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16 de out. de 2014

NASCIMENTO DA CONSCIÊNCIA




Antropológica e historicamente, a sobrevivência equili­brada do homem e da sociedade tem estado sempre vincula­da à ideia de um mito central, no qual se haurem os valores éticos de sustentação das suas atividades e do seu equilíbrio. Toda vez em que fatores adversos interferem nos mitos hu­manos, desacreditando aquele que sintetiza as suas aspira­ções, os homens se encaminham para o caos e se agridem e se perturbam, parecendo haver perdido o rumo.
Passada a tempestade, os seus remanescentes, não des­truídos in totum, emergem, dando surgimento a uma nova ideação, e um mito criativo aparece preenchendo a lacuna deixada pelo anterior.
No estado atual da sociedade existe a carência de um mito predominante, que aglutine todas as mentes, sobre elas der­ramando as suas benesses e confortando-as.
A perda do mito expõe os conteúdos psíquicos, que alte­ram os objetivos das suas necessidades, fazendo-os mergu­lhar no vazio ou no desinteresse, no prazer ou na alucinação do poder.
Em se considerando que nenhum desses objetivos pleni­fica o indivíduo, ele passa a disputar a necessidade abrangen­te do despertar da consciência, interpretando os mitos meno­res nele jacentes.
Jung, em uma análise profunda, estabeleceu que “a exis­tência só é real quando é consciente para alguém”, afirmando a necessidade que o Criador possui em relação ao homem consciente.
Oportunamente, voltou a esclarecer que “a tarefa do homem é (...) conscientizar-se dos conteúdos que pressio­nam para cima, vindos do inconsciente”. Esse despertar e cres­cimento da consciência, ainda segundo o eminente psicana­lista, termina por afetar-lhe também o inconsciente.
É obvio que, se os conteúdos psíquicos emergentes for­mam a consciência, as contribuições atuais desta se irão in­corporar ao inconsciente que surgirá mais tarde.
Deste modo, o nascimento da consciência se opera medi­ante a conjunção dos contrários, como decorrência de uma variada gama de conteúdos psíquicos, que formam as impres­sões arquetípicas ao fazerem contato com o ego, dando sur­gimento à sua substância psíquica e tornando todo esse tra­balho um processo de individuação.
Daí surgem os discernimentos entre as coisas opostas, o eu e o não-eu, o ego e o inconsciente, o sujeito e o objeto, a própria pessoa e a outra. Dando campo aos conflitos, este sentimento que enfrenta e contesta torna-se uma forma alta­mente criativa de luta, cuja vitória proporciona satisfação, ampliação e aprimoramento da vida.
Sem essa dualidade dos opostos, que leva à reflexão, no processo de individuação, não há aumento real de consciên­cia, que somente se opera entrando em contato com os opos­tos e os absorvendo.
A consciência, do ponto de vista filosófico, é “um atribu­to altamente desenvolvido na espécie humana e que se carac­teriza por uma oposição básica, essencial. E o atributo pelo qual o homem toma em relação ao mundo — bem como aos denominados estados interiores e subjetivos — a distância em que se cria a possibilidade de níveis mais altos de integra­ção...
Por sua vez, declara, ainda, Jung, a consciência é “a rela­ção dos conteúdos psíquicos com o ego, na medida em que essa relação é percebida como tal, pelo ego”. E conclui que “as relações com o ego que não são percebidas como tal são inconscientes”. Estabelece, ademais, a diferença entre cons­ciência e psique, que esta última “representa a totalidade dos conteúdos psíquicos” e como esses conteúdos, na sua totali­dade, não estão vinculados no ego, tais não são consciência.
Nos mitos centrais de todos os povos, os opostos forma­ram a essência das suas crenças, dos seus conteúdos psíqui­cos geradores da consciência.
Encontramo-los nas religiões da antigüidade oriental e, particularmente, no mito da Criação, no qual, os conflitos da treva e da luz, do bem e do mal são relevantes. O Zoroastris­mo também o ressuscitou e, mais tarde, a alquimia facultou o surgimento da Pedra Filosofal como mediadora dos opostos, do Santo Gral, como depósito que compõe as bases da cons­ciência humana, a se avolumar através dos tempos, dando, desde o início, a idéia das suas várias expressões, tais: a cons­ciência moral, a consciência de fé, a consciência do dever, de justiça, de paz, de amor...
Os equipamentos constitutivos da consciência sutilizam­-se, e adquirem mais amplas percepções que facultam o de­senvolvimento emocional e ético do homem, auxiliando-o na liberação de conflitos.
As heranças atávicas, que se convertem em arquétipos, no inconsciente individual e coletivo dizem respeito às reali­dades do Espírito, em si mesmo responsável pelos resíduos psíquicos, que se transformam nos conteúdos preponderan­tes para a formação da consciência.
O homem deve adquirir o conhecimento para elevar-se do ser bruto, tornando-se o sujeito detentor da consciência. Não lhe bastará conhecer, mas também, viver a experiência de ser o objeto conhecido. Não somente conhecer de fora para dentro, porém, vivenciar o que é conhecido, incorporando-o à sua realidade. Enquanto o ego conhece, o outro passa a ser um objeto detido, conhecido, o que não plenifica. Esta satis­fação advém quando o ego, passando pela vivência do que conhece, torna-se, por sua vez, conhecido pelo outro, que tam­bém tem a função de sujeito conhecedor. O ego adquire, des­se modo, a consciência autêntica, no momento em que é su­jeito que conhece o objeto conhecido.
Indispensável, nesse jogo do conhecer sendo conhecido, que se não crie uma dependência em relação à pessoa que conhece. A vida saudável é a que decorre da liberdade cons­ciente, capaz de enfrentar os obstáculos e dificuldades que se apresentam no relacionamento humano e na própria indivi­dualidade. Esta é a meta que a consciência almeja.



Do livro: O Homem Integral – Divaldo Pereira Franco/Joanna Di Ângelis

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