Cirurgias Espirituais

Cirurgias Espirituais

Jornadas de até 2.400 quilômetros em busca de cura. O IMA (Instituto Medicina do Além), de Franca(SP), atrai pessoas dispostas a cruzar o país em busca do tratamento espiritual oferecido pelo médium João Berbel.


Na noite da última quarta-feira, o Jornal  Folha de São Paulo acompanhou as "cirurgias" espirituais feitas pelo médium. Ele afirma incorporar o espírito do médico Ismael Alonso y Alonso, que foi prefeito de Franca na década de 1950, que morreu em 1964.
As cirurgias são uma sequência do tratamento espiritual oferecido pelo IMA, que começa com as consultas, que a Folha também acompanhou e publicou no último domingo.
Entre as cerca de 500 pessoas que estavam no instituto na quarta, uma das maiores jornadas foi a percorrida pelo eletricitário José Gomes Feitosa Júnior, 36, que veio de Recife.
Com colesterol em níveis considerados alarmantes, Feitosa Júnior disse que busca no espiritismo a última saída. "Já fiz tratamento com endocrinologista, cardiologista e, mesmo com medicamento, não resolve."
Ele estava na primeira leva de 30 homens que entraram na sala de cirurgia do IMA. Deitados em macas enfileiradas, todos sem camisa, aguardaram poucos minutos a chegada de Berbel, que, dizendo estar "mediunizado" com o espírito do médico falecido, iniciou as cirurgias.
Usando um bisturi sem lâmina, Berbel levou menos de um minuto, em média, diante de cada uma das macas. Após receber dos auxiliares as informações sobre o problema do "paciente", o médium fez gestos que simulavam cortes no local do corpo que foi indicado.
Quando passava para o paciente na maca seguinte, auxiliares iniciavam a colocação de curativos naquele que acabara de ser operado.
A indicação para os pacientes era manter o curativo por três dias, à exceção dos que foram operados nos joelhos, cujas faixas deveriam ser mantidas por 15 dias.
Após deixar a sala com um curativo no peito, Feitosa Júnior disse que, no momento da cirurgia, sentiu "aquecer" o local que recebeu a intervenção do médium. Ele pretendia voltar hoje para o Recife, mas disse ter a pretensão de retornar a Franca em três meses para continuar o tratamento.
Enquanto Feitosa Júnior passava pela cirurgia, na sala ao lado, que recebeu a primeira leva de 30 mulheres, estava Maria Eduarda, 4, que viajou 900 quilômetros de Joinville (SC) com a avó Olívia Machado, 51.
Segundo Olívia, a menina, que depende de uma cadeira de rodas para se locomover, teve lesão cerebral ainda durante a gravidez, por causa de uma pneumonia da mãe.
Produtora de plantas ornamentais, a avó disse que ficou sabendo das cirurgias espirituais feitas por Berbel por meio de um cliente que mora em Taquaritinga.
Católica, mas "simpatizante" do espiritismo, ela disse que acreditava no tratamento como cura para a neta. "Acho que depende apenas da nossa fé."
Em dias de pico, segundo o IMA, as cirurgias espirituais atraem até 1.500 pessoas. Nos dias de consultas e retornos, o número chega a ser o dobro disso.

As cirurgias sem corte




Os atendimentos no IMA chegam a aproximadamente 20 mil pessoas por mês, de acordo com o médium João Berbel. Nas semanas em que ocorrem as cirurgias espirituais, os atendimentos são feitos para aqueles que já passaram pelas consultas.
Durante as cirurgias, o médium usa um bisturi sem lâmina. "Nós usamos essa ferramenta porque, às vezes, temos que fazer mil cirurgias. Se fizermos só com as minhas mãos, o trabalho duraria a noite toda", disse.
O plural quase sempre usado pelo médium deixa claro que ele se refere também ao espírito que diz incorporar, do médico Ismael Alonso y Alonso.
Com o bisturi sem lâmina, portanto, as cirurgias espirituais não têm cortes.
Mas, após as "operações", os pacientes recebem um curativo no local que foi alvo da intervenção. O motivo, explica Berbel, é para que a pessoa saiba que, embora não haja corte durante a cirurgia espiritual, é preciso um período de repouso.
Ele diz que já houve casos de pacientes que não seguiram as recomendações de repouso e que viram o local operado abrir, como se fosse o rompimento de pontos de uma intervenção médica.
A Folha não encontrou na última quarta-feira pessoas, entre as já operadas, que tenham passado pela experiência relatada por Berbel.
"O esparadrapo, o curativo que fazemos, é também para despertar a fé", disse.



Mais informações no site Instituto de Medicina do Além - IMA
 
 
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