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30 de mai. de 2010

Eutanásia




De origem grega, a palavra “eutanásia” é formada pela junção dos termos “eu” (bom) e “tanathos” (morte), podendo ser entendida tanto como um desencarne sereno, sem sofrimento, como uma prática sem amparo legal, através da qual se busca abreviar a vida de um doente reconhecidamente incurável sem qualquer tipo de dor.
Na realidade, trata-se de uma ação homicida cometida por um médico, um leigo (normalmente alguém da família do paciente) ou um julgador que possui o poder de decidir sobre a sobrevivência do enfermo.
A eutanásia pode ser positiva, quando geralmente se coloca fim à vida do paciente pela aplicação de fármacos, ou negativa, quando os meios ordinários indispensáveis para a manutenção vital são omitidos, bem como ocorrer de forma voluntária, o chamado “suicídio assistido”, praticado freqüentemente por um médico a pedido do paciente, ou involuntária, quando este não é consultado, não se pronuncia (às vezes, por ser incapaz de fazê-lo) ou nem mesmo a deseja. Há ainda a eutanásia eugenética, na qual se elimina toda vida considerada sem valor. Na Grécia antiga, por exemplo, a hegemonia espartana, sempre armada para guerras e destruições, inseriu em seu estatuto o emprego legal desse tipo de ação com enfermos, mutilados e psicopatas considerados inúteis.
Em virtude de toda a sua complexidade, a questão da eutanásia é debatida no mundo inteiro. A maioria dos países é contra sua prática, punindo aqueles que agem mesmo em situação humanitária, abreviando o sofrimento indesejado de um enfermo. Também as religiões se mostram contrárias a ela, por acreditarem que apenas Deus dá a vida e pode tirá-la. No livro Após a Tempestade, Joanna de Ângelis define a eutanásia como algo puramente material. “É uma prática nefanda que testemunha a predominância do conceito materialista sobre a vida, que vê apenas a matéria e suas implicações imediatas em detrimento das realidades espirituais, refletindo também a soberania do primitivismo animal na constituição emocional do homem”, afirma.
Já aqueles que são favoráveis à eutanásia dizem agir em nome do paciente em fase terminal, caracterizado por um quadro clínico irreversível, horríveis dores e sofrimentos, dando a impressão de que somente a morte é o caminho para livrá-lo de seu padecimento. O argumento dos utilitaristas é que um paciente em fase terminal custa muito caro para o governo e que esse dinheiro poderia ser destinado para curar pessoas com possibilidades de retorno à vida normal. Mas o que é caro para o Estado? Na verdade, nos dias de hoje, esse tipo de argumento não se sustenta diante do uso indevido dos recursos por parte do poder público, desviando-os para fins particulares ou gerando escândalos e mais escândalos.
Na sociedade em que vivemos, temos responsabilidades com nossos semelhantes. Portanto, cabe ao Estado a responsabilidade pela administração do dinheiro público e a conseqüente má gestão dele, não aos cidadãos, pois a péssima utilização dos recursos recai sobre as pessoas que pagam com a vida a prática de atos indignos por parte de outras. Negar um tratamento digno ao doente terminal devido à escassez de recursos em favor de pesquisas para salvar vidas é uma incoerência diante da realidade.

Valorização da vida
Em um artigo publicado em 1999 no jornal National Post, da cidade de Toronto, Canadá, Mark Pickup, paciente crônico de esclerose múltipla progressiva há 15 anos, mostrou toda a sua preocupação com a baixa estima que deficientes têm por parte de seus concidadãos. Segundo seu relato, quando soube das conseqüências de sua doença, ou seja, que sua visão se debilitaria, pernas e braços se atrofiariam, a capacidade de falar seria perdida, teria incontinência urinária, experimentaria um contínuo esgotamento, sofreria períodos em que a capacidade de pensar seria obscurecida e não poderia confiar em suas opiniões, concluiu que não teria qualidade de vida nessa existência, somente terror.
“Nos primeiros dias, meses e anos de minha doença, minha família me apoiou. Para eles, eu era valioso, inclusive quando eu mesmo duvidava disso. Se não tivessem agido dessa forma, eu poderia ter agradecido a visita de Jack Kevorkian. Se alguém me dissesse que minha carreira terminaria aos 37 anos, eu me desesperaria, como de fato aconteceu quando chegou o momento. Felizmente, muitos destes sintomas aterrorizantes diminuiram, agora me movimento com muletas e disponho de um veículo adaptado para as minhas necessidades. Não trabalho há nove anos, mas minha vida tem qualidade. Para quê? Para amar, ser amado, valorizado e acreditar que posso contribuir com algo para a comunidade”, explicou.
A história de Mark Pickup demonstra que ele valoriza a vida, vencendo os obstáculos que lhe são colocados no caminho e seguindo sua caminhada evolutiva através dos espinhos. Felizmente, esta é uma atitude corajosa, pois abreviar as dores por meio de uma morte “digna” não contribui para o crescimento espiritual. “Na sociedade, existe uma corrente subterrânea de hostilidade contra a vida humana imperfeita”, disse Pickup em seu artigo, perguntando mais adiante: “Aceita a eutanásia, o que o doente incurável ou incapacitado pode esperar”?
No Canadá, existe uma política de duas medidas, ou seja, uma pessoa que tem uma tendência suicida recebe toda a ajuda necessária, inclusive tratamento psiquiátrico, até que a crise passe, a fim de melhorar sua auto-estima para viver com dignidade, mas quando se trata de um doente incurável ou um deficiente, a discussão é em torno da “morte digna”, da liberdade de escolher o próprio fim. Em seu artigo, após indagar sobre a razão dessa diferença, Mark Pickup afirmou ser valioso “tanto quanto a pessoa sadia que deseja se suicidar, mesmo que não me valorize ou deixe de ser amado pelos outros”.
Já no Brasil, há poucos hospitais e associações cujo objetivo é oferecer o apoio necessário tanto para o doente terminal como aos seus familiares, a fim de que possam lidar melhor com a morte. Na verdade, trata-se de um procedimento paliativo, no qual o paciente recebe a ajuda de psicólogos, médicos, enfermeiros e assistentes sociais.

A reação dos pacientes terminais
O comportamento de uma pessoa que recebe a notícia de uma doença fatal é bastante imprevisível. Sabe-se que a primeira coisa que vem à mente dela é o torpor pela morte, o medo toma conta, começando a indagar a Deus coisas como “por que eu”? A família sofre, mas deve continuar firme ao lado do enfermo, pois como explica Joanna de Ângelis em Após a Tempestade, “as pessoas que se vinculam a eles na condição de pais, cônjuges, irmãos ou amigos também são partícipes dos dramas e tragédias do passado, responsáveis diretos ou inconscientes que ora se reabilitam, devendo lhes estender mãos generosas, auxílio fraterno ou, ao menos, migalhas de amor”.
As várias pesquisas realizadas com pacientes em estado terminal revelam dados interessantes, como, por exemplo, o fato da maioria deles admitir a possibilidade de existir vida após a morte. Outro ponto relevante é que muitas pessoas nesse estado se sentem culpadas ou com remorso por deixarem algum assunto mal resolvido ou não terem se reconciliado com quem se desentenderam.
Em seu livro Sobre a Morte e o Morrer, a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross explica que os pacientes próximos do desencarne passam por cinco estágios. O primeiro é o da negação, quando não aceitam a idéia de morrer, passam a ignorar o diagnóstico médico e tentam manter sua vida normal. No segundo, quando se confirma a doença, passam a ter raiva de Deus e de todos, vindo a pergunta de sempre (por que eu?), além de passarem a ter inveja de pessoas sadias e reclamarem dos familiares que não os consideram. Depois, vem o estágio da barganha, quando começam a fazer promessas para Deus com o intuito de obter a cura, fase na qual seus espíritos estão mais tranqüilos e amistosos com os que lhes cercam. No quarto estágio, vem a depressão, muitas vezes, coincidente com o agravamento do estado de saúde ou a frustração com um novo tratamento.  Por fim, vem a aceitação, quando, fisicamente debilitados, os pacientes se isolam, aceitam a idéia do fim e sentem remorso pelo que deixaram de fazer, tendo a sensação de derrota e impotência apesar de estarem mais saudáveis emocionalmente. A luta pela vida cessou e deu lugar à resignação.
Diante dessa realidade, abre-se espaço para o surgimento de pessoas como o médico norte-americano Jack Kevorkian, que responde pelo falecimento de 130 pacientes terminais. Em 1989, ele criou o primeiro aparelho para praticar a morte rápida, batizado de Tanatron, palavra originária do grego que significa “máquina da morte”. Com ele, aplicam-se doses altíssimas de analgésicos, seguidas por fortes dosagens de relaxantes musculares e soluções de potássio, que interrompem o funcionamento do sistema cardiorrespiratório. O processo era indolor e a máquina deixava o médico em posição cômoda, pois eram os próprios pacientes que abriam a válvula para injetar os medicamentos mortais.
Em 1998, Kevorkian operou os instrumentos da morte para Thomas Youk, que tinha 52 anos e sofria de um tipo de esclerose conhecida como Mal de Lou Gehrig, depois que ele assinou uma declaração formal na qual dizia que não desejava mais viver. Sua morte foi filmada pelo médico e mostrada nos Estados Unidos pela rede de televisão CBS, imagens que, depois, serviram de base para as autoridades judiciais do estado de Michigan abrirem um processo por homicídio, o quinto no país desde 1990, contra o “Doutor Morte”, como Kevorkian era conhecido. Julgado, foi condenado a cumprir 25 anos de prisão na penitenciária de Pontiac.

Impossibilidade reversível
Entretanto, não se pode esquecer que o mundo dá voltas e o que parece impossível hoje torna-se perfeitamente factível amanhã. “No que tange aos enfermos ditos irrecuperáveis, convém considerar que doenças ontem detestáveis e incuráveis são hoje um capítulo superado pelo triunfo de homens-sacerdotes da ciência médica, que a enobrecem pelo contributo que suas vidas oferecem para o benefício da humanidade. Sempre há, pois, a possibilidade de amanhã se conseguir a vitória sobre a enfermidade irreversível de hoje”, explica Joanna de Ângelis.
Segundo ela, espíritos missionários reencarnam diariamente com esse objetivo, impulsionando o progresso, descobertas e conquistas superiores para a vida e se tornando uma poderosa fonte de esperança e conforto para todos aqueles que sofrem com suas enfermidades. E acrescenta: “Portanto, cada minuto em qualquer vida é precioso para o espírito em resgate abençoado. Quantas resoluções nobres, decisões felizes ou atitudes desditosas ocorrem em um simples relance, um instante”? Temos aqui considerações importantes, que abrem a possibilidade de refletirmos melhor sobre as reais necessidades de aplicação da eutanásia em pacientes terminais e as posteriores implicações desse ato.

Marco Tulio Michalik 
Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 20.
http://www.rcespiritismo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=294&Itemid=25

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