JEZIEL(ESTEVÃO)
Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita - janeiro/2004
Em Atos dos Apóstolos, a primeira referência que é feita a Estêvão, se encontra no cap. 6, v. 5 e seguintes, ao relatar a escolha dos diáconos (aqueles que servem) para a Igreja de Jerusalém (Casa do Caminho), figurando o seu nome em primeiro lugar, na lista dos sete escolhidos.
Emmanuel, no entanto, ao enfocar a saga de Paulo de Tarso, inicia a sua maravilhosa narrativa, com a história da família de Jochedeb ben Jared, no ano 34, que se constituía do pai, Jochedeb, a filha Abigail, de 18 anos e Jeziel, no vigor dos seus 25 anos de idade.
Naquele ano, o representante de César em Corinto, Licínio Minúcio, lhes tomou a propriedade e destroçou a família. O pai morreu açoitado diante dos dois filhos. Abigail foi socorrida pelas generosas mãos do casal Zacarias ben Anan e sua esposa, que haviam acabado de sofrer a morte do filho, e foi viver, em uma granja, na estrada de Jope. Jeziel, após sofrer bárbara tortura por espancamento, foi recolhido à prisão e encaminhado, transcorridos mais ou menos 30 dias, para o serviço das galeras romanas.
"Sua formação moral resistiu heroicamente à dureza das novas condições. Não se deixou vencer pelo desespero nem pelo ódio, impondo voluntariamente sua autoridade moral, não apenas aos companheiros de infortúnio, mas até mesmo ao feitor." (1)
O ilustre romano Sérgio Paulo, que se encontrava a bordo, em missão política, adoeceu gravemente. Abriu-se seu corpo em chagas, de tal forma que nem seus amigos o desejaram tratar. A incumbência foi dada ao jovem escravo Jeziel.
À conta de suas preces e seus cuidados, a autoridade romana se restabeleceu, enquanto o escravo manifestou a mesma enfermidade.
Grato pelo cuidado de Jeziel, Sérgio Paulo conseguiu se opor ao comandante do barco que o desejava jogar ao mar, para evitar a contaminação, e o deixou em terra, na costa da Palestina, munido de uma bolsa de dinheiro.
Depois de ter dado a bolsa a um homem que o encontrou, o jovem israelita mereceu dele a misericórdia de ser conduzido à casa de um tal Efraim, que o levou à Casa do Caminho, em Jerusalém.
Recebido pelo generoso coração de Pedro, foi tratado e curou-se. Logo mais, abraçaria a nova fé e, por sugestão do próprio Pedro, adotaria o nome grego, tanto para resguardar-se de ser identificado, criando dificuldades ao romano que lhe concedera a oportunidade de uma nova vida, quanto para demarcar a nova fase de sua vida em Cristo: Estêvão.
Rapidamente, Estêvão se integrou na vida da comunidade cristã, passando a servir à causa com todas as suas forças. Breve, se tornou uma das figuras de destaque na Casa do Caminho, pelas suas faculdades curadoras e inspirada pregação.
O seu primeiro encontro com o futuro Apóstolo dos Gentios se deu na própria Casa do Caminho, quando Saulo ali esteve, levado por Sadoc que o desejava liderando uma campanha contra "aqueles homens", cujo prestígio crescia em Jerusalém.
Saulo ameaçou Estêvão com a autoridade do Sinédrio, mas o pregador não se atemorizou. Para ele, não havia autoridade maior que a de Deus.
Convidado ao debate, no Sinédrio, escusou-se, dizendo que esse era contrário aos ensinos de Jesus. Denunciado formalmente, então, por amigo de Saulo, compareceu perante o Tribunal, sozinho.
O interrogatório foi presidido pelo próprio Saulo que, vencido pela serenidade e paz que descobriu em Estevão e sua convicção inabalável em Jesus, acabou por se deixar dominar pela cólera e o esbofeteou, repetidas vezes.
A sentença final foi a morte por apedrejamento, após quase dois meses, período em que Estêvão foi mantido em regime carcerário.
No dia marcado para o apedrejamento, foi conduzido às proximidades do altar dos holocaustos, no Templo. Apresentava equimoses nas mãos e nos pés. O passo tardio demonstrava cansaço. A barba estava crescida e maltratada.
Após a leitura das acusações, antes de pronunciar a sentença, Saulo perguntou-lhe se estaria disposto a abjurar, com o que teria preservada sua vida.
A resposta desassombrada do moço de Corinto foi de que nada no mundo o faria renunciar à tutela de Jesus. Morrer por Ele significava uma glória.
O tumulto foi geral. Fariseus exaltados o arrastaram, puxaram-no pela gola, e não fosse a intervenção enérgica de força armada, ele seria estraçalhado pela multidão furiosa.
Com o auxílio de um legionário romano, recompôs as vestes sujas e rotas, acima dos rins, para não ficar inteiramente nu. Algemado a um tronco, com os pulsos sangrando, pela grosseria dos soldados, sob o sol abrasador das primeiras horas da tarde, começou o apedrejamento.
Os executores da sentença eram os representantes das sinagogas das cidades que convergiam ao Templo. Despindo seus mantos brilhantes e enfeitados, entregando-os a Saulo, eles se esmeraram em poupar a cabeça do condenado, a fim de que o espetáculo durasse mais tempo.
Estêvão pensa em Jesus e ora. O peito se cobre de ferimentos e o sangue flui, abundante. Ele recita o Salmo XXIII de Davi: "O senhor é meu pastor...Nada me faltará..".
Sentindo a presença de seus amigos espirituais exclama, o que os Atos, no cap. 7, vers. 56, registrou: "Eis que vejo os céus abertos e o Cristo ressuscitado na grandeza de Deus!"
Recorda a irmã Abigail. Por onde andaria? Que teria sido feito dela? Nunca mais a encontrara.
Abigail, noiva de Saulo, e por ele convidada para assistir a execução chegava naquele instante. Demorara-se em vir porque não desejava presenciar o espetáculo vil. Instara mesmo junto a Saulo se não poderia ser outra a sentença ao jovem pregador, a respeito do qual o noivo lhe falara.
Surpresa, reconhece o irmão e ele, ante a visão do Cristo que olhava melancolicamente para Saulo, a reconhece igualmente. Já não tem certeza se ela em espírito ali se apresenta ou se é produto de alguma alucinação, pelas dores que o acometem.
A pedido de Saulo, que não entende como se tornara o verdugo do irmão de sua noiva, ele é retirado do poste e conduzido ao gabinete dos sacerdotes.
Tanto quanto pôde, Jeziel resumiu para Abigail sua história e lançou em sua alma as primeiras sementes da Boa Nova.
A irmã lhe apresenta o noivo, Saulo, a quem o moribundo contempla sem ódio e acentua:
"- Cristo os abençoe... Não tenho no teu noivo, um inimigo, tenho um irmão... Saulo deve ser bom e generoso, defendeu Moisés até ao fim... Quando conhecer a Jesus, servi-lo-á com o mesmo fervor... Sê para ele a companheira amorosa e fiel." (3)
A cena é comovedora. Abigail deixara o irmão preso ao poste de martírio em Corinto uma vez e torna a encontrá-lo, em idêntica condição, em Jerusalém.
Ora, a pedido dele, conforme o fizera, um dia, na sala de torturas. Ele desencarna, em seu regaço.
Mais tarde, quando o Apóstolo dos Gentios rogou socorro a Jesus, pois sentia que a tarefa estava se tornando maior do que a pudessem suportar as suas forças, a doce voz do Mestre lhe diria: "...o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida." (5)
Paulo não poderia estar presente em todas as novas comunidades, mas poderia escrever. Para tanto, Estêvão ficaria agora mais junto dele, transmitindo os pensamentos de Jesus. Seria o intermediário entre o Cristo e o Apóstolo.
Seria ainda Estêvão que, ao lado de Jesus, e de Abigail (desencarnada pouco depois do irmão, acometida de febre) viria receber Paulo, liberto dos laços da carne, consumada a sua decapitação.
Estêvão abraça o antigo perseguidor, agora Servidor de Jesus, com efusão.
"E assim unidos, ditosos, os fiéis trabalhadores do Evangelho da redenção seguiram as pegadas do Cristo, em demanda às esferas da Verdade e da Luz..." (4)
Bibliografia:
01.MIRANDA, Hermínio C. O homem e a obra. In:___. As marcas do Cristo. Rio[de Janeiro]: FEB, 1979. v. 1, cap. 2.
02.PEREIRA, Yvonne A. Estêvão. In:___. Cânticos do coração. Rio de Janeiro: CELD, 1994. cap. 1.
3.XAVIER, Francisco Cândido. In:___. Paulo e Estevão. Pelo espírito Emmanuel. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. 1, cap. 1 a 10.
04.______. Ao encontro do Mestre. Op. cit. pt. 2, cap. 10.
05.______. As epístolas. Op. cit. pt. 2, cap. 7.
Em Atos dos Apóstolos, a primeira referência que é feita a Estêvão, se encontra no cap. 6, v. 5 e seguintes, ao relatar a escolha dos diáconos (aqueles que servem) para a Igreja de Jerusalém (Casa do Caminho), figurando o seu nome em primeiro lugar, na lista dos sete escolhidos.
Emmanuel, no entanto, ao enfocar a saga de Paulo de Tarso, inicia a sua maravilhosa narrativa, com a história da família de Jochedeb ben Jared, no ano 34, que se constituía do pai, Jochedeb, a filha Abigail, de 18 anos e Jeziel, no vigor dos seus 25 anos de idade.
Naquele ano, o representante de César em Corinto, Licínio Minúcio, lhes tomou a propriedade e destroçou a família. O pai morreu açoitado diante dos dois filhos. Abigail foi socorrida pelas generosas mãos do casal Zacarias ben Anan e sua esposa, que haviam acabado de sofrer a morte do filho, e foi viver, em uma granja, na estrada de Jope. Jeziel, após sofrer bárbara tortura por espancamento, foi recolhido à prisão e encaminhado, transcorridos mais ou menos 30 dias, para o serviço das galeras romanas.
"Sua formação moral resistiu heroicamente à dureza das novas condições. Não se deixou vencer pelo desespero nem pelo ódio, impondo voluntariamente sua autoridade moral, não apenas aos companheiros de infortúnio, mas até mesmo ao feitor." (1)
O ilustre romano Sérgio Paulo, que se encontrava a bordo, em missão política, adoeceu gravemente. Abriu-se seu corpo em chagas, de tal forma que nem seus amigos o desejaram tratar. A incumbência foi dada ao jovem escravo Jeziel.
À conta de suas preces e seus cuidados, a autoridade romana se restabeleceu, enquanto o escravo manifestou a mesma enfermidade.
Grato pelo cuidado de Jeziel, Sérgio Paulo conseguiu se opor ao comandante do barco que o desejava jogar ao mar, para evitar a contaminação, e o deixou em terra, na costa da Palestina, munido de uma bolsa de dinheiro.
Depois de ter dado a bolsa a um homem que o encontrou, o jovem israelita mereceu dele a misericórdia de ser conduzido à casa de um tal Efraim, que o levou à Casa do Caminho, em Jerusalém.
Recebido pelo generoso coração de Pedro, foi tratado e curou-se. Logo mais, abraçaria a nova fé e, por sugestão do próprio Pedro, adotaria o nome grego, tanto para resguardar-se de ser identificado, criando dificuldades ao romano que lhe concedera a oportunidade de uma nova vida, quanto para demarcar a nova fase de sua vida em Cristo: Estêvão.
Rapidamente, Estêvão se integrou na vida da comunidade cristã, passando a servir à causa com todas as suas forças. Breve, se tornou uma das figuras de destaque na Casa do Caminho, pelas suas faculdades curadoras e inspirada pregação.
O seu primeiro encontro com o futuro Apóstolo dos Gentios se deu na própria Casa do Caminho, quando Saulo ali esteve, levado por Sadoc que o desejava liderando uma campanha contra "aqueles homens", cujo prestígio crescia em Jerusalém.
Saulo ameaçou Estêvão com a autoridade do Sinédrio, mas o pregador não se atemorizou. Para ele, não havia autoridade maior que a de Deus.
Convidado ao debate, no Sinédrio, escusou-se, dizendo que esse era contrário aos ensinos de Jesus. Denunciado formalmente, então, por amigo de Saulo, compareceu perante o Tribunal, sozinho.
O interrogatório foi presidido pelo próprio Saulo que, vencido pela serenidade e paz que descobriu em Estevão e sua convicção inabalável em Jesus, acabou por se deixar dominar pela cólera e o esbofeteou, repetidas vezes.
A sentença final foi a morte por apedrejamento, após quase dois meses, período em que Estêvão foi mantido em regime carcerário.
No dia marcado para o apedrejamento, foi conduzido às proximidades do altar dos holocaustos, no Templo. Apresentava equimoses nas mãos e nos pés. O passo tardio demonstrava cansaço. A barba estava crescida e maltratada.
Após a leitura das acusações, antes de pronunciar a sentença, Saulo perguntou-lhe se estaria disposto a abjurar, com o que teria preservada sua vida.
A resposta desassombrada do moço de Corinto foi de que nada no mundo o faria renunciar à tutela de Jesus. Morrer por Ele significava uma glória.
O tumulto foi geral. Fariseus exaltados o arrastaram, puxaram-no pela gola, e não fosse a intervenção enérgica de força armada, ele seria estraçalhado pela multidão furiosa.
Com o auxílio de um legionário romano, recompôs as vestes sujas e rotas, acima dos rins, para não ficar inteiramente nu. Algemado a um tronco, com os pulsos sangrando, pela grosseria dos soldados, sob o sol abrasador das primeiras horas da tarde, começou o apedrejamento.
Os executores da sentença eram os representantes das sinagogas das cidades que convergiam ao Templo. Despindo seus mantos brilhantes e enfeitados, entregando-os a Saulo, eles se esmeraram em poupar a cabeça do condenado, a fim de que o espetáculo durasse mais tempo.
Estêvão pensa em Jesus e ora. O peito se cobre de ferimentos e o sangue flui, abundante. Ele recita o Salmo XXIII de Davi: "O senhor é meu pastor...Nada me faltará..".
Sentindo a presença de seus amigos espirituais exclama, o que os Atos, no cap. 7, vers. 56, registrou: "Eis que vejo os céus abertos e o Cristo ressuscitado na grandeza de Deus!"
Recorda a irmã Abigail. Por onde andaria? Que teria sido feito dela? Nunca mais a encontrara.
Abigail, noiva de Saulo, e por ele convidada para assistir a execução chegava naquele instante. Demorara-se em vir porque não desejava presenciar o espetáculo vil. Instara mesmo junto a Saulo se não poderia ser outra a sentença ao jovem pregador, a respeito do qual o noivo lhe falara.
Surpresa, reconhece o irmão e ele, ante a visão do Cristo que olhava melancolicamente para Saulo, a reconhece igualmente. Já não tem certeza se ela em espírito ali se apresenta ou se é produto de alguma alucinação, pelas dores que o acometem.
A pedido de Saulo, que não entende como se tornara o verdugo do irmão de sua noiva, ele é retirado do poste e conduzido ao gabinete dos sacerdotes.
Tanto quanto pôde, Jeziel resumiu para Abigail sua história e lançou em sua alma as primeiras sementes da Boa Nova.
A irmã lhe apresenta o noivo, Saulo, a quem o moribundo contempla sem ódio e acentua:
"- Cristo os abençoe... Não tenho no teu noivo, um inimigo, tenho um irmão... Saulo deve ser bom e generoso, defendeu Moisés até ao fim... Quando conhecer a Jesus, servi-lo-á com o mesmo fervor... Sê para ele a companheira amorosa e fiel." (3)
A cena é comovedora. Abigail deixara o irmão preso ao poste de martírio em Corinto uma vez e torna a encontrá-lo, em idêntica condição, em Jerusalém.
Ora, a pedido dele, conforme o fizera, um dia, na sala de torturas. Ele desencarna, em seu regaço.
Mais tarde, quando o Apóstolo dos Gentios rogou socorro a Jesus, pois sentia que a tarefa estava se tornando maior do que a pudessem suportar as suas forças, a doce voz do Mestre lhe diria: "...o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua vida." (5)
Paulo não poderia estar presente em todas as novas comunidades, mas poderia escrever. Para tanto, Estêvão ficaria agora mais junto dele, transmitindo os pensamentos de Jesus. Seria o intermediário entre o Cristo e o Apóstolo.
Seria ainda Estêvão que, ao lado de Jesus, e de Abigail (desencarnada pouco depois do irmão, acometida de febre) viria receber Paulo, liberto dos laços da carne, consumada a sua decapitação.
Estêvão abraça o antigo perseguidor, agora Servidor de Jesus, com efusão.
"E assim unidos, ditosos, os fiéis trabalhadores do Evangelho da redenção seguiram as pegadas do Cristo, em demanda às esferas da Verdade e da Luz..." (4)
Bibliografia:
01.MIRANDA, Hermínio C. O homem e a obra. In:___. As marcas do Cristo. Rio[de Janeiro]: FEB, 1979. v. 1, cap. 2.
02.PEREIRA, Yvonne A. Estêvão. In:___. Cânticos do coração. Rio de Janeiro: CELD, 1994. cap. 1.
3.XAVIER, Francisco Cândido. In:___. Paulo e Estevão. Pelo espírito Emmanuel. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2002. pt. 1, cap. 1 a 10.
04.______. Ao encontro do Mestre. Op. cit. pt. 2, cap. 10.
05.______. As epístolas. Op. cit. pt. 2, cap. 7.
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