Depois de um século de mediunidade, à luz da Doutrina
Espírita, com inequívocas provas da sobrevivência, nas quais a abnegação dos
Mensageiros Divinos e a tolerância de muitos sensitivos foram colocadas à
prova, temo-la, ainda hoje, incompreendida e ridicularizada.
Os Intelectuais, vinculados ao ateísmo prático, desprezam-na
até agora, enquanto os cientistas que a experimentam se recolhem, quase todos,
aos palanques da Metapsíquica, observando-a com reserva. Junto deles, porém, os
espíritas sustentam-lhe a bandeira de trabalho e revelação, conscientes de sua
presença e significado perante a vida.
Tachados, muitas vezes, de fanáticos, prosseguem eles, à
feição de pioneiros, desbravando, sofrendo, ajudando e construindo, atentos aos
princípios enfocados por Allan Kardec em sua codificação basilar.
Alguém disse que "os espíritas pretenderam misturar, no
Espiritismo, ciência e religião, o que resultou em grande prejuízo para a sua
parte científica". E acentuou que “um historiador, ao analisar as
ordenações de Carlos Magno, não pensa em Além-Túmulo; que um fisiologista,
assinalando as contrações musculares de uma rã não fala em esfera.
ultraterrestres; e que um químico, ao dosar o azoto da lecitina, não se deixa
impressionar por nenhuma fraseologia da sobrevivência humana”.
Acrescentando que, “em Meta-psíquica, é necessário proceder
de igual modo, abstendo-se o pesquisador de sonhar com mundos etéreos ou
emanações anímicas, de maneira a permanecer no terra-a-terra, acima de qualquer
teoria, para somente indagar, muito humildemente, se tal ou tal fenômeno é
verdadeiro, sem o propósito de desvendar os mistérios de nossas vidas
pregressas ou vindouras”.
Os espírita, contudo, apesar do respeito que consagram à
pesquisa dos sábios, não podem abdicar do senso religioso que lhes define o
trabalho. Julgam lícito reverenciá-los, aproveitando-lhes estudos e equações,
qual nos conduzimos nestas páginas, tanto quanto eles mesmos, os sábios, lhes
homenageiam o esforço, utilizando-lhes o campo de atividade para experimentos e
anotações.
Consideram os espíritas, que o historiador, o fisiologista e
o químico podem não pensar em Além-Túmulo, mas não conseguem avançar
desprovidos de senso moral, porquanto o historiador, sem dignidade, é veículo
de imprudência; o fisiologista, sem respeito para consigo próprio, quase sempre
se transforma em carrasco da vida humana, e o químico, desalmado, facilmente se
converte em agente da morte.
Se caminham atentos à mensagem das Esferas Espirituais, isso
não quer dizer se enquistem na visão de “mundos etéreos”, para enternecimento
beatifico e esterilizante, mas para se fazerem elementos úteis na edificação do
mundo melhor.
Se analisam as emanações anímicas é porque desejam cooperar
no aperfeiçoamento da vida espiritual no Planeta, assim como na solução dos
problemas do destino e da dor, junto da Humanidade, de modo a se esvaziarem
penitenciarias e hospícios, e, se algo procuram, acima do “terra-a-terra”, esse
algo é a educação de si mesmos, através do bem puro aos semelhantes, com o que
aspiram, sem pretensão, a orientar o fenômeno a serviço dos homens, para que o
fenômeno não se reduza a simples curiosidade da inteligência.
Quanto mais investiga a Natureza, mais se convence o homem
de que vive num reino de ondas transfiguradas em luz, eletricidade, calor ou
matéria, segundo o padrão vibratório em que se exprimam.
Existem, no entanto, outras manifestações da luz, da
eletricidade, do calor e da matéria, desconhecidas nas faixas da evolução
humana, das quais, por enquanto, somente poderemos recolher informações pelas
vias do espírito.
Prevenindo qualquer observação da critica construtiva,
lealmente declaramos haver recorrido a diversos trabalhos de divulgação
científica do mundo contemporâneo para tornar a substância espírita deste livro
mais seguramente compreendida pela generalidade dos leitores, como quem se
utiliza da estrada de todos para atingir a meta em vista, sem maiores
dificuldades para os companheiros de excursão.
Aliás, quanto aos apontamentos científicos humanos, é
preciso reconhecer-lhes o caráter passageiro, no que se refere à definição e
nomenclatura, atentos à circunstância de que a experimentação constante induz
os cientistas de um século a considerar, muitas vezes, como superado o trabalho
dos cientistas que os precederam.
Assim, as notas dessa natureza, neste volume, tomadas
naturalmente ao acervo de Informações e deduções dos estudiosos da atualidade
terrestre, valem aqui por vestimenta necessária, mas transitória, da explicação
espírita da mediunidade, que é, no presente livro, o corpo de idéias a ser
apresentado.
Não podemos esquecer a obrigação de cultuar a mediunidade e
acrisolá-la, aparelhando-nos com os recursos precisos ao conhecimento de nós
meninos.
A Parapsicologia nas Universidades e o estudo dos mecanismos
do cérebro e do sonho, do magnetismo e do pensamento nas instituições ligadas à
Psiquiatria e ás ciências mentais, embora dirigidos noutros rumos, chegarão
igualmente á verdade, mas, antes que se integrem conscientemente no plano da
redenção humana, burilemos, por nossa vez, a mediunidade, à luz da Doutrina
Espírita, que revive a Doutrina de Jesus, no reconhecimento de que não basta a
observação dos fatos em si, mas também que se fazem indispensáveis a disciplina
e a iluminação dos ingredientes morais que os constituem, a fim de que se
tornem ‘fatores de aprimoramento e felicidade, a benefício da criatura em
trânsito para a realidade maior.
André Luiz
Francisco Cândido Xavier - Uberaba, 11-8-59