O Amor é para sempre…
(Escrevi
esses pensamentos, muito sentidos, há alguns anos. Pretendia publicá-los num
livro, mas antes que ficarem guardados, na memória do computador, melhor
partilhar com outros que, como eu, estejam amadurecendo essa que é a maior
herança divina em nós: a capacidade de amar.)
O amor é o oposto da indiferença. O amor nunca tanto faz, com o
que o ser amado faz. Por isso se empenha sempre por um fazer de luz.
O amor pode curar, salvar, elevar, educar, regenerar. Mas tudo a
longo prazo, pois para se mostrar, atuar e agir, precisa muito ter paciência,
perseverar, persistir, muitas, infinitas vezes perdoar… Tudo devagar.
O amor desgovernado, tumultuado pelas paixões, queima os
corações, provoca afastamentos, descontentamentos, dilacerações… Por isso, o
amor precisa se asserenar, se suavizar, alimentando-se de eternidade!
Mesmo o amor mais forte, mais viril, mais ativo precisa ser
feminino… Cuidadoso, gentil, acolhedor, sabendo se esconder para o outro
brilhar!
O amor se muda, se adapta, se transforma, se sublima, mas nunca
desiste. O amor pode estar triste, agitado, aflito, cansado com os atritos do
dia a dia. Mas se for amor, nunca esfria! O amor tudo sofre – diz Paulo – e
nunca se acaba. Mesmo ofegante, prossegue; mesmo ferido, perdoa! Mesmo
desacreditado, insiste! E mesmo rejeitado, resiste! O amor tudo pode, tudo
alcança! Força divina que nos move e nos transfigura! Mesmo ainda misturado aos
cascalhos das paixões, sua fonte profunda é sempre pura! E por isso limpa com o
tempo os corações!
O amor é o único motivo, o único estímulo, o único impulso
suficientemente forte, elevado e belo para nos levar à superação de nós mesmos!
Por amor a quem amamos e por amor a Deus, alcançamos a transcendência!
O amor para bem comunicar-se, precisa aprender sutilezas,
precisa fazer recuos, precisa ocultar ímpetos e transfigurar angústias! Precisa
calar e falar com sinceridade serena, compreensiva, derramando-se muito mais no
olhar, que na palavra; muito mais nos gestos, que nas anunciações!
O amor compreende mais que julga! Não se endurece, antes se
enternece! Quer mais se doar do que receber! E o tempo todo tece o carinho, que
alimenta!
O amor sempre renova a confiança, refaz a esperança, alimenta o
otimismo, porque seu horizonte é a eternidade!
O amor é combativo, mas não agressivo! É ativo, mas pacífico! É
enérgico, mas suave!
O amor para ser saudável deve ter dignidade, autoestima. Mas
para ser pleno, não pode ter orgulho nenhum!
O amor, por amor a quem ama, busca melhorar-se todos os dias,
para elevar-se em altura e grandeza, sendo sempre mais digno do ser amado!
O amor só descansa com a perfeição, por isso está sempre à
procura… Só se satisfaz com a felicidade, por isso quer sempre mais!
O amor está sempre perto do coração amado, mesmo que este esteja
trancado, mesmo que esteja distante! Está perto, nem que seja por uma prece
ardente e por um pensamento constante!
O amor quando nasce é uma flor cheia de perfumes e cor, com
ilusões de primavera! Mas quando amadurece, é fruto doce, sem ornamentos,
alimento perene!
O amor, quanto mais se asserena, mais conquista; quanto mais se
desapega, mais se aproxima do ser amado!
Não há um só dia em que o amor não dedique um serviço, um
pensamento, uma prece, um algo, em favor de quem ama! Mesmo à distância, mesmo
oculto!
O amor desfaz todas as tragédias, desanuvia todas as angústias,
cura todos os desequilíbrios, harmoniza todas as almas… O tempo tudo refaz,
regenera, reergue, sublima… Só o que sobra para sempre é o amor!
Nada mais doce que um olhar de amor trocado, nada mais
confortador que uma vibração de amor permutada. Nada mais apaziguante que uma
comunhão de pensamento elevado, projetado para o infinito!
O amor inventa sempre novos caminhos, não se conforma com
obstáculos… Caminhos que chegam ao coração, caminhos que levam ao céu!
O amor sempre encontra um ponto de equilíbrio, um consenso
confortável, uma sintonia fina… E o arremate das piores situações será sempre
uma costura de bom gosto!
O amor é delicado como uma flor, forte como uma rocha, vasto
como o universo! Por isso, não cabe apenas no corpo, não cabe apenas numa vida!
É necessário que seja infinito! Lógico que seja eterno!
O amor pode se melhorar, pode se elevar, se transformar, se
sublimar… Perder sensualidade e ganhar asas; desfazer-se do feminino e do
masculino e ser divino… O amor pode até ficar guardado por um tempo até a
próxima esquina da vida… Mas se for amor, nunca termina.
O amor está sempre conectado com o ser amado. Lê seu olhar,
percebe sua alma, capta seu coração. O amor é lúcido, desperto, vidente. Não
para controlar, tomar posse, mas para estar ao lado, estar dentro, estar em
ressonância. A postos para proteger, servir, ajudar e se ofertar.
O amor se entrega inteiro, confia, se abre. Mas sem deixar de
ser reto nos princípios, elevado nos propósitos, correto na ação
Podem surgir desavenças, o amor as supera! Podem se erguer
ofensas, o amor as perdoa! Podem se formar mágoas, o amor as desfaz! Para o
amor, qualquer sombra é tempestade passageira e a bonança volta sempre a
brilhar!
Não há dor que o amor não cure! Não há mal que o amor não
desmanche! Não há escuridão que o amor não ilumine! Não há queda que o amor não
restaure! E seu único aliado é o tempo. Por isso, o amor é infinitamente
paciente
O amor tem que tornar melhor quem ama e quem é amado. Se não
torna (ou se torna pior) não é ainda amor.
O amor pode se sentir impotente, rejeitado, diante de um coração
trancado, ensimesmado numa concha de solidão! Mas então, o amor tem sempre que
continuar amando, aguardando brechas de entrada, uma estrada, um clarão… E
pouco a pouco se abre o outro coração!
O amor pleno sereno, inteiro, é aquele que percebe cada sutil
necessidade, cada mensagem calada, cada aceno do ser amado. Percebe, compreende
e age. Mas é preciso caminhar muitos séculos juntos, é preciso se desfazer de
muitos egos para que o amor seja assim.
Quando o amor está presente, nenhum dia passa inútil e cada
problema revela uma lição!
Quando não é compreendido, o amor compreende mil vezes, até que
o outro alcance a compreensão!
O amor nada faz de banal, não fica na superfície, não age com
leviandade. Por isso desmancha o mal e lida com a verdade. Por isso não é
mesmice e com energia e meiguice se lança na eternidade!
Nem tudo o que sabe, o amor fala, porque não faz falta. Nem tudo
o que faz o amor fala, porque não se exalta. Nem tudo o que dói o amor fala,
sem mágoa incauta. E quando o amor cala, sua luz brilha mais alta!
Amar, amar, amar é a única maneira de ir se esquecendo de si! E
quando se esquece completamente, o amor encontra Deus!
O amor ensina, sem ofuscar e aprende, com gratidão!
Quando se está possuído de amor, os pés andam mais leves, o
coração alado e o ar mais rarefeito. Mesmo que às vezes, pesem a caminhada, o
coração e o ar, logo tudo se desanuvia e o céu claro logo de novo se anuncia!
Entender como o outro expressa amor e saber fazer chegar ao
outro o nosso amor é alcançar o milagre da comunicação.
O amor não precisa ter medo de amar mesmo que o outro não ame,
mesmo que o outro ame menos. O amor não precisa ter medo de amar o diferente, o
oposto, o desaprovado, o endurecido… Pois o amor transpõe qualquer barreira e
um dia alcançará a plena comunhão!
O amor saberá tornar a franqueza tão doce, que não fira… Saberá
usar a crítica com tanto acolhimento que não afaste… O amor não faltará jamais
à verdade mas não há de buscar seus interesses e não a vestirá como arma,
sendo-lhe ao invés uma túnica sutil!
O amor não se deixa aprisionar pela rotina seca do cotidiano! Ao
invés, resgata a flor, a poesia, o sorriso e o toque suave das mãos!
Quantos espinhos o amor precisa colher na terra, por breves
momentos de sintonia plena! Mas sempre esperando a certeza de uma eternidade de
comunhão!
Quando o amor é muito grande e se vê no inferno, não desiste,
resiste, insiste, mesmo triste! E de salto em salto (porque se sabe eterno) se
faz fraterno e afinal se dilata tanto, regado a pranto, que se alcança materno!
Quando o amor nasce materno, doce, sem nuvens, já nasce eterno,
mas não evita a luta, a labuta… Então precisa apenas secar o pranto, aceitar as
penas e de alma enxuta, persistir para sempre, como anjo sem desencanto!
O amor restaura pacientemente o que se quebrou. Dá asas aos que
se arrastam, fazendo de vermes borboletas, fazendo de homens, anjos.
O amor não se agasta, não se gasta, nunca se afasta e só doar-se
já lhe basta.
A colheita do amor é farta, exuberante, ensolarada. Alimenta e
conforta. Quando vem, falta nada. Apenas um pleno bem escancara a porta.
Quando não se cobra, o amor dá de sobra. Quando não se apega, o
amor transborda pleno, doce e sereno. Quando se respeita e nenhum ciúme à
espreita e quando se entrega inteiro, sem medidas, floresce singelo, campestre,
como margaridas.
Amar sem posse é amar mais. Amar melhor. Amar em paz. Amar sem
desejo de nada, recebendo o que se deseja, de mão sobeja.
Por Dora Incontri
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