Identidade dos Espíritos
Em O Livro dos Médiuns, capítulo XXIV, a identidade dos Espíritos comunicantes é detalhadamente analisada por Allan Kardec em 14 itens e 54 respostas, transmitidas pelos Espíritos orientadores da Codificação Espírita.Muitas mistificações e dúvidas a respeito do assunto poderiam ser evitadas se os espíritas, sobretudo os médiuns, estudassem com mais afinco as considerações que constam do capítulo, mesmo que o Codificador tenha dito: “A questão da identidade dos Espíritos é uma das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo”.1 É exatamente por isso que deve merecer maiores cuidados e ponderações pelo espírita esclarecido:
[...] De fato, os Espíritos nãonos trazem uma carteira de identidade e sabe-se com que facilidade alguns dentre eles tomam nomes que nunca lhes pertenceram. Justamente por isso, esta questão de identidade é, depois da obsessão, uma das maiores dificuldades que apresenta o Espiritismo prático. Todavia, em muitos casos, a identidade absoluta não passa de questão secundária e sem importância real.1
Seguindo a ordenação dos conteúdos desenvolvidos no capítulo, percebemos que dois pontos devem ser discriminados, como o fazemos em seguida.
1. Provas possíveis de identidade
De forma abrangente, “julgam- se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem. Se um Espírito se apresenta com o nome de Fénelon, por exemplo, e diz trivialidades e puerilidades, está claro que não pode ser ele”.2 Outras provas podem ser incluídas na identificação do comunicante:
[...] a semelhança da caligrafia e da assinatura. Mas, além de nem todos os médiuns serem capazes de obter esse resultado, ele não representa, invariavelmente uma garantia suficiente. Há [também] falsários no mundo dos Espíritos [...].3
A identificação de Espíritos “é muito mais fácil de ser comprovada quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujos hábitos e características são conhecidos, porque são justamente esses hábitos, de que ainda não tiveram tempo de abandonar, que nos permitem reconhecê-los, constituindo isso um dos sinais mais seguros de identidade”.4
Enquanto se recusam a responder a perguntas pueris e extravagantes, que qualquer pessoa teria escrúpulos em lhes dirigir, se fossem vivos [encarnados], os Espíritos, por outro lado, não se negam a dar espontaneamente provas irrecusáveis de sua identidade, por seus caracteres, que se revelam na linguagem de que usam, pelo emprego de palavras que lhes eram familiares, pela citação de certos fatos, de particularidades de suas vidas, às vezes desconhecidas dos assistentes e cuja exatidão se pode verificar. As provas de identidade se destacam, além disso, de um sem-número
de circunstâncias imprevistas, que nem sempre se apresentam na primeira ocasião, mas que surgem com a continuação das manifestações.Convém, pois, esperá-las, sem as provocar, observando-se cuidadosamente todas as que possam resultar da natureza das comunicações.5
Situação diversa ocorre com a identificação de Espíritos que viveram em outras épocas, principalmente os que carecem de referências biográficas:
A identidade dos Espíritos das personagens antigas é a mais difícil de se conseguir, tornando-se muitas vezes impossível mesmo, de modo que ficamos
limitados a uma apreciação puramente moral.[...].6
2. Distinção entre os Espíritos bons e os maus
A identidade dos Espíritos pode se revelar, contudo, como aspecto secundário. Por exemplo, quando nos são transmitidas “instruções gerais, pois os melhores Espíritos podem substituir-se mutuamente, sem maiores consequências”.7
[...]Os Espíritos superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, cujas individualidades nos são, com raras exceções, completamente desconhecidas. O que nos interessa não é a pessoa deles, mas o ensino que nos proporcionam.
Ora, se o ensino é bom, pouco importa que aquele que o deu se chame Pedro, ou Paulo. Devemos julgá-lo pela sua qualidade e não pelas suas insígnias. [...]7
Importa considerar também que,
à medida que os Espíritos se purificam e se elevam na hierarquia, as características distintivas de suas personalidades se apagam, de certo modo, na uniformidade da perfeição; nem por isso, entretanto, deixam de conservar as suas individualidades.8
Tais condições nos fazem ver quanto é importante saber distinguir os bons Espíritos dos que ainda assinalam atraso espiritual.
[...] Os Espíritos realmente superiores não apenas só dizem coisas boas, como também as dizem em termos que excluem, de modo absoluto, qualquer trivialidade. Por melhores que sejam essas coisas, se forem manchadas por uma única expressão que denote baixeza, isto constitui um sinal indubitável de inferioridade, principalmente se o conjunto da comunicação chocar as conveniências pela sua grosseria. A linguagem revela sempre a sua origem, seja pelos pensamentos que traduz, seja pela forma, de modo que se um Espírito quiser iludir-nos sobre a sua pretensa superioridade, bastará conversarmos algum tempo com ele para a apreciarmos.9
Há mais: “A bondade e a benevolência são atributos essenciais dos Espíritos depurados”.10 Não revelam mágoas nem ódio; são solidários e gentis; lamentam as fraquezas humanas; só querem o bem e só dizem coisas boas, instrutivas. 10 Por outro lado, é preciso cautela na análise de mensagens
provenientes de Espíritos que demonstram possuir grandes conhecimentos:
A inteligência está longe de constituir um sinal seguro de superioridade, porque a inteligência e a moral nem sempre andam juntas. Um Espírito pode ser bom, afável, e ter conhecimentos limitados, ao passo que outro, inteligente e instruído, pode ser inferior em moralidade.11
Os itens 267 e 268, capítulo XXIV, de O Livro dos Médiuns, complementam este estudo, pois trazem uma síntese dos meios para reconhecer as qualidades e a natureza dos Espíritos comunicantes. Sugerimos a leitura atenta. Todavia, destacamos que é preciso ter muito cuidado quanto às informações e teorias transmitidas por Espíritos de pouca ou de mediana evolução que, a despeito de não serem maus, necessariamente, ainda não possuem as qualidades dos bons Espíritos: as suas ideias devem ser consideradas, então, mera opinião, jamais verdade absoluta, como esclarece São Luís, prudentemente:
Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar, meditar e submeter ao controle da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias, a fim de que possais formar uma opinião segura, toda vez que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.12
Referências
1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de
Janeiro: FEB, 2009. Cap. 24, it. 255,
p. 411.
2______. ______. It. 255, p. 412.
3______. ______. It. 260, p. 417.
4______. ______. It. 257, p.414-415.
5______. ______. It. 258, p.415-416.
6______. ______. It. 255, p. 411-412.
7______. ______. It. 256, p. 414.
8______. ______. p. 412.
9______. ______. It. 263, p. 419-420.
10______. ______. It. 264, p. 420.
11______. ______. It. 265, p. 420.
12______. ______. It. 266, p. 421-422.
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