O Livro dos Médiuns – Obsessão
Dá-se o nome de obsessão ao “domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas”.1 Com estas palavras Allan Kardec inicia o capítulo XXIII, segunda parte, de O Livro dos Médiuns, antecedidas pelo esclarecimento de que a obsessão encontra-se na primeira linha das dificuldades da prática espírita.1
Mais comum do que imaginamos, a obsessão não se manifesta somente entre desencarnados e encarnados, enfoque dado na referida obra, mas em ambos os planos da vida, o físico e o espiritual, em razão de um fator primordial: a imposição da vontade. Esta é a forma de agir do obsessor, que gosta de dar ordens e de ser obedecido.
[...] É praticada unicamente pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar, pois os Espíritos bons não impõem nenhum constrangimento. Aconselham, combatem a influência dos maus e, se não são ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se àqueles a quem podem aprisionar. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira criança.1
O domínio obsessivo pode estar associado a muitos fatores: mágoa, revolta, ciúme, inveja, orgulho, fraqueza de caráter etc., sobretudo, à incapacidade de perdoar ou relevar ofensas. Daí a obsessão apresentar diferentes características: desde uma simples influência sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais, “que é preciso distinguir e que resultam do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que produz”.1
Dessa forma, “a palavra obsessão é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação”.1 As causas da obsessão, portanto,
[...] variam de acordo com o caráter do Espírito. Às vezes é uma vingança que ele exerce sobre a pessoa que o magoou nesta vida ou em existências anteriores. Muitas vezes, é o simples desejo de fazer o mal; como o Espírito sofre, quer fazer que os outros também sofram; encontra uma espécie de prazer em atormentá-los, em humilhá-los, e a impaciência que a vítima demonstra o exacerba mais ainda, porque é esse o objetivo que o obsessor tem
em vista, enquanto a paciência acaba por cansá-lo.Ao irritar-se e mostrar-se despeitado, o perseguido faz exatamente o que o perseguidor deseja. Esses Espíritos agem, não raras vezes, por ódio e por inveja do bem, o que os leva a lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas. [...]2
Na Obsessão simples, também conhecida como influência espiritual, a ação da entidade desencarnada se manifesta de forma episódica, inoportuna e desagradável, produzindo mal-estar generalizado e inquietações ao obsidiado. Na prática mediúnica, a obsessão simples ocorre “quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, impede-o de se comunicar com outros Espíritos”.3 Esta situação pode ser percebida pelo teor das comunicações que, usualmente, apresenta um mesmo tipo de ideias, variáveis apenas quanto à forma, mas não quanto ao conteúdo. O Espírito comunicante apresenta interpretações próprias a respeito de diferentes assuntos, nem sempre condizentes com a orientação espírita. Kardec, contudo, pondera:
Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, principalmente no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, do mesmo modo que entre nós as pessoas mais honestas podem ser enganadas por espertalhões. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual a pessoa sobre quem ele atua não consegue desembaraçar-se.3
O Codificador considera também que na obsessão simples, o médium sabe muito bem que está lidando com um Espírito mentiroso e este não se disfarça, nem dissimula de forma alguma suas más intenções e seu propósito de contrariar. O médium reconhece a fraude sem dificuldade e, como se mantém vigilante, raramente é enganado. [...]3
A Fascinação é bem mais grave que a obsessão simples, caracterizando-se por “uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que de certa forma paralisa a sua capacidade de julgar as comunicações”.4 O obsessor age sobre a mente do obsidiado projetando imagens e pensamentos hipnotizantes, alimentadores de ideias fixas: o indivíduo fascinado “não acredita que esteja sendo enganado; o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve [ou do que faz], ainda quando esse absurdo salte aos olhos de todo mundo”.4
Não é fácil lidar com a fascinação. “[...] Para chegar a tais fins, é preciso que o Espírito seja muito esperto, astucioso e profundamente hipócrita, porque só pode enganar e se impor à vítima por meio da máscara que toma e de uma falsa aparência de virtude.”4
Já dissemos que as consequências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças à ilusão que dela resulta, o Espírito dirige a pessoa que ele conseguiu dominar, como faria com um cego, podendo levá-la a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade.Mais ainda: pode arrastá-la a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas.4
Para auxiliar a pessoa que se encontra sob fascinação espiritual é preciso tato, paciência e compaixão, pois “o que o fascinador mais teme são as pessoas que veem as coisas com clareza, de modo que a tática deles, quase sempre, consiste em inspirar ao seu intérprete [obsidiado] o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos”.4
A Subjugação é grau mais aprofundado da obsessão, manifestada como constrição ou opressão, moral ou corpórea, “que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir contra a sua vontade. Numa palavra, o paciente fica sob um verdadeiro jugo”.5 Nestas condições, a assistência médica especializada é requisitada, e deve ser associada ao apoio espiritual, uma vez que a pessoa já não tem domínio sobre si mesma. Na subjugação moral, “o subjugado é constrangido a tomar decisões muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas”.5 Na subjugação corpórea, “o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. [...]
Algumas vezes, a subjugação corpórea vai mais longe, podendo levar a vítima aos atos mais ridículos”.5
O médium obsidiado não deve participar das reuniões mediúnicas enquanto durar o processo obsessivo porque “toda comunicação dada por um médium obsidiado é de origem suspeita e não merece nenhuma confiança”.6 Entretanto, não lhe deve faltar o amparo do passe, da prece, da conversa fraterna, do Evangelho no lar, da água magnetizada, do estudo, do trabalho no bem.
“Os meios de se combater a obsessão variam de acordo com o caráter que ela reveste”7 e a capacidade do obsidiado em se libertar do jugo, o que não é fácil, porque “as imperfeições morais do obsidiado constituem, quase sempre, um obstáculo à sua libertação”.8
Na obsessão simples depende do esforço do obsidiado, que deve “provar ao Espírito que não está iludido por ele e que não lhe será possível enganar; depois, cansar a sua paciência, mostrando-se mais paciente que ele”.7
Na fascinação, “a única coisa a fazer-se com a vítima é convencê-la de que está sendo ludibriada e reverter a sua obsessão ao nível de obsessão simples. Isto, porém, nem sempre é fácil, para não dizer impossível, algumas vezes”.9
Na subjugação, “se torna necessária a intervenção de outra pessoa, que atue pelo magnetismo ou pela força da sua própria vontade. Em falta do concurso do obsidiado, essa pessoa deve ter predomínio sobre o Espírito; porém [...] só poderá ser exercido por um ser moralmente superior ao Espírito [...]. É por isso que Jesus tinha grande poder para expulsar os que, naquela época, se chamavam demônios, isto é, os Espíritos maus obsessores”.10
Referências:
1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 23, it. 237.
2______. ______. It. 245.
3______. ______. It. 238.
4______. ______. It. 239.
5______. ______. It. 240.
6______. ______. It. 242.
7______. ______. It. 249.
8______. ______. It. 252.
9______. ______. It. 250.
10______. ______. It. 251.
Mais comum do que imaginamos, a obsessão não se manifesta somente entre desencarnados e encarnados, enfoque dado na referida obra, mas em ambos os planos da vida, o físico e o espiritual, em razão de um fator primordial: a imposição da vontade. Esta é a forma de agir do obsessor, que gosta de dar ordens e de ser obedecido.
[...] É praticada unicamente pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar, pois os Espíritos bons não impõem nenhum constrangimento. Aconselham, combatem a influência dos maus e, se não são ouvidos, retiram-se. Os maus, ao contrário, agarram-se àqueles a quem podem aprisionar. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira criança.1
O domínio obsessivo pode estar associado a muitos fatores: mágoa, revolta, ciúme, inveja, orgulho, fraqueza de caráter etc., sobretudo, à incapacidade de perdoar ou relevar ofensas. Daí a obsessão apresentar diferentes características: desde uma simples influência sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais, “que é preciso distinguir e que resultam do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que produz”.1
Dessa forma, “a palavra obsessão é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de fenômeno, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação”.1 As causas da obsessão, portanto,
[...] variam de acordo com o caráter do Espírito. Às vezes é uma vingança que ele exerce sobre a pessoa que o magoou nesta vida ou em existências anteriores. Muitas vezes, é o simples desejo de fazer o mal; como o Espírito sofre, quer fazer que os outros também sofram; encontra uma espécie de prazer em atormentá-los, em humilhá-los, e a impaciência que a vítima demonstra o exacerba mais ainda, porque é esse o objetivo que o obsessor tem
em vista, enquanto a paciência acaba por cansá-lo.Ao irritar-se e mostrar-se despeitado, o perseguido faz exatamente o que o perseguidor deseja. Esses Espíritos agem, não raras vezes, por ódio e por inveja do bem, o que os leva a lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas. [...]2
Na Obsessão simples, também conhecida como influência espiritual, a ação da entidade desencarnada se manifesta de forma episódica, inoportuna e desagradável, produzindo mal-estar generalizado e inquietações ao obsidiado. Na prática mediúnica, a obsessão simples ocorre “quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, impede-o de se comunicar com outros Espíritos”.3 Esta situação pode ser percebida pelo teor das comunicações que, usualmente, apresenta um mesmo tipo de ideias, variáveis apenas quanto à forma, mas não quanto ao conteúdo. O Espírito comunicante apresenta interpretações próprias a respeito de diferentes assuntos, nem sempre condizentes com a orientação espírita. Kardec, contudo, pondera:
Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, principalmente no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, do mesmo modo que entre nós as pessoas mais honestas podem ser enganadas por espertalhões. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual a pessoa sobre quem ele atua não consegue desembaraçar-se.3
O Codificador considera também que na obsessão simples, o médium sabe muito bem que está lidando com um Espírito mentiroso e este não se disfarça, nem dissimula de forma alguma suas más intenções e seu propósito de contrariar. O médium reconhece a fraude sem dificuldade e, como se mantém vigilante, raramente é enganado. [...]3
A Fascinação é bem mais grave que a obsessão simples, caracterizando-se por “uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que de certa forma paralisa a sua capacidade de julgar as comunicações”.4 O obsessor age sobre a mente do obsidiado projetando imagens e pensamentos hipnotizantes, alimentadores de ideias fixas: o indivíduo fascinado “não acredita que esteja sendo enganado; o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve [ou do que faz], ainda quando esse absurdo salte aos olhos de todo mundo”.4
Não é fácil lidar com a fascinação. “[...] Para chegar a tais fins, é preciso que o Espírito seja muito esperto, astucioso e profundamente hipócrita, porque só pode enganar e se impor à vítima por meio da máscara que toma e de uma falsa aparência de virtude.”4
Já dissemos que as consequências da fascinação são muito mais graves. Com efeito, graças à ilusão que dela resulta, o Espírito dirige a pessoa que ele conseguiu dominar, como faria com um cego, podendo levá-la a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade.Mais ainda: pode arrastá-la a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas.4
Para auxiliar a pessoa que se encontra sob fascinação espiritual é preciso tato, paciência e compaixão, pois “o que o fascinador mais teme são as pessoas que veem as coisas com clareza, de modo que a tática deles, quase sempre, consiste em inspirar ao seu intérprete [obsidiado] o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos”.4
A Subjugação é grau mais aprofundado da obsessão, manifestada como constrição ou opressão, moral ou corpórea, “que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir contra a sua vontade. Numa palavra, o paciente fica sob um verdadeiro jugo”.5 Nestas condições, a assistência médica especializada é requisitada, e deve ser associada ao apoio espiritual, uma vez que a pessoa já não tem domínio sobre si mesma. Na subjugação moral, “o subjugado é constrangido a tomar decisões muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas”.5 Na subjugação corpórea, “o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. [...]
Algumas vezes, a subjugação corpórea vai mais longe, podendo levar a vítima aos atos mais ridículos”.5
O médium obsidiado não deve participar das reuniões mediúnicas enquanto durar o processo obsessivo porque “toda comunicação dada por um médium obsidiado é de origem suspeita e não merece nenhuma confiança”.6 Entretanto, não lhe deve faltar o amparo do passe, da prece, da conversa fraterna, do Evangelho no lar, da água magnetizada, do estudo, do trabalho no bem.
“Os meios de se combater a obsessão variam de acordo com o caráter que ela reveste”7 e a capacidade do obsidiado em se libertar do jugo, o que não é fácil, porque “as imperfeições morais do obsidiado constituem, quase sempre, um obstáculo à sua libertação”.8
Na obsessão simples depende do esforço do obsidiado, que deve “provar ao Espírito que não está iludido por ele e que não lhe será possível enganar; depois, cansar a sua paciência, mostrando-se mais paciente que ele”.7
Na fascinação, “a única coisa a fazer-se com a vítima é convencê-la de que está sendo ludibriada e reverter a sua obsessão ao nível de obsessão simples. Isto, porém, nem sempre é fácil, para não dizer impossível, algumas vezes”.9
Na subjugação, “se torna necessária a intervenção de outra pessoa, que atue pelo magnetismo ou pela força da sua própria vontade. Em falta do concurso do obsidiado, essa pessoa deve ter predomínio sobre o Espírito; porém [...] só poderá ser exercido por um ser moralmente superior ao Espírito [...]. É por isso que Jesus tinha grande poder para expulsar os que, naquela época, se chamavam demônios, isto é, os Espíritos maus obsessores”.10
Referências:
1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 23, it. 237.
2______. ______. It. 245.
3______. ______. It. 238.
4______. ______. It. 239.
5______. ______. It. 240.
6______. ______. It. 242.
7______. ______. It. 249.
8______. ______. It. 252.
9______. ______. It. 250.
10______. ______. It. 251.
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