Um
dos mais graves problemas humanos está na dificuldade de convivência no lar.
Pessoas que enfrentam desajustes físicos e psíquicos tem, não raro, uma
história de incompatibilidade familiar, marcada por freqüentes conflitos.
Há
quem resolva de forma sumária: o marido que desaparece, a esposa que pede
divórcio, o filho que opta por morar distante.
Alguns
espíritas utilizam o conhecimento doutrinário para curiosas racionalizações:
-
Minha mulher é o meu carma: neurótica, agressiva, desequilibrada. Que fiz de
errado, meu Deus, para merecer esse "trem"?
-
Só o Espiritismo para me fazer tolerar meu marido. Agüento hoje para me livrar
depois. Se o deixar agora terei que voltar a seu lado em nova encarnação. Deus
me livre! Resgatando meu débito não quero vê-lo nunca mais!
Espíritos
que se prejudicaram uns aos outros e que, não raro, foram inimigos ferozes,
reencontram-se no reduto doméstico.
Unidos
não por afetividade, nem por afinidade, e sim por imperativos de reconciliação,
no cumprimento das leis divinas, enfrentam inegáveis dificuldades para a
harmonização, mesmo porque conservam, inconscientemente, a mágoa do passado.
Daí as desavenças fáceis que conturbam a vida familiar. Naturalmente situações
assim não interessam à nossa economia física e psíquica e acabam por nos
desajustar.
Importante
considerar, todavia, que esses desencontros são decorrentes muito mais de nosso
comportamento no presente do que dos compromissos do pretérito. Não seria
razoável Deus nos reunir no lar para nos agredir e magoarmos uns aos outros.
É
incrível, mas somos ainda tão duros de coração, como dizia Jesus, que não
conseguimos conviver pacificamente. Reunamos duas ou mais pessoas numa
atividade qualquer e mais cedo ou mais tarde surgirão desentendimentos e
desarmonia. Isso ocorre principalmente no lar, onde não há o verniz social e
damos livre curso ao que somos, exercitando o mais conturbador de todos os
sentimentos, que é a agressividade.
Neste
particular, o estilete mais pontiagudo, de efeito devastador, é o palavrão.
Pronunciado sempre com entonação negativa, de desprezo, deboche ou cólera, é
qual raio fulminante. Se o familiar agredido responde no mesmo diapasão, o que
geralmente acontece, "explode" o ambiente, favorecendo a infiltração
de forças das sombras. A partir daí tudo pode acontecer: gritos, troca de
insultos, graves ofensas e até agressões físicas, sucedidos, invariavelmente,
por estados depressivos que desembocam, geralmente, em males físicos e
psíquicos.
Se
desejamos melhorar o ambiente doméstico, em favor da harmonização, o primeiro
passo é inverter o processo de cobrança.
Normalmente
os membros de uma casa esperam demais dos outros, reclamando atenção, respeito,
compreensão, tolerância . . . A moral cristã ensina que devemos cobrar tudo
isso sim, e muito mais, mas de nós mesmos, porquanto nossa harmonia íntima
depende não do que recebemos, mas do que damos. E, melhorando-nos, fatalmente
estimularemos os familiares a fazer o mesmo.
Todos
aprendendo pelo exemplo, até o amor. Está demonstrado que crianças carentes de
afeto tem muita dificuldade para amar. Será que estamos dando amor aos
familiares?
Não
é fácil fazê-lo porque somos Espíritos muito imperfeitos. Mas foi para nos
ajudar que Jesus esteve entre nós, ensinando-nos como conviver harmoniosamente
com o semelhante, exercitando valores de humildade e sacrifício, marcados
indelevelmente pela manjedoura e pela cruz.
•
exerça severa vigilância sobre o que fala. Geralmente as desavenças no lar tem
origem no destempero verbal;
•
diante de familiares difíceis, não diga: "É minha cruz!" O único peso
que carregamos, capaz de esmagar a alegria e o bom-ânimo, é o de nossa milenar
rebeldia ante os sábios planos de Deus;
•
elogie as virtudes do familiar, ainda que incipientes, e jamais critique seus
defeitos. Como plantinhas tenras, tanto uns como outros crescem na proporção em
que os alimentamos;
•
evite, no lar, hábitos e atitudes não compatíveis com as normas de civilidade
vigentes na vida social sem respeito pelos companheiros de jornada evolutiva
fica difícil sustentar a harmonia doméstica;
•
cultive o diálogo. Diz André Luiz que quando os companheiros de um lar perdem o
gosto pela conversa, a afetividade logo deixa a família.
Richard Simonetti