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17 de mai. de 2010

Pintor cego confronta a ciência e o mistério da vida





O jornalista Milton R. Medran Moreira trouxe, na edição impressa do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), um artigo interessante, propondo uma interpretação filosófico-espírita para o fenômeno do pintor turco cego nascença, Esref Armagan. A história, revelada pela Discovery Channel, vem de Ankara, a Turquia, país no qual Esref nasceu cego, há 53 anos, e onde é comparado ao arquiteto Filippo Brunelleschi, por dominar a difícil arte da perspectiva. Ele pinta casas, barcos, pássaros e borboletas, embora ele nunca tenha visto de fato quaisquer destas coisas. Ele pinta com cores vivas, embora jamais tenha visto cor, luz ou sombra. Durante os anos, Armagan desenvolveu os próprios métodos dele por criar a arte e ninguém o ensinou ou descreveu que técnicas para usar. Ele começou com lápis e antes dos 18 anos estava pintando com os dedos, primeiro em papel e depois em telas comuns. Hoje em dia, ele trabalha principalmente com acrílico de secagem rápida.
Depois de exibir seu trabalho em mais de vinte exposições na Turquia, Holanda, a República Tcheca e China, Armagan surpreende os estudiosos ao colocar em xeque nosso conhecimento de quanto as pessoas cegas podem entender sobre nosso plano visual. O psicólogo John Kennedy, diretor de Ciências de Vida na Universidade de Toronto, pesquisa a psicologia de percepção e cognição em pessoas cegas, e submeteu o artista a bateria de testes nos quais ele puxou uma série de objetos sólidos, inclusive um cubo em perspectiva. Testes adicionais, no laboratório de Neuroscience de Universidade de Harvard, demonstraram que Armagan misteriosamente ativou seu córtex visual, recrutando-o através de outros sentidos. Como último desafio, o médico levou o pintor à Itália para confrontá-lo com a obra-prima da perspectiva de Brunelleschi, o Batistério de Florença. E Armagan novamente surpreendeu, reproduzindo com outros sentidos (e em perspectiva), as formas do prédio à sua frente, que jamais viu, mas que "visualizou" somente por meio de uma maquete.
Esta história surpreendente revela que o cérebro tem o potencial para se adaptar, de acordo com as necessidades individuais. A habilidade do cérebro para reorganizar suas funções baseado em informação nova e experiências estão definidas como plasticidade de neural. Pois é nesta perspectiva que entra a análise de Milton Medran, que explica o fenônemo a partir de uma frase conhada por Aristóteles : "nada está no intelecto que não tenha primeiro passado pelos sentidos". Ou seja: é pela visão, pelo tato, pelos sentidos corporais, enfim, que adquirimos o conhecimento. Sem experienciar, nada aprendemos. E é assim que nasceu a arte de Armagan, que toca nas flores, nas plantas, nas pessoas e, depois, reproduze-as.
Para o jornalista, porém, "o pintor que nasceu sem os olhos nem sempre teria sido cego. Sua alma, antes de aprisionar-se ao corpo, percebera e retivera as imagens que hoje pinta mesmo sem as ver. Para os neurocientistas, no entanto, há um campo no cérebro onde se formam as imagens captadas pela visão. Quem não enxerga, como Esref, pode suprir isso com os outros sentidos, especialmente o tato, formando, naquela mesma área cerebral, as imagens que consegue reproduzir em tintas com seu pincel".
Minton Medran, que também é diretor de Comunicação Social do "Centro Cultural Espírita de Porto Alegre", conclui que o mistério por trás do "inexplicado" encontra justificativa na lei das vidas sucessivas e pelas reminiscências que delas guarda a alma ou espírito. "Uma lei em tudo racional, capaz de interpretar o fenômeno Esref. Mas para aceitá-la será preciso enfrentar dois dogmas da pós-modernidade: o de que a alma não existe, e o de que se, vá lá, possa existir, é coisa que deve ser aprisionada no quarto escuro do mistério e da fé", finaliza.

Marcos Grignolli







        




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