HISTÓRIA DE UMA MÃE
Havia uma sofredora
mulher que velava aflita, à cabeceira do filhinho doente, quando a Morte chegou
para buscá-lo.
Sem que ela pudesse
ensaiar qualquer defesa, a Morte arrebatou o menino da cabana.
Desesperada, a
mãezinha saiu a gritar para reaver o pequenino, mas a Morte veloz desapareceu.
Chorando, correu a infeliz,
estrada afora, quando, em plena noite, encontrou uma mulher que poderia
encaminhá-la; esta, todavia, em troca da informação, pediu-lhe cantar todas as
canções com que a pobre embalava o filhinho.
Embora em lágrimas,
ela repetiu todas as cantigas com que afagava o pequenino, ao pé do berço.
A mulher ensinou-lhe,
então, que a Morte se dirigiu para certo espinheiro.
A pobre mãe alcançou o
espinheiro, mas este, para ajudá-la, exigiu que ela o abraçasse.
Sem vacilar, a
desditosa mãezinha enlaçou-o.
Quando o seu corpo já
se mostrava coberto de chagas, o espinheiro explicou que a Morte seguiu no rumo
de grande lago.
A peregrina,
ensangüentada, chegou ao lago, mas o lago fazia coleção de pérolas e, para
prestar-lhe o serviço, pediu-lhe os belos olhos.
A infortunada viajante
arrancou os próprios olhos e lhos deu.
O lago, desse modo,
transportou-a, ferida e cega, para o outro lado da terra, onde a Morte
costumava guardar as criancinhas.
Era um grande
cemitério, guardado por monstruosa mulher que, para ensinar-lhe o lugar exato
onde a morte aportaria naquela noite, lhe pediu a linda cabeleira.
Sem qualquer
hesitação, ela deixou-se tosar e, logo após, quase irreconhecível, foi colocada
em posição de perceber a chegada do pequeno que procurava. Esperou . . . Esperou
. . .
Em dado instante,
ouviu que a Morte regressava com os meninos que recolhera.
Atenta, escutava as
vozes diversas, quando, dentre todas, distinguiu o choro de seu filho e, apesar
de cega, avançou para ele, gritando:
- Meu filhinho! . . . Meu filhinho! . .
. – E agarrou-o nos braços, a beijá-lo, enternecidamente.
A própria Morte,
emocionada, perguntou-lhe então:
- Como fizeste para chegar aqui, antes
de mim?
Ela, chorando e rindo,
pôde apenas dizer:
- SOU
MÃE.
(Conto de Hans
Christian Andersen, poeta e contista dinamarquês, está no livro: Evangelho no
Lar, Meimei)
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