AL ÉM DA FOL IA...
Fora dos holofotes dos desfiles das escolas de samba, e do sorriso estampado no rosto dos foliões que aparecem nas reportagens sobre as centenas de blocos que tomam as ruas das cidades no
carnaval, um outro “espetáculo” se desenrola, mais silencioso, triste e bem menos interessante de ser mostrado. Em meio à
folia, difícil não ver jovens, inclusive menores de idade, com latas de cerveja e outras bebidas de maior teor alcóolico nas
mãos. E além do tumulto e da sujeira generalizados, a violência não tarda a mostrar-se nos conflitos que eclodem por toda parte, envolvendo homens e mulheres, em brigas e no trânsito, resultando em centenas de mortes, denunciadas não tanto pela
imprensa ou poder público, mas pelas sirenes das ambulâncias e viaturas policiais que não silenciam nos dias da folia, cortando a cidade rumo aos hospitais, onde as ilusões do carnaval se desfazem.
Do ponto de vista espiritual, outras considerações podem ser feitas sobre a famosa festa popular. No livro “Para uma vida melhor na Terra” (Ed. Fráter), o médium José Raul Teixeira faz comentários a
respeito que merecem destaque, sobretudo por se referirem também aos que, não obstante se proclamarem religiosos, aderem ao desequilíbrio dos dias de Momo.
“O carnaval não é somente uma festa de cunho material, como se poderia supor. Ele é profundamente espiritual, só que a faixa espiritual em que se situa é a dos Espíritos infelizes que se locupletam com os desejos e usanças daqueles outros que, embora encarnados, ajustam-se aos apelos do além-infeliz, servindo-lhes de alimárias ou de vasos nutrientes, onde as sombras se impõem e triunfam por momentos. Está claro, com isso, que os que se banqueteiam nesse festim, embora se digam religiosos, só o são na fachada. Não aprenderam que não se pode servir a Deus e a Mamon, que ser religioso é assumir um compromisso com a própria consciência.
Não foram advertidos pelos seus líderes que tais festividades momescas tiveram seu incremento nas orgias templárias da
Velha Roma, do mundo antigo, nas loucuras das homenagens aos deuses Lupércio, Saturno, Baco, etc., ditas festas em que não faltavam luxúria, os excessos de toda ordem, desde o prato às explorações sexuais, determinando a miséria moral e material, com enorme soma de sofrimentos. Por outro lado, companha religião é equilibrante, creio que, em boa linha, nos quedaríamos com a religião. Entretanto, a grande parte escolhe a descarga carnavalesca” – adverte Raul Teixeira, acrescentando que, embora se afirme ser o carnaval um extravasador das tensões, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e de neuroses que infestam nossas cidades, as mais diversas, quando ele se finda. “Encontramos, isso sim, um somatório de violência urbana, de infelicidade familiar, como jamais ocorrera no mundo contemporâneo. Creio que devemos repensar a questão do carnaval, a fim de não desculparmos o que é indesculpá-vel, pelo menos na conotação que se lhe dá atualmente” – conclui.
Fonte: Boletim Sei Nº 2209
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