novos rumos para a reconstrução da sociedade, e a família está no alicerce desse processo de renovação social, porque é nela que se deve exercer em plenitude a missão de educar.
Amigos espirituais advertem sobre a imperiosa e urgente necessidade de os pais buscarem o justo apoio à educação da prole, principalmente no que diz respeito ao encaminhamento das crianças e jovens às Escolas de Evangelização dos centros espíritas:
Pode alguém outorgar a outrem prova maior de confiança do que entregar-lhe seus próprios filhos, para que esse outrem os eduque e proteja? Não são de Deus os filhos que Ele confia aos pais terrenos, para que estes os defendam e os guiem? E se esses pais terrenos, mormente quando já não possam alegar ignorância a respeito das verdades básicas da vida espiritual, preferirem abandonar voluntariamente os filhos à própria sorte, sonegando-lhes, de seu próprio cabedal, as provisões suficientes de conhecimento e amor, não estarão traindo a confiança divina e cometendo verdadeiro crime contra a vida? Que legítimo direito terão esses pais, para eximir- -se da sagrada obrigação de preparar espiritualmente os seus filhos, a fim de que eles possam melhor enfrentar as provas e expiações que irão surpreendê-los no porvir? A intensificação de lembretes dessa ordem, nos círculos dos confrades que nos comungam os ideais, poderá ser um bom serviço de alerta para esses pais invigilantes.7
Não há lugar para dúvidas na exemplificação dos postulados cristãos, que o Espiritismo veio restaurar em toda a sua verdade. Eduquemo-nos para educar nossos filhos, ou não conseguiremos chegar a bom termo nas nossas tentativas de poder ajudá-los verdadeiramente!
Em face dessas considerações, apelamos para o coração dos pais e mães no sentido de que reflitam, com maior profundidade, sobre o contexto familiar num enfoque espírita. Essa providência, de máxima relevância para um programa regenerador sobre importantes questões domésticas, a título de sugestão, poderia se constituir de encontros semanais de grupos, de círculos, de conjuntos, ou no aumento da periodicidade das reuniões de agrupamentos de pais, atualmente existentes nas instituições espíritas, sobretudo para discussões salutares na identificação, análise e avaliação de dúvidas existentes no relacionamento entre eles e os filhos.
Ao ampliar a visão e a compreensão dos pais acerca da missão de que estão investidos, os encontros ofereceriam subsídios temáticos para ponderar sobre assuntos referentes aos vários aspectos da educação e da evangelização espírita, além de examinar notícias da atualidade com vista à formação do espírito crítico, fundamentado nos valores e nos princípios que regem a vida moral.
Tendo como referência essas ponderações, é imprescindível valorizar, de forma contínua, as vivências do cotidiano da família, podendo a iniciativa desse ajuntamento responder às indagações decorrentes do mundo moderno, assim exigindo dos genitores maior abertura e melhor conhecimento dos problemas do nosso tempo, sempre salientados à luz do Evangelho de Jesus e da Doutrina Espírita, na conquista da melhoria geral da vida familiar.
REFERÊNCIAS:
1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 131. ed. 3. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. cap. 6, it. 4, p. 106.
2 XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 6. imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 135, p. 283-284.
3 INCONTRI, Dora. (Tradução, apresentação, organização e notas.) Kardec educador – textos pedagógicos de Hyppolyte Léon Denizard Rivail. Bragança Paulista (SP): Editora Comenius, 1998. Estudos Pedagógicos, texto 1.
4 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. Q. 892.
5 XAVIER, Francisco C. Os mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 47. Ed. 3. Imp. Brasília: FEB, 2014. cap. 13, p. 84.
6 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. Comentário de Kardec à q. 685.
7 DUSI, Miriam M. (Coordenadora.) Sublime sementeira: Evangelização espírita infanto juvenil. 2. imp. Brasília: FEB, 2012. Entrevista com Áureo (Espírito). Médium: Hernani T. Sant’Anna. Resposta à q. 5, p. 29.